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Sob a névoa do tabu

 

Por Natan Novelli

 

Fui à sauna. O cheiro do eucalipto ardendo só não supera o calor trocado dos corpos. Homens enfileirados uns em cima dos outros. Rostos ocultados pela névoa. Névoa que esconde também o pudor de cada um.

 

 

De que forma me defronto mais com a nudez? Estando nu, ou falando sobre? Em tempos em que as pessoas assumem personas na internet, imaginei poder lidar facilmente com a segunda. Mas me engano: minha nudez ficou presa a um espaço-tempo. Já minha descrição, viverá até essa página esmorecer.

 

 

Ainda assim, nada é pior do que a pressão imposta pela sociedade. O corpo, que na Antiguidade era exposto até em competições esportivas, tornou-se, por interdições religiosas, animalesco e vergonhoso. Em outras palavras, proibido. Isso foi o que me disse Julio Simões, professor doutor de Antropologia da FFLCH. Curioso. Obrigaram-me a vestir roupas em busca do civilizado, mas o encontrei talvez de forma mais sincera estando pelado.

 

 

Um senhor, com seus 60 anos, se aproxima: “Vem sempre aqui?”. Era minha primeira vez numa sauna. Foi reconhecer a fachada que meu coração disparou. Por que será? Nunca tive pudor em andar nu com a minha família. O que fazia desses homens diferentes?

 

 

“Aqui parece as saunas finlandesas originais, bem calmas”. Ele estava enrolado numa toalha branca, e o volume se fazia numa trouxa. Vários homens entravam e saíam da sala. Alguns nus, outros com a mesma trouxa. Uns ao relento, outros com mais reserva.

 

 

Censurava-me contra o animalesco? Ainda que isso fosse verdade, a naturalidade das conversas que ali aconteciam afastava qualquer impressão de libido alheio.

 

 

Calmo?, questionei. “Existem certas conversas que não poderia ter em ambiente de trabalho, mas aqui posso… com as mesmas pessoas”. ‘Civilizado’, diriam. “Aqui me dispo de corpo e alma”.

 

 

Censurava-me contra o vergonhoso? Sob a luz da ducha, percebi algumas estrias no senhor. Eu, com as minhas. Pois é, já é senso comum pensar que despidos, não somos feios, somos todos iguais. Mas vou além: seja na transa, na admiração ou nas marcas, a nudez aproxima.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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