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Palmada de dois gumes

 

Por Luis Henrique Franco

 



“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.” Há alguns anos, seria perfeitamente aceitável bater em um filho para corrigir uma ação inadequada. Foi assim que gerações de pais e avós foram ensinadas. Pela mão, pelo chinelo, pelo cinto de seus pais, eles foram educados.

Para a educadora Jamile Coelho, a educação recebida é transmitida para os filhos. “Os pais costumam repetir os hábitos de seus pais”. Antônio Carlos, 52 anos, um homem comum, que todo domingo vai jogar bola em um clube, parece se enquadrar nesse hábito. Educado através da palmada, admite ter usado da mesma técnica para corrigir e educar seus filhos, e vê os métodos de apenas sentar e dialogar com eles, como pouco efetivos, pois é muito difícil hoje em dia um filho ouvir ou buscar as orientações dos pais por si só. “Você fala duas, três, quatro vezes uma situação, e ela repete, começa a te enfrentar, começa a querer colocar a opinião dela antes da sua”.

E essa educação não vem apenas dos pais. André Ribeiro, analista de projetos de 32 anos, pai de três filhos, possui em sua vida uma rigorosa educação religiosa. Mesmo sendo jovem e possuindo na fala um estilo mais informal e descontraído, a tradição do Livro molda seu pensamento, no qual a palmada é sim um método válido de educação. “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina”, dizem os Provérbios. André vê que as palmadas de seus pais eram sempre porque ele próprio aprontava bastante, e afirma não ter nem a metade de rigidez que seu pai tinha.

Mas o mundo onde essa punição era algo normal já passou e, embora alguns ainda resistam, a sociedade caminha para uma solução que não envolva a agressão ao filho. Jamile Coelho afirma que a conversa e a educação emocional são saídas melhores. E, para muitos dos pais mais jovens que, na sua infância, conviveram com punições físicas, o meio buscado também é sempre outro.

Fernando Guifer, jornalista e pai de 32 anos, fundador do grupo Pai de Menina, que atua no auxílio a pais com dúvidas na criação de seus filhos, oferecendo conselhos para a sua melhor criação, apanhava da avó com frequência, sentia dor e não recebia nenhuma justificativa, e hoje vê o quão desnecessário esse tratamento foi para a sua formação. . Mariana Pereira, mãe de um menino, tem, além de sua experiência na infância, onde apanhou tanto da mãe quanto do pai, que lhe causava mais medo, sua formação como pediatra, que a fez pensar que a violência não faz a criança ver seu erro, mas apenas a ensina a responder com violência.

Mesmo André, que vê o castigo como algo amparado pela religião e pela sua formação, diz que não é fácil dar uma palmada. Essa ação causa arrependimento remorso de estar fazendo algo que machuca seu filho, causa dor neles. “Corta o coração. Se pensar muito, nem dou”. Esse remorso mexe com os pais, leva eles a falar com os filhos depois, dar uma explicação de porque eles apanharam, mesmo que já saibam. Carrega-se um pesar de não querer bater, mas de não ver outra saída, de se descontrolar, perder a calma. Mudaram-se os tempos. Não tanto a ponto de a palmada ser completamente proibida. Provavelmente nunca veremos esse cenário, visto que ela é, hoje em dia, fruto de um descontrole dos pais. “O filho testa o adulto até o último dos limites. Quando esse é ultrapassado, a palmada costuma ocorrer”, explica Jamile.

Contudo, não há mais uma necessidade de bater. Hoje se opta pelo conversar, educar pelo hábito e pelo respeito. “Explicar porque você está castigando não é fraqueza, mas engrandecimento do pai”, diz Jamile. Quanto mais se busca a comunicação com a criança, melhor ela será capaz de aprender sobre suas responsabilidades sem ter de recorrer à violência para resolver seus problemas.

Fotos: Claire Castelano

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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