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Sen●ci●ên●cia

 

Por Breno Deolindo

 

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A senciência é a capacidade de diferenciar as experiências ruins das boas. É saber evitar as dores e favorecer as alegrias. Ser senciente garante que aprenderemos que o medo de um filme de terror não é das melhores experiências, e que é muito melhor nos deliciarmos com nosso prato favorito. Também pela senciência, descobriremos a dor da primeira injeção, e tomaremos mais cuidado ao correr depois de ralarmos o joelho pela primeira vez.

O termo tem origem do latim sententia que, de acordo com o dicionário Gaffiot, significa “poder dar sua opinião sobre algo”. É também raiz de palavras como “sentir” e “opinião”. Por lidar com sensações, a palavra carrega uma subjetividade que intriga dos linguistas aos biólogos. Talvez seja por isso que no Dicionário Aurélio não consta o verbete, apenas sua adjetivação senciente: que sente; que tem sensações ou impressões.

De acordo com a médica veterinária e estudiosa do assunto Carla Molento, é consenso entre pesquisadores que os seres humanos são sencientes, mas ainda não há uma conclusão no que diz respeito aos outros animais. A discussão é feita em duas grandes vertentes: a comportamental e a neurológica.

Os defensores da primeira acreditam que ter a capacidade de aprender já é suficiente para caracterizar a senciência: há
elefantes que pintam melhor do que muita gente por aí, além de um cavalo que provavelmente conseguiria ser aprovado em matemática. Casos como esses dão suporte a essa vertente, explica Carla.

A mesma lógica é uma das bases para o veganismo, que prega o respeito com todos os seres considerados sencientes. Hoje, Carla conta que os vertebrados já podem ser incluídos nessa categoria, mas ela ainda não possui uma lista definitiva. Por isso, pesquisadores da Ética Animal como
Tom Regan e Marc Bekoff preferem dar o benefício da dúvida, lutando para que os animais recebam tratamentos melhores na pecuária, em testes científicos e no lazer.

Na abordagem neurológica, o buraco é mais embaixo. Os seus defensores baseiam-se no sistema nervoso humano, que ainda é recheado de mistérios. Para eles, o primeiro passo seria compreender como neurônios e nervos se conectam para garantir a senciência humana – só então, seria possível analisar outros animais.

Carla conta que cada sentimento possui diferentes “pré-requisitos” para existir: dor, sede e desconfortos térmicos são sensações simples e presentes em todos os vertebrados. As borboletas no estômago antes de embarcar em uma montanha-russa, ou a gargalhada que sucede uma piada, são emoções complexas, e que precisam de mais aparatos neurológicos para existirem.

Acaba que existem diversas nuances entre o sim e o não para pensar a senciência. De qualquer forma, em meio a tantas teorias e discussões, não é espantoso que consigamos enxergar um pouco de nós mesmos em seres que nos cercam.

Gif: Aline Melo e Mariana Rudzinski

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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