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Kkkkk, cada k é uma lágrima

 

Por Giovanna Querido e Gustavo Drullis

 

Milleniums editada

A geração que tem culpa de tudo – que é acusada de destruir desde a indústria de guardanapos até os relacionamentos monogâmicos. Provavelmente, se alguma coisa começa a dar errado, há 80% de chance da manchete começar com Millennials estão destruindo [insira aqui qualquer coisa]. Quem são esses assassinos? Alguns os classificam como a geração nascida entre o começo dos anos 1980 e o final da década de 2000. Outros tentam ser mais específicos e dizem que são aqueles que nasceram entre 1982 e 1995. De fato, não há um consenso sobre quem são os millennials. O que nos une, no entanto parece ser mais uma experiência de vida do que a data de nascimento — nós já crescemos conectados, junto ao surgimento da internet, e como geração, compartilhamos valores e memes.

Reza a lenda que o arquétipo da geração millennial, também conhecida por Y ou mimimi, se utiliza de memes como uma forma de exprimir o desgraçamento emocional e profissional de suas vidas. Memes: essas imagens, estáticas ou animadas, que geralmente incluem elementos textuais, são produzidas por usuários da internet do mundo todo e compartilhadas viralmente, sempre modificadas, recontextualizadas e ressignificadas. Não raro denotam um certo tom depreciativo e sarcástico, na linha de: queria estar morta; quando penso na minha vida mais de 30 segundos …



Memes são considerados hoje uma ferramenta importante para conhecer a mentalidade e o comportamento social, e investigar formas de participação em ambientes online. Para Douglas Calixto, autor da tese de mestrado Memes na internet: Entrelaçamentos entre Educomunicação, cibercultura e a ‘zoeira’ de estudantes, os memes refletem um fenômeno cultural comunicacional: as pessoas os compartilham porque querem se comunicar. Por isso, eles não passam de mais um gênero do discurso.

Por ser uma forma mais descontraída de falar sobre alguns temas considerados pesados, muitos millennials tratam de saúde mental utilizando memes. Para o pesquisador do Instituto de Psicologia da USP (IP-USP), Lucas Fukue, “fazendo humor,, você faz com que as pessoas te acolham mais fácil (rindo, achando divertido), no lugar de invalidar o seu sentimento (falar que é besteira, que você está louco, que é dramático, que passa e etc).”

Dessa forma, páginas focadas em publicar os chamados memes tristes atraem milhares de jovens utilizadores das redes de todo mundo. É o caso da
Depression Memes 2.0, com cerca de 30.235 likes no Facebook; a Yes, I’m sad com 1.259.365; e mais impactante ainda, a So Sad Today, com 673 mil seguidores no Twitter.


“Fake news: vai ficar tudo bem.”


“Estar vivo é um meme?”

Ao entrar em contato com o email sosadtoday29@gmail.com, da página conhecida por seus tuítes autodepreciativos e extremamentes relacionáveis, obtivemos uma resposta automática padrão. Nela, havia uma mensagem de preocupação – talvez um pouco inesperada – com saúde mental. Além de contar um pouco sobre sua experiência com ansiedade e depressão, a administração da página indica alguns links e dicas de como lidar com a questão. Trata-se de um ciclo: tem dias que estamos bem e outros nem tanto e, para a pessoa responsável pela conta, tirar sarro de si mesma na internet é um dos principais mecanismos para lidar com isso.

Mas como as redes são muito impessoais, há uma desconexão que favorece a sinceridade. Você não sabe quem está do outro lado da tela, confie na gente. Para a psicóloga Ana Luiza Mano, da rede Psicólogos da Internet, trata-se do fenômeno “O efeito da desinibição online”. Cunhado em 2004 pelo psicólogo John Suler, o termo refere-se à facilidade que as pessoas tem de proferir comentários e opiniões na internet. É por isso que as sessões de comentários estão sempre repletas de discursos de ódio. Para Ana, no entanto, nem sempre o termo está associado a expressões negativas. “Muita gente aproveita a rede para explorar outros aspectos da personalidade que na vida presencial mantém ocultos, seja pela necessidade de aceitação social ou pela dificuldade de se abrir e expressar o que sente ou acredita”, diz Mano.

A internet tornou-se, assim, mais um meio para nós, millennials, podermos exprimir nossas angústias e frustrações. “Millennials usam memes e imagens para se expressarem online, assim como os baby boomers conversavam com as pessoas de seus bairros ou do trabalho sobre suas emoções. Eles fazem o mesmo, só que em uma outra plataforma”, diz Amelie Karam, especialista em Millennial Mindset (inserir tradução) e graduada em Estudos de Performance e Cinema da Universidade Loyola, em Nova Orleans.

Só que nós enfrentamos alguns problemas que as gerações anteriores não enfrentaram. A X, dos nossos pais, é reconhecida por ser aquela que batalhou duro para ter — mas só ter — um emprego estável, o carro do ano, a casa própria. Eles fizeram faculdades que não queriam e ficaram em empregos que odiavam. Tudo para que nós, a geração mimimi, pudéssemos seguir nossos sonhos. “Os millennials querem viver a vida de forma completa”, diz Karam, ela mesma pertencente à geração. “Eles querem viver isso agora e não esperar até se aposentarem daqui 40 anos”.

O que a gente não esperava era encontrar barreiras socioeconômicas entre nossos sonhos e a realidade. A MindMiners (empresa de tecnologia especializada em soluções digitais de pesquisa), em parceria com o Centro de Inteligência Padrão, realizou
uma pesquisa com o objetivo de traçar um raio-x dos millennials no país. O estudo contou com uma amostra de 1000 pessoas, entre 18 e 32 anos (ou seja, Geração Y), de todas as regiões do Brasil. Os resultados apontaram que 25% dos millennials brasileiros estão desempregados. Essa porção é quase o dobro da taxa de desemprego do país em 2017, que ficou em 12,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fomos superprotegidos, superestimados e hiperidealizados pelos nossos pais. Só que quando chegamos na casa dos 20 ou até mesmo antes, todas essas ilusões de futuro grandioso, alimentadas durante a infância e adolescência, estão sendo delicadamente esmagadas e colocadas para compostagem. Provavelmente não vamos ganhar um Oscar ou um Nobel, mas o importante é que talvez um meme nosso viralize.



millenials glitter



Montagem fotos: Claire Castelano e Mariana Rudzinski

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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