Celebrado pelos diversos benefícios ao corpo, como melhora da flexibilidade e circulação e desenvolvimento de consciência corporal, o Tai Chi Chuan não é apenas um exercício físico ou uma arte marcial. É uma associação entre prática corporal e mental intimamente articuladas a elementos do pensamento filosófico chinês, abrangendo princípios confucionistas, taoístas e budistas, apontam Angela Soci e Paula Faro, respectivamente diretora e instrutora na Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan em São Paulo.
Ambas seguem o estilo da família Yang, um dos cinco estilos tradicionais da modalidade, caracterizado por “movimentos cadenciados num ritmo único de velocidade, manutenção de alturas e movimentos limpos, sem floreios e pela preocupação com os processos internos que se dão na prática”, comenta Angela.
A ideia de equilíbrio, como a própria expressão Tai Chi pode ser traduzida, é fundamental. Já Chuan designa luta, punho. Praticar o Tai Chi Chuan é buscar equilíbrio num permanente jogo de opostos complementares. Os movimentos exigem soltura e maleabilidade, mas são precisos e firmes. O relaxamento que a prática propicia não é a do descanso e da fuga, mas vem pela concentração e disciplina.
Neste balé marcial, elementos da natureza compõe o nome de movimentos. Empurram-se montanhas ao invés de pneus. E no lugar de chacoalhar cordas, caudas de pássaro se desenham nas mãos. Ao se realizar o movimento, as imagens evocadas por seus nomes ilustram o que o corpo deve fazer, como guias.
Embora os discursos médico e científico sufoquem os aspectos filosóficos da prática, não é algo para se lamentar. Isso colabora para que o público compreenda o que pode esperar da modalidade e mostra aproximação da linguagem tradicional da arte com a academia, abrindo caminho para pesquisas, pondera Angela.
As raízes da prática são mais amplas e não podem ser esquecidas, pois também lhe sustentam. Mas as transformações na forma como é entendida fazem parte do que é o próprio Tai Chi, lembra Paula: algo cuja definição está em constante movimento.