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Please come to Brazil

 

Por Laura Castanho

 

Please come to brazil 3

 

O clichê do fã brasileiro — caloroso, insaciável, devoto incondicional a seus artistas prediletos — tem um fundo de verdade. Afinal, a demanda brasileira por artistas internacionais sempre foi imensa: dos cinco shows com maior público na história, três foram no país.

 

Foi a internet que transformou esse desejo coletivo em uma expressão comum: “Please come to Brazil”, presente há mais de uma década nas caixas de comentários de qualquer vídeo, site ou rede social das bandas estrangeiras.

 

Repetido em massa, o pedido intrigou e divertiu os americanos — os primeiros a usá-lo ironicamente, como meme. Demorou pouco até a internet brasileira reagir e usá-lo com outras conotações. Um uso irônico seria comentar “Please come to Brazil” no vídeo de um artista morto, por exemplo, ou na foto nova de um amigo no Facebook.

 

Em seu uso normal, a expressão tem graça pela insistência extrema e porque, na maioria das vezes, ela não funciona.

 

Mas às vezes dá certo. Pegue o caso de Mariana Neri, uma designer baiana que hoje tem 35 anos. Por estar em outra cidade, ela perdeu o show do Wilco no Rio de Janeiro em 2005, uma banda americana de folk rock que viria a se tornar a sua favorita. Ela imaginou que eles voltariam logo mais.

 

O tempo passou e nada. Em 2012, Mariana cansou de esperar e começou sua própria campanha para trazê-los de volta ao solo nacional. O resultado foi um blog que reproduzia diariamente a mesma pergunta, em maiúsculas: IS WILCO COMING TO BRAZIL? (O Wilco vem pro Brasil?).

 

Foram mais quatro anos até o desejo se concretizar, em 2016. Nesse meio tempo, a campanha ganhou tração na internet e tons de lobby. Ela pôde viajar ao exterior para assistir ao Wilco sete vezes, e aproveitou cada ocasião para falar pessoalmente com os membros da banda e seu empresário para convencê-los a voltar ao país. Graças a ela, brasileiros pelo mundo todo eram vistos distribuindo cartõezinhos verde-amarelos com a pergunta.

 

 

“Era uma loucura, um monte de gente me ligando. Parecia meu aniversário”, diz, lembrando o dia em que a volta da banda foi confirmada. O show não foi menos intenso. “Eu achei que fosse morrer na hora. Eu gritava, eu tremia, eu tava muito histérica.”

 

Enquanto Mariana pedia a vinda do Wilco do computador de sua casa, em 2010, cinco amigos cariocas fundavam uma empresa especializada em concretizar as demandas por artistas internacionais: a Queremos!.

 

Inicialmente pensada como um site de financiamento coletivo de shows, a empresa evoluiu para uma “plataforma de pedidos e análise de demanda”, nas palavras de Pedro Seiler, um dos sócios. Na prática, é um site que concentra e intermedia a negociação com empresários de bandas — especialmente as de pequeno e médio porte, como o Wilco, para as quais vir para o Brasil “era quase impossível” antes da internet. Proporcionalmente, elas saem muito mais caras que uma banda grande.

 

Seiler não quis divulgar números, mas garante que produzir shows internacionais compensa. Esse ano, a empresa organizou um festival próprio, bancado por 5500 pagantes mais patrocinadores.

 

Mas em tempos de incerteza política e dólar alto, nem tudo são flores. O produtor descreveu o processo como “uma odisseia” e “uma batalha”. “A gente sofre, né”, comentou Seiler. “Começa a não fazer sentido para certos artistas, até porque eles têm o mundo inteiro. Então quando o Brasil tá ruim, às vezes a Austrália ou o Japão estão bem.”

 

Pode até ser que estejam. Mas “Please come to Australia” não tem a mesma graça.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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