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Elxs vieram para ficar

 

Por Sabrina Brito

 

os que mais faturam

 

Todos homens e nenhum assumidamente LGBT. Esse é o perfil dos cinco artistas e cinco grupos mais ouvidos do Spotify em 2018, segundo a própria plataforma. A dominância masculina e hétero no mundo da música não é difícil de notar.

 

Contudo, a indústria musical tem, aos poucos, reconhecido a importância das minorias. Em 2019, por exemplo, as vitórias de artistas femininas nos Grammys refletiram de forma inédita a presença de mulheres no meio: 31 cantoras levaram o troféu para casa, número 82% maior do que em 2018.

 

Segundo Eliana da Silva, doutora em música pela USP e cofundadora de um grupo de estudo que foca em mulheres no universo da música, a maior ocupação de espaços por esses grupos minoritários está ligada a uma valorização recente de sua contribuição musical.

 

Um caso interessante é o do Quebrada Queer, grupo de rap da periferia paulista composto por seis homossexuais. Segundo Murillo Zyess, um dos integrantes, a importância do seu trabalho está no empoderamento do público LGBT.  “As pessoas nos dizem que, depois de nos ouvir, se sentem mais fortes e conseguem enfrentar seus medos. Representá-las me emociona e motiva a continuar”, conta. “Não é mais só nosso sonho, é como uma missão.”

 

Mas o processo de mudança será longo. Murillo conta que não é raro receber mensagens homofóbicas que tentam desmotivá-lo, dizendo que o rap é música “de macho”. A discriminação, no entanto, já era esperada. “Sabíamos que íamos ter críticas e que haveria haters, já que o público é majoritariamente masculino. Tivemos que nos impôr duas vezes mais”, relata.

 

O preconceito também pode ser um enorme desafio no meio da música. “Já fui barrada por segurança em show onde ia tocar”, relembra Desirée Marantes, fundadora da gravadora Hérnia de Discos, que só lida com projetos de mulheres. O funcionário, explica, não acreditou que a apresentação seria feita por uma mulher, e confundiu Desirée com uma fã.

 

Marcos Lauro, ex-editor do site da Billboard Brasil, ratifica a complexidade do cenário. “Mulheres e LGBT enfrentam mais dificuldades”, diz. Todavia, ele acredita que essas vozes têm crescido, ainda que timidamente, e que a situação está mudando. Lauro aponta, ainda, que a música é como um espelho da sociedade: quando os preconceitos de uma se dissipam, a outra é proporcionalmente afetada.

 

O empenho das minorias é outro fator que entra na equação. Desirée opina que mulheres têm buscado apoio mútuo e desenvolvido iniciativas que ajudam na formação e capacitação umas das outras, o que tem feito a diferença.

 

Com a diversificação dos artistas que chegam a nós, o público representado por eles fica à vontade para ouvir suas músicas, ir aos seus shows, sentir-se vivos nesse novo mundo musical. “E, para quem não faz parte desses nichos, é importante saber que há cantores que levantam essas bandeiras e por quem eles podem se interessar”, conclui Marcos.

 

“Essas pessoas vieram para ficar”, reitera Eliana da Silva. “E a sociedade ganha com isso porque se torna tolerante, aprende com o diferente.”

 

*Colaboraram com esta matéria:

Desirée Marantes, produtora musical e fundadora do selo Hérnia de Discos

Eliana da Silva, cofundadora do ‘Sonora músicas e feminismos’, grupo de estudo que foca em mulheres no universo da música

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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