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O som da avenida

 

Por Giovanna Costanti

 

Quando finda o carnaval, o Anhembi fica lotado de carros alegóricos debaixo de sol e chuva. A maioria será reutilizada por escolas menores. As fantasias viram recordações para quem passou pela avenida. Quase nada fica intacto até o próximo carnaval. O samba enredo é exceção.

 

Como trilha sonora do desfile, é a conexão entre os componentes na avenida e o público. São seus versos que dão vida e emoção às histórias narradas pelas alas. Juntos, os compositores Flávio Augusto e Luiz Henrique Oliveira levaram a história de Oxum para o Anhembi no desfile Imperador do Ipiranga.

 

Apesar da chuva que ameaçou as apresentações, um público fiel cantou animado o samba enredo, em uma relação íntima com os versos: “Ipiranga é raiz, força para vencer. Laroye, Laroye. O rei do mundo, tua história vou contar. Ê Mojubá, ê Mojubá”.

 

Aficionados por samba, a paixão pelas escolas veio das famílias. Flávio compõe desde 2006, e Luiz foi da bateria para a composição há dois anos. De suas experiências, eles sabem que todo samba que hoje em dia é antológico, saiu da avenida assim.

 

“O samba enredo é 70% do desfile. A harmonia, a bateria, a evolução, todos esses quesitos dependem dele. Se o componente não cantar, não se divertir, a escola perde nota”, explica Luiz.

 

O samba nasce com a sinopse, entregue pelo carnavalesco aos compositores depois que o tema do desfile é decidido. No caso da Império, o refrão veio à cabeça assim que leram a sinopse. Construíram coletivamente, testando formas e rimas. Até um grupo de WhatsApp foi criado para ajudar. “É muito pessoal, uns se dão bem com a melodia, outros com a letra”, explica Flávio. “Sempre buscamos poetizar ao máximo o que vem na sinopse, para ficar gostoso de ouvir”, completa o colega.

 

O samba enredo pode ser encomendado pela escola ou decidido em disputas entre autores, onde fica clara a sua mercantilização. Não à toa, hoje as disputas são cada vez mais caras. Os custos vão da gravação à torcida.

 

Apesar dessa tendência, Luiz reitera que o carnaval nasceu mesmo para traduzir questões sociais para a linguagem popular. De origem negra e periférica, é visto pelos compositores como forma de resistência. Flávio conta que nas comunidades onde existem escolas, os sambas despertam consciências. “Carnaval é quebrar paradigmas, atacar mesmo, botar o dedo na ferida”, diz.

 

Depois da escolha, o samba vai parar na boca do público mais fiel. Aquele frequentador dos barracões, que decora verso por verso nos ensaios, como se a arquibancada também fosse objeto do júri.

 

E mesmo que a Imperador não tenha saído do grupo de acesso neste ano, para os compositores o que vale mesmo é ver suas palavras na boca da povo, encerrando com seus versos o desfile: “Respeite o som do meu tambor. São cinquenta anos de história. Comunidade a cantar. Vem festejar”.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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