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Os elementos X

 

Por Giovanna Simonetti

 

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Aserehe ra de re / De hebe tu de hebere seibiunouba mahabi / An de bugui an de buididipi”. Reconhece? A música “Ragatanga” – e seu refrão “chiclete” – figurou no topo das mais ouvidas nas rádios em 2002 e alavancou o sucesso absoluto e repentino da banda Rouge nacionalmente. Hoje, pode ser que você esteja mais familiarizado com uma canção que exclama: “Ô sol, vê se não esquece e me ilumina / Preciso de você aqui”. “O Sol”, 15 anos mais nova, é o single de maior destaque de Vitor Kley, e estourou tanto que está bem próxima de chegar à marca das 100 milhões de reproduções no Spotify. Mas por que “O Sol” e “Ragatanga” se tornaram um sucesso, e milhares de outras não?

 

Rouge e Vitor Kley concretizaram aquilo que é a obsessão de centenas de artistas: produzir hits. Pode-se dizer que um hit é aquela música que toca bastante nas rádios. Ou que tem números expressivos nas redes sociais e nas plataformas de streaming. Que domina as paradas musicais, charts como os da Billboard, uma das revistas mais influentes da indústria fonográfica — ou mesmo tudo isso junto. Porém, para Marcos Lauro, ex-editor da Billboard Brasil, o critério decisivo é o retorno popular: “No fundo, o que vale mesmo é a repercussão, o que está na boca do povo”.

 

Em meio a tantos termômetros, uma sentença é verdadeira: “Usar fórmulas e ter sucesso não são sinônimos”, aponta Marcos. A mesma receita que leva um artista ao pico pode manter outros milhares no anonimato. Quando “O Sol” saiu da gravadora Midas Music para penetrar nos ouvidos dos brasileiros, ela poderia ter o breve e ingrato destino de tantas outras faixas – e a linha para estourar, às vezes, é muito tênue. “A ‘mágica’ ali foi a letra. Quando o Vitor mostrou, a gente percebeu que tinha potencial”, relata Fernando Prado, produtor que acompanhou a gravação do single. No final das contas, como diz a letra, “Quem ficar, ficou / quem foi vai, vai, vai”.

 

No entanto, há outra forma de contar essa história. Vitor Kley poderia estar ainda entre os anônimos se não fosse descoberto pela Midas Music em 2015 – ou você já ouviu falar de “Caminhos do Hawaii”, faixa lançada pelo artista seis anos antes? O mercado fonográfico é movido a cifras milionárias e os hits são potencializados por ações promocionais, shows, clipes, aparições na televisão e, principalmente, presença no rádio. Luciana Andrade, ex-integrante do Rouge, viveu essa realidade na pele e explica: “Um artista acontece porque tem uma grande assessoria, um grande plano de marketing, um grande investimento”. Mas ela garante que nada acontece se você não tiver uma música grandiosa na manga.

 

Certos aspectos podem aumentar as chances de uma canção bombar. Uma das formas mais certeiras de fazer sucesso, segundo Fernando, é quando uma faixa se transforma em trilha sonora de momentos do dia a dia: a música para a balada, para dirigir, ficar entre amigos. Gabriel Camargo, membro da gravadora Starge, acrescenta que é mais fácil estourar com temas que estão em alta e que geram uma “identificação massiva” – amor e relacionamentos são alguns dos mais clássicos. Por outro lado, segundo um estudo coordenado pela pesquisadora Kelly Jakubowski, da Universidade de Durham, na Inglaterra, músicas otimistas e animadas têm mais chances de ficarem presas em nossas mentes. Parece o caso dos nossos Aserehes e Ô sóis.

 

Pelo lado mais técnico, melodias simples e notas repetidas são mais propensas a estourar, explica Gabriel. O comprimento também influencia: as músicas estão cada vez mais curtas e diretas. Marcos explica que, nos anos 80 e 90, havia uma preocupação maior com a estrutura tradicional da música: introdução, primeira e segunda estrofe e assim por diante. A partir dos anos 2000, muitos dos hits já começam pelo refrão – em “Ragatanga”, ele dá as caras antes dos 40 segundos. Com a internet e suas infinitas ofertas, a tendência é que isso se acentue. “Hoje, se a música não te pega nos primeiros segundos, você muda, porque sabe que existe mais um monte”, revela Luciana.

 

No fundo, o surgimento de um hit é resultado de uma combinação entre a expressão do artista, estratégias de mercado e — por que não? — o acaso. Quem não possui recursos para um plano de marketing depende do caminho mais longo: o boca a boca orgânico. Não é impossível. As redes e seus artistas virais estão aí para provar. Mas são tantas ofertas que, como lembra Luciana, “você precisa trabalhar mais para ser visto”. E se for visto e ecoar pelas rádios do país, fazendo com que os ouvintes repitam ao vento refrões sem sentido algum, é sinal que deu certo: um hit foi criado.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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