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O que o espaço nos reserva

 

Por Bruno Carbinatto e Sabrina Brito

 
Páginas 6 e 7 - claro! Sideral

Imagem: Gabriela Bonin

 

Os astrônomos têm só uma pequena dúvida: o que é o espaço? Você deve pensar em planetas, estrelas e luas — e a resposta não está errada, só muito incompleta. Isso porque tudo o que conhecemos por matéria — aquilo formado por átomos da tabela periódica, como você, uma cadeira e o Sol — constituem, juntos, apenas 5% do chamado universo. O resto é formado pelas chamadas energia escura e matéria escura, cujos efeitos na expansão do universo são detectáveis — mas elas, em si, não são. Ou seja, sabemos que há algo lá fora, só não sabemos o que é.

O futuro da astronomia é complexo e, de certa forma, imprevisível. Mas avanços recentes apontam que estamos perto de descobrir mais sobre a escuridão que nos ronda. As perguntas, no entanto, estão longe de acabar.

Mais do que descobrir o que compõe o universo, é preciso entender ainda como ele surgiu. Apesar de termos avançado nos últimos tempos e de teorias como a do Big Bang serem consolidadas, ainda faltam muitos detalhes. Como costuma formular o astrônomo estadunidense James Trefil, a pergunta que fica é: “por que existe algo ao invés de nada?”.

 

Estamos sozinhos?

Se há 30 anos pensar em aliens era coisa de ficção científica, hoje podemos afirmar que a busca por vida fora da Terra é tema central na ciência astronômica. Nesse ponto, é preciso dividir a área em dois campos bem diferentes.

A astronomia extrassolar busca vida em astros extremamente distantes de nós, tentando identificar planetas ou luas com características similares à da Terra e compatíveis com a vida. É principalmente nesse cenário que se encontra a possibilidade de vida inteligente.

Já para os nossos vizinhos solares, o processo é mais direto: a astronomia está investindo cada vez mais nas missões chamadas landers, em que robôs literalmente pousam nos astros, coletam amostras e as trazem para a Terra para estudo. Além da Lua, que já foi analisada por dessa forma, missões desse tipo estão sendo planejadas para Marte e para algumas luas de Saturno e Netuno, candidatas para abrigar formas primitivas de vida.

 

O grande obstáculo para a maior ambição

Nesse mar de dados e informações, avanços tecnológicos recentes mudaram e devem continuar revolucionando a astronomia no futuro próximo. No espaço, os equipamentos usados ficam cada vez menores e mais leves; na Terra, telescópios são cada vez mais potentes e avanços na área de computação permitem o armazenamento e análise de dados em uma frequência surpreendente. Tudo isso, porém, esbarra naquele que é o maior desafio dos avanços da astronomia: dinheiro. Explorar o espaço é muito, muito caro.

É por isso que a colonização de outros planetas ainda é um desafio. Embora cientistas discordem sobre a factibilidade da empreitada que culminaria na conquista de luas e astros para além da nossa galáxia, todos parecem concordar que colonizar planetas no nosso sistema solar é, sim, possível — mas está longe da atual realidade.

Contudo, a ciência avança a passos largos. “Lembre-se de que, há 100 anos, estávamos começando a entender que as galáxias são objetos fora da Via Láctea, e Einstein estava formulando sua teoria da relatividade”, comenta Antonio Cabrera-Lavers, chefe de operações científicas do Gran Telescopio Canarias, segundo maior telescópio do mundo.

Outra ideia que é consenso entre os especialistas é a de que a curiosidade humana não tem limites, e é isso — em conjunto com o avanço tecnológico — que nos fará continuar vasculhando o universo. Para James Trefil, o ser humano é “uma raça exploradora do espaço por definição”.

 

 

O que está por vir

Afinal, qual será o futuro da relação entre essa espécie inatamente interessada pelo universo e esse tão desconhecido ambiente? Antes de especular sobre isso, afirmam os cientistas, é preciso nos preocupar com o que está mais perto de nós: o bem-estar da Terra. Só se conseguirmos reverter a caótica situação em que se encontra o nosso planeta é que poderemos abrir os horizontes da ciência para de fato explorar o espaço.

Para os mais pragmáticos, como Cabrera-Lavers, a conquista do cosmos pode até despontar como a única chance que a humanidade tem de sobreviver. A fuga do nosso planeta pode ser, diz ele, o modo como evitaremos a nossa própria extinção.

Ainda assim, grandes avanços na investigação do universo podem não representar as enormes mudanças que esperamos que eles signifiquem. De acordo com a perspectiva de Stuart Atkinson, o cosmos será somente um novo pano de fundo para as antigas desavenças humanas. “Transferiremos nossas brigas para lá, com ricos explorando pobres e brigas por recursos naturais. Será um local sujo e duro”, descreve.

Já Sarah Scoles, escritora especializada em ciência, acredita que o temor humano em relação ao que existe lá fora vem da abundância de coisas a se temer na Terra. “Espero que, algum dia, as coisas estejam mais pacíficas e estáveis aqui. Então, o mesmo valerá para o que pensamos sobre o espaço”, conta.

 

Como a ciência chega ao público

Apesar do valor de se buscar respostas para os mistérios da astronomia, pode ser fácil se perder em meio às informações que já possuímos — isso sem falar nos estudos, que estão sempre sendo atualizados e reproduzidos. Como, então, deixar todos a par do que está acontecendo? É esse o papel da divulgação científica.

A importância de escrever artigos sobre o espaço para pessoas sem conhecimento aprofundado sobre o assunto é simples: educar a população sobre o nosso lugar no universo. De acordo com Sarah Scoles, escritora focada em ciência, a meta é popularizar informações de forma simples e em veículos de grande circulação, para que leigos possam aprender sobre o tema sem dificuldade. “Eles não lerão jornais acadêmicos e artigos — e nem deveriam! A escrita científica torna a ciência mais acessível e contextualizada”, opina.

 

Colaboraram

Rosaly Lopes, cientista e vulcanóloga brasileira da NASA

Roberto Costa, astrofísico do IAG com foco em química

John O’Meara, físico norte-americano e cientista-chefe do Observatório Keck, segundo maior do mundo

 

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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