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Falam mais que mil palavras

 

Por Sabrina Brito

 
Ilustração: Thais Navarro

Ilustração: Thais Navarro

Homens perseguindo uns aos outros em cavalos, tiros para todos os lados, piadas que fazem o público gargalhar. Quem assistia a uma dessas cenas em uma sala de cinema até o final da década de 1920 não escutava fala alguma.

 

Até então, filmes mudos eram os únicos disponíveis mundialmente. Esse tipo de arte forneceu aos espectadores uma fonte de entretenimento que divertia e informava sem usar sons — ou pelo menos é o que nos dizem.

 

A verdade é que o cinema nunca foi, de fato, mudo. Nas salas, orquestras tocavam ao vivo para complementar a narrativa mostrada na tela. Alguns países foram mais longe: no Japão, pessoas conhecidas como benshi eram contratadas para narrar o filme para a plateia. Logo, o público não escolhia a sessão por causa da história a que assistiria, e sim de acordo com a agenda de seu benshi preferido.

 

A tecnologia necessária  para sincronizar a voz dos atores com a imagem não demorou a ser inventada, concluída ainda nos anos 1890. Contudo, foi preciso algum tempo para que as plateias se acostumassem com a ideia de filmes falados. Foi só em 1927 que o primeiro filme falado foi apresentado ao público.

 

Assistir a um longa-metragem mudo e a um falado são experiências completamente distintas. Conforme conta Shirley Hughes, diferentes partes da mente são utilizadas quando se vê cada um. “O cérebro está mais engajado quando assiste a um longa mudo. Sem o diálogo para entregar as informações, o cérebro precisa preencher o vazio”, relata.

 

Afinal, quem vê a famosa cena do massacre de civis pelo Exército em “Encouraçado Potemkin” (1925), cheia de tensão e violência, entende como o silêncio pode propiciar momentos importantes de suspense. Talvez, se os sons de marcha dos soldados e os tiros disparados tivessem sido acompanhados por sons, grande parte da aflição produzida pela cena seria dissipada.

 

Segundo Bill Shaffer, para se apreciar filmes sem som, é necessário ter em mente o real objetivo do cinema: narrar uma história de forma visual por meio da cinematografia e da performance. Deve-se lembrar que a fala é — ou deveria ser — secundária na sétima arte.

 

**Se engana quem pensa que o cinema mudo teve fim no século XX. Em 2012, o filme francês “O Artista”, mudo e produzido em preto e branco, levou o prêmio de Melhor Filme do Oscar. O longa evoca uma nostalgia que muito agradou ao público e especialistas. Para Hughes, “talvez os membros da indústria tenham reaprendido que diálogo é desnecessário para contar uma história.”

 

De qualquer modo, com o aumento significativo na população mundial e a popularização do cinema, há mais pessoas assistindo a filmes mudos hoje do que desde o final de sua era. Essa forma de entretenimento é rica no século XXI, pois propicia ao espectador um momento raro: alguns minutos de (relativo) silêncio, sem os já saturados efeitos especiais fantásticos que os estúdios costumam incluir em suas produções.

 

Seja por excentricidade ou por curiosidade, o público atual tem se concentrado mais nos filmes silenciosos. “As plateias voltam porque gostam do que veem”, afirma Shirley Hughes.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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