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Para ouvir a nós mesmos, precisamos antes nos calar

 

Por Gabriela Teixeira

 
Fotografia: Laura Molinari Arte: Thaís Navarro

Fotografia: Laura Molinari
Arte: Thaís Navarro

Qual o máximo de tempo que você, de modo consciente e voluntário, já passou em silêncio? E por quanto tempo acha que conseguiria ficar sem falar nada?

 

A depender da pessoa, a resposta para a segunda pergunta pode variar entre dias e décadas. Porventura, a vida toda. Mas o que leva alguém a abdicar por escolha própria da fala?

 

Para Varno, a decisão veio da vontade de tentar uma nova experiência em sua vivência meditativa. Denominando a si mesmo como “um discípulo do Universo”, ele pratica meditação há 40 anos, por crer que ela “amplia minha percepção de mundo e potencializa minha conexão com a energia cósmica”.

 

Em 2008, porém, ele sentiu a necessidade de participar de algo mais intenso que as atividades fluídas de rotina. Foi quando se inscreveu para a Vipassana. Com mais de 2500 anos de existência, essa técnica de meditação indiana é uma das modalidades mais rigorosas da prática. São 10 dias de retiro, todos com dez horas dedicadas a arte de meditar, intercaladas com pausas para descansos, refeições e uma palestra também diária. Aos participantes, é vetado manter qualquer tipo de contato físico, visual e, acima de tudo, verbal.

 

Varno não viu problemas em cumprir o voto de silêncio. “Eu me propus a participar deste movimento e, se fizesse isso [quebrar o voto], perderia a oportunidade do aprendizado”. Tanto aprendeu que, hoje em dia, faz o que chama de “jejum de palavras” em intervalos de até seis meses, por, no máximo, três dias.

 

Inerente à religiões como hinduísmo e budismo, o silêncio – também chamado de mauna – é considerado o melhor caminho para alcançar o autoconhecimento. “O primeiro passo para enxergar a verdade é fazer silêncio – exterior e interior – e deixar a mente serena, imóvel. Isso permitirá ver de modo mais claro a natureza da mente, o que levará a insights que eventualmente culminarão em uma libertação”, explica o Ajahn (mentor, em tailandês) Mudito, diretor espiritual da Sociedade Budista do Brasil.

 

Além de servir para aprofundar a prática de meditação, como no caso de Varno, o voto pode auxiliar na percepção e resolução de problemas. “Qualquer pessoa pode fazer um voto. A questão é o quanto ele será útil. Não é um passe de mágica, mas algo que deve ser feito com objetivo de desenvolver alguma coisa boa”, continua Mudito.

 

Segundo ele, é preciso ter um propósito prático e claro em mente antes de iniciar o voto e jamais fazê-lo por vaidade, exibicionismo ou como forma de fugir de aborrecimentos. Ao contrário, serve justamente para “tampar as válvulas de escape” que usamos para evitar encarar nossos problemas e permitir a sondagem do que nos faz sofrer. Assim, sua duração e intensidade estão ligadas às circunstâncias pessoais de quem o realiza.

 

E sequer é preciso participar de um retiro para realizar o voto. Por 5 dias, a youtuber Fernanda Vasil passou pela experiência em casa, na tentativa de se conectar mais com seu eu interior. E acredita que funcionou: “Percebi minha mente mais clara. Como se antes ela estivesse cheia de nuvens e no fim em um dia de céu azul.”

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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