Em 2009, ela sentia-se feito peixe fora d’água. Havia desaprendido a se vestir, olhar-se no espelho ou conversar com essa gente que anda apressada pelas ruas. À época, aos 25 anos, abria mão do hábito marrom franciscano, símbolo de uma vida de cuidado aos pobres iniciada aos quase 18, quando então tornou-se Irmã Betânia do Cordeiro de Deus, consagrada da Toca de Assis. Depois de oito anos, voltava a ser Denise. Entrar e sair da fraternidade católica brasileira foram decisões conscientes – até desejosas: “a vida religiosa era o meu paraíso na terra!” – e numa coisa era como se ainda fosse a mesma: tinha de lidar com a dúvida, o medo de desistir no meio do caminho.
Denise passou pelo que chama de “um lento processo de discernimento”, uma espécie de “noite escura” que marcou sua saída e os primeiros meses longe da comunidade. E lembra não ter sido fácil: “Voltar para casa seria doloroso e encarar a rotina da vida comum me assustava muito”. Ela conta ter se refugiado na oração; feito terapia, tomado antidepressivos. Diante de recomeço que não se faz na pressa, ela, depois de quase uma década, olha hoje no espelho e se vê – quase que surpresa: estudante de Direito, cantora católica, esposa, mãe. “Retomar o caminho me custou, mais uma vez, renunciar para recomeçar”.
Entre a desistência e o recomeço, Denise não deixou de escutar, porém, que ato reservado aos “fortes” é o de insistir. Desistir, por outro lado, seria a marca dos “fracos”. A popularidade dessa ideia, para a psicóloga Luciana Szymanski, é fruto de um contexto social onde se espera do outro uma certa “performance existencial”, que não admite desistências porque mede a “rentabilidade” das pessoas. Mas pessoas, a também professora da PUC-SP reforça, não cabem dentro dos ditados generalizantes, construídos tão longe dos bastidores de cada um. “A gente é isso: a gente é possibilidades”, diz.