Entregar-se ao presente é uma tarefa difícil. Na Escola Soto Zen do Budismo, a valorização de todas as ações do cotidiano é fundamento essencial. O simples ato de escutar, sem julgamentos ou intenções, é viver o presente. “É uma prática constante, um exercício de 24 horas, para estar presente no momento em sua totalidade”, esclarece a Monja Zentchu, da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil.
Mas a preocupação com o passado e futuro pode ser tão recorrente que afeta o cotidiano e a saúde mental das pessoas, podendo causar transtornos de ansiedade e até levar à depressão, explica Flavia Pitella, psicóloga e fundadora do projeto social “Terapia Pra Tds”.
Com 34 anos, Sarita Ribeiro está focada no presente e com a certeza de suas ações, mas, para isso, policia constantemente seus pensamentos. Flavia diz ser necessário deixar os pensamentos fluírem sem impedimentos pela mente: “só permitindo que surjam e aprendendo a lidar com o seu ‘vai e vem’ é o que nos propicia nos concentrar no aqui e agora”.
A psicóloga reitera que não existe um manual a ser seguido para viver o presente. É um trabalho diário. A Monja Zentchu também fala sobre o esforço indispensável e a necessidade de assumir cada papel no momento correto: “Quando você está na rua é um pedestre, no seu trabalho é um funcionário. É preciso se concentrar em viver a ação correta no momento correto”.
Segundo Flavia, viver o agora é estar em constante contato com a realidade de nossa existência. “É mais que necessário haver uma reconstrução, o reencontro com o EU de cada um”, afirma. É também sobre isso que a meditação zen budista trata: o autoconhecimento; estar em contato com quem somos. Perceber a transitoriedade da vida e, como aconselha Flavia Pitella, “se deixar ser livre o suficiente para viver o momento presente na sua integralidade, diversidade e profundidade até sua finitude”.