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As várias facetas da embriaguez

 

Por Julia Mayumi e Nathalia Giannetti

 

Centrais

As mesas apoiam copos que se esvaziam de bebida na mesma proporção que o local se enche de risadas. Pessoas reunidas em torno de garrafas que vibram no ritmo das histórias cotidianas. A embriaguez é a barca da pausa na rotina, e o álcool é o rio.

Depois de uma longa semana, não tem nada melhor do que se reunir com os amigos para conversar e beber. No entanto, por mais que o combinado seja dividir a conta do bar – e a quantidade de bebida – igualmente, cada um terminará a noite de um jeito. Seus organismos funcionam de formas distintas, uma vez que todos os pequenos detalhes, como altura, massa muscular, costume de beber e quantidade de hidratação, influenciam em como o álcool será absorvido.

O ambiente é descontraído. Aos poucos, a bebida começa a se espalhar pelo corpo e o hormônio da felicidade, a serotonina, que regula o humor e prazer, é estimulado. Todos as outras mesas parecem relaxadas e alegres, como se não tivessem mais quaisquer preocupações.

No entanto, quanto mais o tempo passa e mais álcool é ingerido, mais o cérebro vai reduzindo suas funções. Com isso, a euforia dá lugar a piscadas longas e uma agitação repentina. Enquanto alguns olham para baixo, melancólicos, outros esbravejam sem qualquer motivo. Não há mais controle emocional e todos aqueles sentimentos escondidos vêm à tona.

Aquela amiga que, às pressas, saiu do trabalho e não pode gastar muito com as porções é a primeira a sentir os efeitos da bebida. Seu estômago vazio facilita a difusão do álcool pelo corpo. Assim quando os outros ainda estão dando risada daquela piada boba, ela já está quase a beira de lágrimas.

Se os efeitos da bebida parassem por aí, só atacando o humor, ainda estaria tudo bem. Mas, conforme as latas de cerveja vão se esvaziando, as capacidades cognitivas são reduzidas. Logo as falas param de fazer sentido, os interlocutores passam a fazer monólogos cruzados.

Mais tarde, todos ririam da conversa – se pudessem se lembrar dela. Não é incomum que alguém sofra de blackout alcoólico, no qual a parte do cérebro responsável por armazenar a memória fica temporariamente prejudicado.

As filas para o banheiro também aumentam. Cada gole de álcool incentiva um pouco mais a liberação da urina. No caminho para o toalete, é fácil notar pessoas cambaleando em direção a uma das portas –  que talvez seja a saída – ou em busca de outra dose.

E nem adianta pedir a alguém por direções; com a fala arrastada, a chance da pergunta ser compreendida ou de se obter uma resposta coerente é mínima. A essa altura da madrugada, a comunicação entre os neurônios já não é mais a mesma e o envio de impulsos nervosos do cérebro para outras partes do corpo está bastante prejudicado.

No dia seguinte

Acordar depois de uma bebedeira é sempre um desafio. A caminhada até o banheiro é lenta. O corpo precisa eliminar o álcool; já se pode esperar que todos os drinks da noite vão embora – por cima ou por baixo. 

Outros parceiros de uma ressaca daquelas são o mal estar e a boca seca, cortesia da desidratação. Com as reservas de energia esgotadas para assimilar a bebida, vem a sensação de fraqueza. Já as náuseas são resultado da irritação no intestino e do estímulo para maior produção dos ácidos digestivos, ambos provocados pelo excesso de álcool.

A ressaca é o jeito que o organismo se recupera das agressões sofridas pelo sistema nervoso. Mas esse é o efeito físico de beber além da conta: o efeito emocional pode ser resumido em uma decisão que dura até o próximo convite ao bar – “nunca mais eu vou beber”.

 

Efeitos no cérebro: atua como depressor do sistema nervoso central. Em menores concentrações aumenta a produção do “hormônio da felicidade”. Porém, quanto maior for sua concentração no sangue, mais prejudicadas deve ficar a cognição

Efeitos no estômago: o álcool libera toxinas, que o corpo tenta eliminar através do vômito e diarréia. Além disso, ele possui ação irritante na mucosa intestinal e aumenta a produção dos ácidos digestivos.

Efeitos nos rins: o álcool atrapalha a atuação do hormônio que regula a quantidade de urina eliminada, possuindo efeito diurético e levando a desidratação

 

0.01 – 0.05 g/ml: aumento do ritmo respiratório e dos batimentos cardíacos, perda da inibição, leve euforia e sensação de relaxamento

0.06 – 0.10: entorpecimento, reflexos mais lentos, dificuldade de coordenação motora, prejuízo da força muscular, redução do discernimento e aumento da sensação de ansiedade e tristeza

0.10 – 0.15: problemas de equilíbrio e movimento, alterações nas funções visuais, fala arrastada e vômito

0.16 – 0.29: consciência reduzida a estímulos externos, prejuízo dos sentidos e da coordenação motora

0.30- 0.39: letargia e perda da consciência (desmaio

0.40 +: inconsciência, parada respiratória e risco de morte

 

Fonte: Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA)  

 

*quantidade de álcool presente no sangue (g /100 ml de sangue). A quantidade de litros de sangue no corpo corresponde entre 7 e 8% do peso em kg 

 

Colaboraram: Alexandre Pedro (psicanalista), Andressa Heimbecher, endocrinologista da SBEM-SP e Alessandra Diehl, vice presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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