Todo estrangeiro de passagem pelo Brasil parece sempre ter duas coisas em comum. O desejo por praia e uma boa cachaça. Tem certas coisas que são assim mesmo. Ultrapassam fronteiras e conquistam uma legião de fãs.
“Caipirinha” parece até palavra obrigatória para garantir o visto brasileiro. Paulista de nascimento, a mistura de limão, gelo, açúcar e cachaça já ganhou até ares de Rússia e Japão.
A famosa cachaça não é mole não. Se aventura pelo país e ganha cores e sabores únicos por onde passa. Nenhum alambique e nenhuma garrafa é igual a outra.
No frio da serra gaúcha, ela atende por outro nome. A Canha seduz pelo seu poder de fogo e disputa lugar com os vinhos na hora de aquecer as noites geladas. E ela não chega só: frutas como o butiá, figo, uva e ervas como o funcho também entram na mistura.
Mas nem só de gargantas que se rasgam ao toque vive a cachaça. Nas terras secas do cerrado ela desce mole, mole pela garganta. A mistura, carinhosamente apelidada de Leite de Onça, leva leite de coco, leite condensado, açúcar e (claro!) cachaça e é servida há muito tempo no Centro-Oeste brasileiro.
Ela parece soberana, mas há quem conteste a majestade da cachaça como a bebida tipicamente brasileira. No Nordeste, a Tiquira tem um argumento forte para clamar o trono: a cana-de-açúcar só chegou ao Brasil com os portugueses.
Aguardente de mandioca, às vezes de coloração azulada, a bebida indígena é cercada por lendas e tradições.
Mas é provável que você não encontre a Tiquira em qualquer prateleira por aí. O método tradicional de produção, normalmente feito em fundos de quintal, dificulta o processo de regulamentação dos produtores, limitando a comercialização da bebida.
Sua prima nortista, a Cachaça de Jambu, teve mais sorte em ganhar adeptos pelo país. A sensação de dormência, fruto dos efeitos anestésicos da folha do jambu, conquista muito mais admiradores que o seu forte sabor.
Aos gringos de passagem, guardem mais essas palavras no vocabulário. E uma última dica: tem quem diga que beijar a pessoa amada depois de uma ou duas doses de Jambu é coisa de outro mundo.
Colaboraram:
Mairê Ferraz, José Paulo (Cooperativa agroindustrial Tiquira Guaribas), Ivaldo Delfino (sócio da Canha Brasil Cachaçaria Ltda), Fátima Silva e Maíra Moraes.