Todo mundo tem uma história sobre comida para contar, e comida de vó está naquela caixinha de memórias e simbolismos que basta uma colherada para atiçar nossos sentidos, despertando aromas, sabores e texturas.
Para a relações públicas Danielle Serrão, lembrar das comidas de sua avó materna é reviver os cinco anos que moraram juntas. “Uma vez tivemos o carro guinchado no meio da estrada e minha vó resolveu fazer um nhoque caseiro para aliviar o estresse”, conta.
“A comida serve como um meio de comunicação entre as pessoas e os povos desde tempos remotos”, explica a nutricionista Natália Simoni, que pesquisa sobre o efeito das emoções na percepção dos sabores e escolha dos alimentos. A escolha pela profissão, teve, inclusive, grande influência dos momentos que passou com sua avó Nena na cozinha.
De acordo com os estudos de Natália, o período da infância é o principal para adquirir essa relação afetiva com a comida e com os hábitos alimentares. Esses hábitos são adquiridos através da feijoada em família, arroz al dente feito pelo pai ou até mesmo a pizza que a mãe pedia quando faltava tempo para cozinhar.
Foi assim com Thomaz de Oliveira e o feijão preto da avó Nininha, por quem foi criado. Quando saiu de casa para morar só, o professor de geografia buscava marmitas de feijão congelado todas as semanas. Ali, encontrava o refúgio para a adaptação à nova vida.
Nessas tentativas de retomar aos sabores da infância, Natália explica que a memória pode pregar peças e que a percepção do gosto é muito influenciada pela emoção. O lado simbólico que um alimento representa é maior do que o sabor dele em si, por remeter a lembranças de tempos vividos, trazendo um certo conforto, ou por reviver algumas experiências.
Essas comidinhas vão além de seguir a receita passo a passo. O acolhimento, carinho, cumplicidade, troca e proteção que a avó coloca no prato não estão à venda. Mas se mantém, nas tentativas, relembrar a infância, acrescentando a saudade, o novo ingrediente.