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Família é tudo igual, só muda o começo

 

Por Jonas Santana e Larissa Vitoria

 

Mesmo antes de ser formalizada como um conceito, a palavra família sempre definiu uma das bases do comportamento social. Um conjunto de pessoas ligadas pela descendência, casamento, ou outros laços de afeto e proximidade que independem da genética formam o núcleo mais imediato de relações dos seres humanos.
Existem os casais sem ou com filhos, as mães solo, as avós que criam os netos e muitas outras possibilidades. Conheça agora histórias de pessoas que escolheram ou foram escolhidas para somar-se aos laços de uma família.

 

Toni Reis e David Harrad

 

Teriam de ser maiores de dez anos e apenas do sexo feminino. Essas foram as regras impostas por um juiz para que Toni Reis e David Harrad pudessem adotar uma criança. Para o casal, que está junto desde 1990, a decisão foi discriminatória e levou a dez anos de lutas nos tribunais pelo direito de constituir uma família. Hoje eles têm três filhos.
A primeira criança, Alyson, adotado aos 10 anos, vinha de uma experiência em abrigos e lares evangélicos e foi um laço difícil de cultivar. Apesar de sua identificação imediata e afeição pelo casal, no início do convívio ele chegou dizer que “tinha nojo de homossexuais”. Foi necessária muita empatia e perseverança dos pais para que, aos 13 anos, sua opinião já estivesse tão mudada a ponto de lançar dois livros sobre a adoção tardia e por casais homoafetivos para que outras crianças pudessem descobrir como foi sua experiência.

 

Rafaela e Mariana

 

Há dois anos, Rafaela escolheu tornar-se mãe dos gêmeos Alice e Pedro, na época com 4 anos. As crianças são filhos biológicos que Mariana Borges, sua esposa, gerou em um relacionamento heteronormativo. “Nós podemos apresentar um outro universo para essas crianças que vai além da obrigação de ser hetero e de cumprir papéis sociais”, é o que pensa Mariana sobre as vantagens de criar seus filhos com outra mulher.
Mesmo que Mariana, que é atriz, já tivesse um vínculo muito forte de mãe biológica, ela e Rafaela, que é diretora de audiovisual, dividem todas as tarefas e o desafio da criação dos filhos. “Não tem essa história de que uma sai para trabalhar e a outra fica em casa, não. Cada uma cuida um pouco e a gente vai se revezando com as crianças”.

 

Ana Karolina Lannes

 

Após o falecimento de sua mãe, a atriz Ana Karolina Lannes, na época com 5 anos, foi adotada pelo tio, que ela considera pai, vivendo junto com o seu padrasto. Conhecida por interpretar Ágata na telenovela Avenida Brasil, Karol, atualmente com 19 anos, revela que o dia em que menstruou pela primeira vez foi um dos vários momentos engraçados que passou ao lado dos seus pais. Segundo ela, foi no mesmo dia do aniversário do seu padrasto e ele ficou muito feliz a ponto de contar para todas as pessoas que estavam no restaurante. “Naquele dia, o que podia acontecer de engraçado, aconteceu”, lembra.
Karol é lésbica e diz que, futuramente, pretende optar também pela adoção por achar que criaria um laço mais forte do que tivesse um filho biológico. “Eu seria muito mais feliz e completa por saber que eu tirei uma criança de uma situação e dei para ela um lar”.


Diego* e Silas*

 

Juntos há 11 anos, o analista sênior Diego e o educador Silas sempre desejaram adotar um filho, mas foi apenas em 2014, um ano após se casarem formalmente, que entraram para lista de adoção. Depois de cinco longos anos, em abril deste ano, surgiu Carlos*.
Eles confessam que tiveram receio de uma possível rejeição do garoto de 6 anos, mas Carlos teve uma rápida adaptação e não demorou para chamá-los de “pai”. Embora formem uma família há pouco tempo, Silas alega que tem sido tudo muito intenso: “Parece que o Carlos* sempre foi nosso filho!”.

 

*Para resguardar a fase final do processo de adoção, os pais optaram por não divulgar seus sobrenomes e utilizar um nome fictício para o filho.

O que a psicologia diz?

 

Durante desenvolvimento de uma criança, não há diferença se ela for criada por um casal homoafetivo ou heteronormativo. Os filhos amadurecem a partir do contato com vários setores sociais, não apenas o núcleo familiar. Assim afirma o pós-doutor em Psicologia pela Universidade de Toronto, Elder Cerqueira-Santos.
O psicólogo realiza uma pesquisa há cinco anos com famílias homoparentais no Brasil e no Canadá, e, de acordo com seus estudos, uma criança não precisa necessariamente da referência de um homem (o pai) e de uma mulher (a mãe) para ter um desenvolvimento sexual saudável.
Impor o modelo de família heteroparental como o único a ser seguido invalida o conceito familiar da criança criada por pai ou mãe solteiros, tios, avós, entre outras possibilidades, e ainda desencoraja pessoas LGBTQ+ a terem filhos, de acordo com Elder. “A gente tem que mudar as pessoas preconceituosas, não o desejo de quem quer ser pai ou mãe”, comenta.

 

Quais direitos eles têm?

 

Para Justiça Brasileira, não existe diferença entre famílias hetero e homoparentais, como avalia o advogado Mario Solimene Filho. Hoje, filhos de famílias compostas por casais homoafetivos podem ser registrados por dois pais ou duas mães e usufruir dos mesmos direitos caso fizessem parte de famílias heteroparentais.
De acordo com o advogado, que é membro da Sociedade Internacional de Direito de Família, essas mudanças ocorreram a partir de 2011 quando o Supremo Tribunal Federal reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. Em direito de família, lembra Mario Solimene, o vínculo afetivo se sobressai ao biológico: “Amor é mais importante do que DNA!”.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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