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Nasceram delas, não pra elas

 

Por Fernanda Teles

 

Eduardo Veríssimo desde pequeno tinha o sonho de ser pai. Mas o caminho até se tornar o primeiro homem a registrar filhos por fertilização apenas em seu nome, no Brasil, não foi tão fácil.
Em 2015, quando resolveu ir atrás do seu desejo, optou por fazer barriga de aluguel fora do país. Primeiro, tentou no Nepal e, dois anos depois, no México. No entanto, durante o procedimento em ambos os países, a Justiça alterou a lei proibindo-a para estrangeiros.

 

Após as frustrações, Eduardo foi pego de surpresa. Em 2017, o Conselho Federal de Medicina brasileiro autorizou a realização da barriga solidária feita por mulheres de até quarto grau de parentesco da pessoa interessada. No caso de mulheres de fora da família, deve-se ter autorização do Conselho Regional de Medicina. Em ambos os casos, é proibido fazê-lo com fins lucrativos.

 

Sabendo do desejo de Eduardo, uma amiga de sua mãe se disponibilizou a ser receptora da fertilização. E, depois de seis tentativas, a caminho do trabalho, ele recebeu o telefonema que dizia que seria pai. De gêmeos.
Fez questão de acompanhar tudo desde o momento em que os embriões foram gerados até o dia do parto. Também fazia questão de conversar com a receptora quase todos os dias.

 

O parto foi um momento inesquecível, apesar de ter demorado para cair a ficha. “Por mais que eu tivesse lá vivendo tudo, ainda não tinha plena consciência de que eles tinham nascido e eram meus filhos”.
Mas com o tempo, Eduardo soube que ele realmente era pai da Julia e do Vitor. “No dia em que cheguei em casa, chorei lembrando de tudo que vivi e por saber que eles finalmente estavam ali”.

 

Já Laura, representa um outro lado dessa história – tanto do ponto de vista legal, como do ponto de vista da gestação. Aos 33 anos, se viu sem saída. Havia iniciado uma obra interminável em sua casa e precisava de dinheiro para concluí-la, sem arriscar o sustento de seus seis filhos. Foi aí que veio a ideia: ser barriga de aluguel. Para isso, ela encontrou um grupo de Facebook sobre o tema, fez um post com a proposta e encontrou um interessado.
Aquela gestação foi a mais difícil que já teve. Os enjoos e as dores nunca tinham sido tão intensas. E lembrar que aquele filho não era seu deixava tudo pior. “Eu afastava a ideia de que era sua mãe”.

 

Após o parto, Laura deu o bebê para o pai no estacionamento do hospital e seguiu para casa. Hoje não tem nenhum contato com a criança. “Prefiro apagá-la da memória”. Diz que laço não existe nenhum e nunca quis criar. Mas carrega um medo: “Ele pode crescer e querer me procurar”.

 

Laura é um nome fictício para proteger a identidade da fonte.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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