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Do investidor ao influenciador: o poder da educação financeira

 

Por Beatriz Crivelari e João Pedro Malar

 

No início de maio, os jornais anunciaram a entrada de 400 mil novos investidores na Bolsa de Valores brasileira entre março e abril de 2020. Esse aumento de pessoas físicas interessadas em investimentos e finanças é acompanhado de um crescimento recente de conteúdo destinado à educação financeira, que exerce uma influência na forma como lidamos com o dinheiro. 

Apesar de novo, sua ascensão está ligada com a maturidade do sistema financeiro brasileiro. As décadas de 80 e 90 foram marcadas por uma crise econômica, com hiperinflação, em que era comum as pessoas fazerem filas em supermercados pois sabiam que os preços iriam mudar de um dia para o outro. No geral não havia uma grande preocupação com investimentos, voltados para imóveis e renda fixa por terem uma garantia de retorno e serem mais simples.

Para Rodolfo Amstalden, co-fundador da Empiricus, empresa especializada em produzir conteúdo financeiro, esse cenário muda ainda na primeira metade dos anos 1990, com a implementação do Plano Real e a estabilização da moeda, ajudando o Brasil a atravessar a crise econômica e superar a hiperinflação. “O cenário para o investidor mudou drasticamente, já que agora há várias opções de investimento”, afirma Rodolfo Amstalden, co-fundador da Empiricus, empresa especializada em produzir conteúdo financeiro.

Durante o governo Lula, o crédito aumentou expressivamente, até mesmo após a crise de 2008. Com a desaceleração do PIB e a recessão de 2015, porém, a taxa de desemprego cresceu. Neste contexto de dificuldades financeiras, o crédito também passou por uma diminuição, deixando a população com ainda mais dívidas e sem saber como resolver esse problema. É dessa maneira que a busca por informações aumenta, já que muitas pessoas passaram a buscar alternativas para superar a crise.

A partir de 2016 há uma diminuição gradual da Taxa Selic, de 14,25% para 3% atualmente. Como ela influencia os juros no Brasil, os investimentos de renda fixa passaram a dar menos retorno financeiro, ficando próximos ao rendimento anual da poupança (2,1%). Isso incentivou uma complementação com investimentos de renda variável, no mercado financeiro. Surgem também as chamadas fintechs, empresas de tecnologia voltadas para a área de finanças.

Jenifer Corrêa, jornalista com experiência no mercado financeiro, explica que essas empresas, em sua maioria bancos, passaram a informar seus clientes, de classe média ou média-baixa, sobre o mercado financeiro. Isso os incentivou a investir, algo que geralmente era feito apenas por clientes de classe alta de bancos tradicionais.

Em meio a esse cenário, de democratização dos investimentos no mercado financeiro e alto endividamento, a educação financeira ganha força. Ao saber conceitos básicos de economia as pessoas “ganham mais agilidade e independência na vida financeira”, resume Jenifer.

Apesar do propósito positivo, a educação financeira pode ser danosa. É preciso ter cuidado com quem traz a ideia de “ações milagrosas” para ganhar dinheiro de forma rápida e fácil. Outro ponto delicado é a criação de “efeitos manada”, estimulando o desejo do público de entrar no mercado financeiro para acompanhar tendências de crescimento e ganhar dinheiro, mas com pouco conhecimento sobre investimentos.

Jenifer destaca que é importante pensar com quem o educador financeiro está falando: não faz sentido, por exemplo, aconselhar que uma pessoa mais pobre, sem renda ou emprego fixo, economize parte da sua renda mensal. Foi a partir desse pensamento que surgiram canais voltados para públicos específicos.

É o caso de Carol Sandler que, em 2012, fundou o Finanças Femininas, plataforma de educação financeira para mulheres. “Eu via que conteúdo na internet para mulheres era casamento, beleza e maternidade. E pensei que deveriam ter conteúdos que fossem além. Agora, os assuntos mais procurados entre mulheres são desenvolvimento pessoal, carreira e finanças”. Ela destaca que para ter o recorte do feminino é necessário olhar para o contexto do público, levando em conta a história de independência financeira das mulheres.

Nesse sentido, o crescimento de investidores registrado deve-se a uma queda dos juros e ao crescimento da Bolsa de Valores e de fintechs, que incentivam o investimento em ações. Sozinho, esse processo não é necessariamente negativo, mas a educação financeira ganha importância pois, se feita de forma incompleta ou manipulada por criadores, pode levar o investidor a decisões erradas, perdendo dinheiro. Pensando nos riscos, Rodolfo faz um alerta: “Esses investidores, por não estarem condicionados, podem ter traumas, decepções e depois não voltarem mais para a Bolsa, o que seria oneroso para elas a longo prazo”. 

Colaborou também: 

Mauro Rodrigues, professor da FEA-USP

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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