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Em todo canto e todo dia, amor de fã é coisa séria

 

Por Giovanna Stael e Mariah Lollato

 

Canecas, camisetas, acessórios. Já imaginou produtos tão simplórios renderem a um país quase 3,6 bilhões de dólares ao ano? A mágica é simples: todos esses artigos carregam a identidade dos garotos do BTS, grupo mais famoso do K-Pop, estilo musical sul coreano. Em 2018, os artistas chegaram a ser considerados um ativo econômico para a Coreia. Por trás de coreografias e cabelos coloridos, existe um poder real: até onde vai a influência de um artista?

Por aqui, a facilidade em tocar multidões faz parte da história da dupla Sandy e Júnior, que marcou gerações com sucessos infanto-juvenis. Em 2019, o duo voltou aos palcos para uma turnê que faturou R$ 120 milhões  — e atraiu mais de 500 mil fãs. Paulo Silva, de Monteiro na Paraíba, a 298 km de João Pessoa, é um deles. Ele assistiu à apresentação em Recife: “Foi falta de voz e choro o tempo todo. No fim do show, dei uma acalmada e consegui cantar uma música. Fiquei em êxtase”, contou.

Seja de um artista nacional ou de alguém que canta em uma língua completamente diferente, os fãs estão espalhados pelo Brasil. Dentre eles está Isabelle, apaixonada pelo BTS. A jovem segue cada passo de seus ídolos nas redes sociais. Acompanha, na proximidade das telas, o cotidiano quase inatingível das estrelas. Em tempo real, se sente mais amiga a cada atualização. Tamires da Fonseca, mãe de Isabele, comenta que quanto mais a filha se aproxima da banda na internet, mais ela se sente envolvida também.

Depois de anos empurrando móveis da sala para ensinar as coreografias à família, a jovem os convenceu a dirigir do Rio de Janeiro a São Paulo para um show da banda, quando ela finalmente veio ao Brasil. Para Tamires, os sacrifícios valem a pena pois não dizem respeito ao ídolo, e sim ao fã. “Não é sobre eles, é sobre ela. Enquanto eu puder realizar seus sonhos, vou fazer até o último sacrifício para lhe arrancar um sorriso.” A mãe conta que Isabele é uma pessoa mais fechada, e apenas as canções do grupo conseguem tocá-la de forma tão intensa. Thiago Santos, antropólogo que pesquisa k-pop e suas relações, afirma que este tipo de conexão com a música acontece com muita frequência entre quem se considera fã.

Esse poder de influência dos artistas alcança espaços cada vez maiores. Além do afeto, pode ser observado também na forma como monetizam sua imagem. “Eles se transformam em um produto. Dão seu nome e seu estilo para determinados itens: de moda, cosméticos, aparelhos eletrônicos, acessórios e até perfumaria”, diz Rainer Leal, jornalista que estudou a relação entre estrelas e fãs nas redes sociais. Apesar disso, a influência é medida para além dos cifrões.

Quem nunca agradeceu a existência de um artista ao escutar uma música que parece abraçar num momento difícil? Ou sentiu o gosto inconfundível de infância, ao ouvir um álbum especial? Paulo sabe bem o que é isso. O pedagogo já tinha 32 anos quando assistiu ao primeiro show dos artistas, mas é fã de Sandy e Junior desde os seis. Foram as canções que o ajudaram a superar a distância da mãe, quando ela teve que se mudar e ele precisou morar com a tia aos 13. Ao ouvi-las,  ele se sentia mais calmo e apto a lidar com experiências ruins.

Histórias como essa fazem crer que canções podem assumir o mesmo grau de importância na vida de um fã que teriam seus amigos ou familiares mais próximos. Para quem olha de fora, tanta proximidade pode parecer estranha, mas a antropologia explica que ela é possível. “Se aceitamos que existem outras formas de experimentar o mundo, em que obras de arte podem nos tocar como pessoas, somos capazes de entender o modo específico como alguns indivíduos são impactados por elas e pelos artistas que as produzem”, afirma Thiago.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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