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A gente faz de conta

 

Por Gabriella Sales e Leticia Flavia Guedes

 

capa-devaneios

Arte por Júlia Carvalho

 

É quando a insônia se estende pela madrugada que Bibi decide preparar um copo de leite e mel. Lá dentro, cabe uma receita, com metáforas e os pensamentos pós-terapia. Será que cabem ali suas crises e reflexões do dia? Talvez caiba um mundo paralelo e um espaço seguro…

 

Mais uma vez, Bibi se envolve em seus pensamentos, sem muito controle. Viaja para destinos longínquos, dos mais variados contextos. E se a pandemia não existisse, será que hoje eu estaria aqui, escrevendo esse texto? Ou teria conhecido o amor da minha vida?

 

Quando devaneamos, redirecionamos a atenção das tarefas diárias e de estímulos externos para uma sequência de respostas emocionais e cognitivas a estímulos internos. Assim, criamos um cenário de conforto que serve como distração e pode ajudar a processar situações difíceis ou planejar o futuro.

 

 

Com frequência, Bibi se vê nesse processo de “sonhar acordado”. Seja por meio do leite com mel ou nas ruas de São Paulo, os devaneios inspiram sua produção. E ele não é o único.

 

Muitos partem desses momentos de dissociação para estimular a produção artística. Nesse processo, é fácil se perder e pensar em ideias mirabolantes. Talvez Caio solucione os problemas de todos os seus amigos com um poema. Ou pode existir um mundo paralelo, com organização internacional completamente diferente, e… Isso poderia render um livro. Foi assim que Carol Soares escreveu quatro, por exemplo. 

 

 

Às vezes, mesmo devaneios criativos e reconfortantes ocupam espaço indesejado no cotidiano. Em excesso, isso se torna um vício para fugir da realidade e evitar desconforto emocional, caracterizando o quadro clínico psicológico de devaneios excessivos. Nesses casos, eles são frequentes e podem ser induzidos por música ou momentos de angústia e tédio.

 

Para Melissa, os devaneios são diários, frequências variadas de acordo com o seu humor. Eles funcionam como um escape para a dor e estresse. A condição incontrolável afeta sua rotina e a leva à procrastinação, apesar das técnicas de controle sugeridas pela psicóloga. Desde criança, ela se sente muito sozinha em relação ao tema. Afinal, parecia ser a única com o problema, já que nunca vira ninguém falar sobre até pesquisar no Google. Talvez ela fosse louca, mesmo que 96% das pessoas tenham devaneios em algum nível, segundo o pesquisador Ramiro Catelan.

 

 

Os devaneios excessivos prejudicam o cotidiano, mas não caracterizam um transtorno mental ou diagnóstico isolado. O quadro afeta a rotina de Melissa, porque ocorre como uma maneira de evitar a realidade e adiar as situações até o último momento. Ela não consegue controlar o tempo dentro do seu “mundo interior”.

 

Mas, quando não comprometem o dia-a-dia, sonhar acordado pode ser saudável e positivo, de acordo com a psicóloga Soraia Finamor. E todos fazemos isso. Seja imaginando o mundo sem pandemia ou enxergando um universo em um copo de leite com mel.

 

Colaboraram:

Ana Carolina Emídio, 20 anos, estudante de direito

Ana Carolina Aires, 20 anos, estudante de psicologia

Bibi Marães, 21 anos, estudante de educomunicação e artista em formação

Caio Pereira, 20 anos, estudante de direito e psicologia

Carol Soares, 21 anos, escritora e estudante de jornalismo e direito 

Melissa Alves, 19 anos, estudante de publicidade

Soraia Finamor – Psicóloga clínica e empresarial, especialista em Psicopatologia pela USP, mestre em Gestão para a Competitividade pela EAESP/FGV 

Ramiro Figueiredo Catelan – Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e Integrante do International Consortium for Maladaptive Daydreaming Research (ICMDR)

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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