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Me diga com quem andas

 

Por Camila Paim

 

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Arte por Júlia Carvalho

 

No instante em que chegamos ao mundo, estamos completamente desamparados e usamos o choro como uma forma de pedir ajuda e interagir. Nós somos dependentes do núcleo familiar e, por consequência, alienados às vontades deste. Com o desenvolvimento das funções psicológicas superiores (percepção, consciência, vontade, por exemplo), nossas opiniões e gostos vão se formando, a partir de trocas com outras pessoas. 

 

Essas trocas têm potencial de criar laços tão fortes a ponto de considerá-las relações familiares. É o caso de Paula, que desde pequena teve a música como a protagonista de sua vida, e Luciano, que gosta de futebol desde a barriga da mãe. Ambos, agora adultos, seguiram seus instintos iniciais e hoje fazem parte de uma escola de samba e de uma torcida organizada, respectivamente. Apesar de todo o esforço por trás das apresentações dos dois grupos, nenhum deles enxerga isso como um trabalho. 

 

Os laços que estabelecemos semeiam o pertencimento e formam uma rede de suporte e confiança, que traz autoestima e criatividade para a resolução de problemas.  O sentimento de pertencer é fundamental na construção da nossa identidade, como explica a psicóloga Alessandra Xavier. Nas baterias universitárias, por exemplo, sempre procuram pessoas para ensinar a tocar instrumentos e Paula se dispõe a ajudar. 

 

Face à importância da sociabilidade para o ser humano, por que alguns de nós tendem a se isolar? Para isso, Alessandra revela dois motivos principais: o indivíduo que passa por uma experiência traumática e busca se retrair da sociedade, ou aquele que adota uma postura narcísica e auto suficiente, tendo dificuldade em aceitar diferenças e criar laços. Em ambos os casos, a pessoa tende a não acreditar em seu potencial de ser verdadeiramente amada, relata Alessandra. 

 

As experiências traumáticas, violências e exclusões refletem negativamente na nossa capacidade de pedir ajuda. Ao encontrar minha identificação, outros iguais a mim, minha pertença é estabelecida e reafirmo meu lugar, autoestima e direitos. Em dois momentos distintos da vida acadêmica, Gilberto e Gabriela procuram fazer a diferença. Gilberto é professor e por meio da associação dos professores, busca a redemocratização dos sindicatos. Gabriela é estudante e no projeto que faz parte desejam a valorização da presença feminina na ciência. Com agendas diferentes, ambos encontraram nichos que lhe inspiram e motivam a lutar pelo que acreditam. 

 

Bateristas, torcedores, professores e estudantes. São situações distintas que refletem como grupos que nos encaixamos nos fortalecem, nos protegem e, principalmente, ampliam nossa existência.

 

Colaboraram: 

Alessandra Xavier, professora de psicologia na UECE E doutora em Psicologia Clínica, com estudos em subjetividades e saúde mental, e também papéis e estruturas sociais

Gabriela Ferreira, estudante de química na Universidade Federal do Paraná (UFPR), participa do projeto de extensão Meninas e Mulheres na Ciência, que conta com 40 participantes entre alunos e professores

Gilberto Rodrigues, membro da atual gestão da Associação de Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (ADUFEPE) e professor no Departamento de Zoologia do Centro de Biociências da UFPE

Luciano Venâncio, estudante de administração pública; durante 6 anos, foi presidente da Torcida Bamor, uma torcida organizada do Esporte Clube Bahia

Paula Azzam, formada em comunicação social pela ESPM e em produção musical pelo Centro Acadêmico Belas Artes e participa da Escola de Samba Colorado do Brás

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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