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Encontros e Despedidas

 

Por Matheus Zanin e Vinicius Lucena

 

Arte por Luana Benedito e Maria Luiza Bassan

 

“Coisa que gosto é poder partir sem ter planos”, diz a cantora Maria Rita. Assim como no título de sua música, de encontros e despedidas vivem os profissionais que trabalham em ambientes como aeroportos, rodoviárias e portos.

 

Em 2020, o número de profissionais nestas áreas somava cerca de 9 milhões, incluindo profissionais do turismo, motoristas de caminhão e de aplicativo (segundo dados do Ministério do Turismo, IBGE e CNT). Suas profissões, assim como as de muitos outros, surgem de uma das necessidades humanas mais primitivas: o deslocamento, chegar e partir. 

 

Tudo começa com um desejo. Essas pessoas buscam conhecer novos lugares e culturas em cada trajeto. Os motivos são diversos: um trauma de infância, uma necessidade de afastamento ou, até mesmo, semente cultivada pela própria família, o ofício de viajar que é passado de geração para geração. 

 

Contudo, percorrer grandes distâncias é uma faca de dois gumes. “Todos os dias é um vai e vem, a vida se repete na estação”. E, com a repetição, vem o desgaste. Perda de cabelo e unhas, estresse, olheiras, insônia, irregularidade no ciclo menstrual  — devido às mudanças de fuso horário — e jornadas de trabalho de até 20 horas são algumas das dificuldades que o corpo desses viajantes enfrenta.

 

Além do estresse, alguns adoecem de saudade. O homesick, como chamam, passa a ser parte da rotina. A variação de horários, deslocamentos constantes e escalas aos finais de semana são outros fatores que provocam fadiga nestes profissionais.

 

Escolher tais profissões exige um elevado grau de autoconhecimento. O amor por viajar precisa vencer a saudade e a culpa por perder momentos especiais ao lado de amigos e familiares. Exige preparo físico e mental, apesar de nem mesmo o melhor treinamento prever os efeitos do cotidiano.

 

O interesse pelo distanciamento, a ponto de se conviver com suas consequências, é normal, principalmente para quem busca uma forma de liberdade. Em alguns casos, porém, se deslocar é uma necessidade imposta. Enquanto para uns, independentemente da distância, viajar significa saudade constante, para outros, os quilômetros percorridos significam a quantidade de dinheiro que receberão ao final do mês.

 

Deslocar-se constantemente provoca efeitos diversos, e suas consequências variam de pessoa para pessoa. Uma coisa permanece: o espírito aventureiro de tirar as próprias conclusões do mundo e ver o planeta com os próprios olhos.

 

“Tem gente a sorrir e a chorar e, assim, chegar e partir. São só dois lados da mesma viagem”, canta Maria Rita. A viagem, apesar de suas dores físicas, é capaz de amadurecer quem a enfrenta. A saudade, apesar de constante, permite aprender a lidar com os sentimentos.

 

Na balança, são sempre dois lados. A escolha entre a liberdade da carreira e a vontade de estar com quem se ama é um eterno dilema que não pode ser resolvido ao acaso. Entre encontros e despedidas, é preciso saber até onde a independência pode superar a saudade.

 

Colaboraram: 

Bárbara Carvalho, tripulante em cruzeiros;

Célia Santiago, comissária de bordo em rede comercial

Danilo de Oliveira, comissário de bordo em rede comercial

Fabrício Carneiro, motorista de ônibus de viagem

Gabriela Corrêa, comissária de bordo em rede comercial

Júlia Barbedo, psicóloga com pós-graduação pela FGV

Paulo Sérgio, motorista de caminhão

Dados: 

Ministério do Turismo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Confederação Nacional do Transporte (CNT)

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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