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A distância entre erguer e ocupar

 

Por Joao Mello e Laura Toyama

 

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Arte por Luana Benedito e Maria Luiza Bassan

 

As cidades de Manaus e São Paulo estão a 2.690,41 quilômetros uma da outra. Nascido na primeira e vivendo há 12 anos na segunda para trabalhar com construção civil, Ozeas Borges faz prédios, pontes e shopping centers desde os 17 anos. Hoje, ele constrói um prédio em Itaquera com uma equipe na qual poucos são “filhos de São Paulo”. 

 

O grande fluxo de migrantes no Brasil iniciado na década de 70 foi um dos responsáveis pelo crescimento de metrópoles como a capital paulista. O especialista em desigualdade e imigração, Ednelson Mariano Dota, explica que a falta de planejamento para receber esses migrantes promoveu a marginalização e problemas urbanos. “Nunca houve, por parte dos níveis de governo, preocupação em regular a vinda de migrantes.”

 

O preconceito e a exploração do trabalho também acompanharam boa parte da trajetória dos trabalhadores da construção civil da capital. Ozeas relata que, sem o respaldo da lei, muitos ficavam à mercê da exploração, impedidos até de retornarem para as cidades de origem sem o pagamento: “Quando viam que era migrante, nem fundo de garantia pagavam, depois que o trabalho já estava feito”.

 

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo, Antonio Ramalho, fala das transformações pela garantia de direitos básicos. Natural de Conceição do Piancó (PB) e na luta sindical desde 1989, ele relembra que, quando chegou a São Paulo, não havia sequer distribuição de equipamentos de proteção individual para trabalhar nas obras que deram início à expansão da cidade.

 

Através de greves, conquistaram o direito à carteira assinada, seguro de vida e um piso salarial para serventes de pedreiro na cidade, hoje de R$ 1.416,41. Mesmo garantida, a renda não é suficiente para inserir essas pessoas nos espaços que ajudam a erguer. Um condomínio de luxo num bairro nobre da capital, como o L´Essence Jardins, chega a custar, mensalmente, 15 mil reais, segundo site de imobiliárias de São Paulo.

 

Pesquisador de desigualdades socioespaciais, Frederico Lago Burnett  explica que pessoas como Ozeas, que constroem shoppings ou condomínios de luxo, não estão nesses lugares devido a um alto “valor de aglomeração”. Ou seja, facilidades (educação, saúde, comércio, lazer, etc.) que existem nesses locais e os tornam caros. Há um gradiente de valorização segundo o qual, quanto mais longe dos centros aglomerados, mais barato é.

 

Ainda segundo o professor, o espaço é feito de deslocamentos. Quanto mais longe desses centros, mais tempo se gasta para chegar até eles para trabalhar e consumir. Assim, uma elite econômica passa a ter controle “daquilo que é o mais importante na vida: o tempo”. Para aqueles que habitam nesses centros, sobra tempo. Já para aqueles que vivem nas beiradas, falta tempo para trabalhar e erguer do chão as facilidades que tornarão os centros ainda mais valorizados. “Só voltamos nesses lugares quando precisam de uma reforma” diz Ozeas.

 

Colaboraram: 

Antonio Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP)

Ednelson Mariano Dota, professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Frederico Lago Burnett, Professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA)

Ozeas Borges de Freitas Filho, trabalhador da construção civil

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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