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Os eus em mim

 

Por Gabrielle Abreu e Giovanna Farnezi

 

Arte por Luana Benedito e Maria Luiza Bassan

 

Durante sua pré-adolescência, Pedro Santos, 40 anos, se via distante de si mesmo. Homossexual, convivia constantemente com uma versão de si que precisava agir de uma “forma adequada” pra não ser punido. Quando finalmente pôde assumir sua sexualidade, foi mandado embora de casa, e partiu em busca da independência financeira, se afastando de vez da versão de si criada para evitar conflitos.

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Não se reconhecer, entretanto, pode ser algo positivo quando leva a pessoa ao autoconhecimento. Marcela Parreira, 26 anos, passou muito tempo sendo uma pessoa impulsiva, e esse comportamento não condizia com quem ela gostaria de ser. A participação em um curso sobre meditação e fazer trabalho voluntário na Índia, diminuíram a distância da pessoa que ela era até a que buscava se tornar, mais calma e resiliente.

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Mas de onde vêm essas transformações que abrem distâncias? Casos como o de Pedro e de Marcela podem ser explicados pelo processo de evolução da humanidade, já que buscar novas “versões” de si mesmo faz parte da nossa capacidade de adaptação, como indica Christiane Ribeiro, médica psiquiatra que trabalha com transtornos de personalidade.

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Para Vitor Moreno Chaddad, psiquiatra especializado em neurociência e comportamento, a transformação na personalidade também pode se dar a partir das experiências relacionadas a questões de grandeza, como espiritualidade, doenças e perdas. “Basicamente [a transformação acontece] quando alguma coisa abala todas as estruturas da personalidade, algo que vai depender também do grau de amadurecimento.”

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Foi assim para Maria Cristina, 69 anos, que após o falecimento do pai, decidiu romper o relacionamento de 20 anos para morar sozinha pela primeira vez. Olhando para trás, Cristina vê o casamento como “ideia boba de menina”, e hoje se vê distante da pessoa que era, como uma mulher muito mais corajosa por viver do jeito que sempre desejou.

 

Esse fenômeno também é explicado pelo psiquiatra pela capacidade mutável da mente: ao menos 60% das nossas memórias episódicas (relacionadas a experiências pessoais) e semânticas (relacionadas aos significados e compreensão de conceitos) vão mudar ao longo do tempo e quando compreendidas de maneiras diferentes, mudam nossa percepção das experiências vividas.

 

Assim como acontece com todos nós, as memórias de Pedro, Marcela e Maria Cristina os moldam e transformam, por vezes abrindo distâncias enormes entre seus eus do passado. Uma constante nas nossas vidas é que sempre seremos resultado das nossas experiências.

 

Colaboraram:

Christiane Ribeiro, médica psiquiatra;

Marcela Parreira, 26 anos;

Maria Cristina, 69 anos;

Pedro Santos, 40 anos;

Vitor Moreno Chaddad, psiquiatra especialista em neurociência e comportamento.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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