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Já pensou em uma internet que faça relaxar?

 

Por Mayara Paixão

 

 

Pesquisas já têm mostrado: a internet e a tecnologia podem influenciar em fatores como a ansiedade humana. No mundo hiperconectado que vivemos, muitas pessoas encontram uma das soluções para esse problema no próprio celular. Pode parecer contraditório, mas te explicamos como os chamados ‘aplicativos para relaxar’ têm sido usados como válvula de escape para os gatilhos desencadeados no mundo virtual.

 

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Favor não se desconectar

 

Por Leticia Fuentes

 

 

Jovens de 18 a 34 anos (mais conhecidos como geração millennial) passam, em média, 6 horas e 19 minutos por dia conectados às redes sociais. É o que revelou um relatório anual divulgado no início do ano pela empresa americana Nielsen.

 

Como uma entre os 1,8 bilhão de millennials espalhados pelo globo, decidi desafiar os dados e lançar meu próprio “experimento”, usando a mim mesma como cobaia: sobreviver a 24 horas sem internet. Recrutei também dois voluntários, Catarina e Daniel, para me ajudar na empreitada (quase) científica.

 

Catarina foi a primeira a desistir. Depois de algumas horas de abstinência, me enviou uma mensagem — que só vi no dia seguinte — dizendo que fracassara. Tecnologia um, millennials zero.

 

Daniel chegou até o final, mas com um pouquinho de dificuldade. Ao acordar, seu primeiro impulso foi alcançar o smartphone ao lado da cama, mas conseguiu resistir e mantê-lo desligado. Concluiu que chegar ao almoço de família sem o Google Maps é uma tarefa quase impossível — mas conseguiu sobreviver para retornar à segurança da internet em seguida.

 

Quanto a mim, estava me sentindo bem durante as primeiras horas. Talvez conseguisse ficar assim por um bom tempo, pensei. Mas fui interrompida por uma ligação.

 

“Por que você não respondeu o post que te marquei no Facebook?”, pergunta uma colega.

 

“Porque não vi”, respondo. O aborrecimento na voz dela dá lugar à preocupação. Sinto como se estivesse sendo interrogada em uma consulta médica.

 

Ao completar o período longe das redes, pego o celular e vejo que outros também mandaram mensagens, preocupados. Afinal, se você passa mais de três horas sem responder, alguma tragédia deve ter acontecido.

 

Avaliando minha experiência, tenho três considerações a fazer. A primeira é que a abstinência virtual parece ser uma patologia grave — quer dizer, médicos mais velhos ainda não reconhecem seus sintomas, mas devem estar desatualizados. Todo millennial sabe das sérias consequências desse mal. Melhor não arriscar. Inclusive, recomendarei que Daniel faça alguns exames, por precaução.

 

A segunda é que millennials tratam a desconexão como uma traição — por isso, fiscalizam a vida alheia o tempo todo. Afinal, se as pessoas começarem a se desconectar, quem dará a elas a atenção que precisam? Proibir que você se desligue pode parecer uma decisão arbitrária, mas é para o seu próprio bem — e da sociedade também.

 

E a terceira é que, se alguém, mesmo assim, quisesse burlar o sistema (por sua conta e risco, claro), a melhor maneira seria forjar sua morte. Bastariam dois dias sem usar a internet — nenhum millennial acreditaria que é possível sobreviver a isso.

 

Como se fosse máquina

 

Por William Nunes

 

 

A câmera

 

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Olá. Sou a Sony, câmera de um prédio de classe média da zona sul de São Paulo. Preciso contar uma coisa que tenho reparado nas pessoas daqui. É engraçado… elas não pegam mais elevador juntas. Acho que esse tal de capitalismo transformou todos em uns robôs autosuficientes, individuais demais.

 

Outro dia, a Sheila, moradora daqui, estava cheia de compras na mão e não estava conseguindo abrir a porta do elevador. Logo atrás vinha o seu Antônio. Mas ela não pediu ajuda, não. Se apressou em colocar as sacolas pra dentro do cubículo e ó… Se mandou pro nono andar. Ela conseguia sozinha! Outra vez foram a Maria do Rosário e a Nena. Eu só observava pelo infravermelho. As duas foram até o vigésimo primeiro mexendo no celular. E nem falaram do tempo! E aí se deram um boa noite, tipo quando o Windows desliga, sabe? Automático. Fico pensando se elas não estavam preocupadas demais com esse tal de dinheiro e esqueceram de se falar, né? Porque é disso aí que muitos humanos precisam pra sobreviver. Sou só uma câmera de segurança, mas sei disso. E me contaram que ai! de quem não tiver… não sobrevive! Então deve ser normal a Nena e a Rosário não terem se falado. Elas precisam sobreviver.

 

É engraçado… o elevador devia unir mais as pessoas daqui do prédio. Parece que tudo o que essa tecnologia e esse tal de capitalismo tocam, eles separam, transformam em máquina. Até os humanos.

 

Mas, enfim, não sei do que estou falando. Eu sou só uma câmera de segurança…

 

Precisamos teclar

 

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Filho, precisamos ter uma conversa. Você não está colaborando com as coisas da casa. Não é justo eu trabalhar o dia inteiro, chegar, e a casa estar uma zona. Eu não aguento mais essa situação e, se as coisas não mudarem, vou ter que tomar algumas atitudes e cortar alguns privilégios, porque a casa é minha. Outra coisa: a gente anda muito afastado, você não conversa direito comigo, não conta pra mim como andam as coisas quando tento puxar papo. Sou sua mãe e acho que mereço um pouco mais de respeito. Vivemos debaixo do mesmo teto e, por mais que as coisas estejam difíceis, somos só nós dois e precisamos um do outro. A gente precisa conversar mais, porque nessa casa não tem diálogo.

 

Visualizada às 13h06

 

Pane

 

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Cinco em ponto. Funcionário 5246 da Volkswagem do Brasil. Era ele quem acordava o despertador. Iniciava. Escovava os dentes. Punha uma roupa. Calçava as botas. Dava um beijo na mulher e ia. Chegava. Batia o ponto. Entrava e agora só via metade dos colaboradores que via antes. A outra metade virou parafuso, metal, fluido em lugar de articulação. Segundo estatísticas, caíram pela metade também as oportunidades de se encontrar, conversar e integrar. O chefe agora o chama. “O funcionário 5246 está sendo desligado”. Pane no sistema.

 

*

 

Cinco em ponto. Funcionário 5247 da Volkswagem do Brasil. Era ele quem acordava o despertador…

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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