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Vamos ter um filho?

 

Por Juliana Meres e Igor Truz

 

 

Procura-se sócio para começar uma família (com ou sem romance)

 

“Um amigo doou p a gente. Sou casada c uma mulher. No banheiro ele ejaculava no potinho, aquele que fazemos exame de urina. Rapidamente ele dava o pote para minha esposa, ela levava no quarto, eu sugava com seringa de 10ml sem agulha. Colocava travesseiro na lombar e injetava bem perto do colo do útero. Ficava com o bumbum elevado 30 min. E pronto. Fizemos um dia sim e outro não, durante o período fértil. Tudo não passava de 2 min, para os nadadores não morrerem. Conseguimos no 3° mês [de tentativa] ” (sic).

 

Não fosse por postagens como esta, seria um grupo de WhatsApp como qualquer outro. Um cara chato, outro engraçadinho, um machista, críticas aos políticos, fotos fofinhas e textões filosóficos. No meio disto tudo, instruções completas de como realizar uma inseminação artificial caseira. Receber mensagens privadas curiosas sobre seu interesse em conceber um bebê também não é difícil. “Gostaria de saber se vc estar no grupo apenas para fazer uma matéria, ou se esta afim de ser mãe de acordo com todos que estão no grupo?” (sic).

 

Ao menos na teoria, todos no grupo Parceria Oficial, criado pela gaúcha Taline Schneider, têm um objetivo claro: encontrar alguém para ter um filho. Os 99 participantes, espalhados pelo Brasil, procuram parceiros para a coparentalidade, uma espécie de acordo entre pessoas que querem ser pais sem necessariamente manterem um relacionamento conjugal.

 

No Facebook, o mesmo grupo chama-se Coparentalidade Responsável e tem 884 membros. Funciona mais como uma página de classificados. “Tenho 37 anos e o sonho de ser mãe! Moro em Batayporã (MS) bastante próximo das divisas com PR e SP! Interessados chamem inbox” (sic). Depois de expor seus perfis, ficam sabendo do sistema no WhatsApp, mais dinâmico, e seguem para lá.

 

A intenção de Taline é que esta experiência possa ajudá-la na criação de uma empresa baseada na norte-americana Modamily, um portal que funciona como uma rede social para a coparentalidade. Ao preço mínimo de 50 dólares por ano, você tem acesso a perfis de pessoas que também desejam ter um filho.

 

A ideia por trás do negócio é muito clara. Em um mundo onde nem sempre o casamento significa que o casal poderá gerar uma criança; em que casais homoafetivos desejam ter filhos; em que pessoas solteiras com idade na casa dos 40 não têm mais tempo a perder, é preciso pensar em alternativas. Não importa se você está em um casamento homossexual, se você é assexual, se quer dividir a paternidade com uma espécie de “sócio”. O serviço resolverá seu problema.

 

No Brasil, o pioneiro grupo de WhatsApp ainda não mercantilizou esta ajuda. Funciona como uma cooperativa sem fins lucrativos. As conversas ali não são formais, burocráticas. As orientações para inseminação caseira, por exemplo, foram dadas por uma participante que teve sucesso com o método. A ideia dela, que está grávida de 6 meses e é casada com outra mulher há 9 anos, é ensinar a técnica para ajudar outras pessoas, sem receber nada em troca.

 

As conversas, muitas vezes, ganham um tom de autoajuda, com mensagens carentes seguidas de um apoio clichê qualquer. “Continua indo atrás de algumas via facebook do grupo (…) Eu sou brasileiro e não desisto nunca!! kkkk” (sic), diz um membro em apoio a outro, cansado da procura por uma parceria.

 

A busca pelo “sócio” é também a busca por afinidades ideológicas e/ou por beleza estética. Alguém capaz de dividir as glórias e a dores de ser pai (ou mãe). Mais que isso, alguém capaz de te dar um filho bonito, inteligente e saudável, como qualquer pessoa desejaria. A grande “diferença” é que não existem limitações morais conservadoras neste caso. O casamento, o romance como alicerce para famílias felizes, não é uma obrigação.

 

A existência de amor entre os parceiros coparentais não é necessária, tampouco proibida. Você pode ter qualquer orientação ideológica, religiosa ou sexual; ser casado, solteiro ou divorciado. Nada disto é absolutamente decisivo. A distância geográfica entre as partes, porém, é um empecilho. “Tínhamos todas as afinidades até o nome da criança era igual. Daí veio o quesito distância… E não rolou” (sic).

 

Para chegar lá, o papo é reto. Tem que ser. Sem a obrigação de construir um relacionamento conjugal, os adeptos da coparentalidade investigam com objetividade as qualidades que importam para conceber seu rebento. O que escapa deste escopo, não importa.

 

Centenas de mensagens são enviadas por dia. Isso não incomoda aos participantes. O desejo, quase um fetiche, de conseguir gerar uma criança não deixa a esperança morrer. “Uns te chamam de louco, outros falam que isso não existe, [há] os que torcem p dar errado, os que mandam agente parar de loucura e construir uma família convencional, são poucos os que apoiam… mas quando se está determinado nada abala a nossa fé” (sic).

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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