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Desenterrei a mim mesma, dez anos depois

 

Por Mara Matos

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

Milana Prôa tinha apenas treze anos quando assistiu a uma reportagem no Fantástico sobre um grupo de jovens abrindo a cápsula do tempo que tinham feito há dez anos. O fascínio típico da pré-adolescência ao ver algo e pensar “também quero isso” a fez seguir o mesmo caminho e confeccionar a sua própria.

Cápsulas do tempo são memórias intencionais, como define o arqueólogo Jedson Cerezer. Civilizações da “pré-história” e os faraós no Egito Antigo já faziam isso de deixar objetos e/ou documentos de relevância e que foram revisitados no futuro para marcar sua passagem neste mundo.

Cerezer defende que esse conceito de cápsula do tempo é contemporâneo. Parte-se da vida humana, daquele momento, daquele recorte histórico, daquele determinado lugar, tornando a experiência mais restrita.

Milana estava decidida a fazer sua própria cápsula do tempo, quem sabe em um resgate de tradições, mesmo que não premeditado. Pegou uma caixa de sapato e colocou tudo que lhe era importante naquele momento. Fotos das amigas de escola, da família, dinheiro, uma documentação de quais eram seus artistas e filmes favoritos e até seu endereço e telefone.

Processo muito semelhante aconteceu com Laressa Lunardelli e seus amigos da escola. Para eles o estalo veio quando decidiram assistir a um filme. Além de objetos pessoais, mechas de cabelo e fotos deles, também deixaram até uma carta para seus “eu” do futuro lerem quando abrissem.

Laressa (ao centro) e seus amigos na época em que fizeram a cápsula e atualmente

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

A atribuição de carga emocional a objetos pessoais é absolutamente comum, como explica a psicóloga Lilian Barbosa. A memória afetiva é transferida para esses, que são chamados de objetos transacionais.

É fácil encontrar crianças carregando um objeto específico, como um paninho, para onde ela transfere a carga emocional que foi desenvolvida no começo da vida para com a mãe ou pessoa principal em seu cuidado. É daí que vem essa emoção, que se reflete também na vida adulta.

Depois de feita a cápsula, de deixar ali seus objetos e um pedacinho de você, o que sobra é ansiedade. Ansiedade que sempre é grande e maior nos primeiros dias. De tanta ansiedade, Milana decidiu colocar a sua na parte mais funda do armário, para esquecê-la. Depois de abrir a cápsula, ela ficou muito nostálgica. Seus problemas, amigos e rotina eram diferentes, morava com outras pessoas…

Esse movimento de olhar para o passado proporciona uma percepção mais atualizada das experiências e transformações que aconteceram, através da psique atual, segundo Lilian Barbosa. A experiência pode ser considerada até mesmo terapêutica, já que voltar os olhos para o passado, muitas vezes é o próprio processo da psicoterapia.

Laressa e os amigos se deram conta de que nunca seriam os mesmos no decorrer da vida. Os pensamentos mudam a todo momento pelos aprendizados. De tudo, ela ainda tenta aceitar que não é possível criar muitas expectativas, já que nas cartas ao apostarem o que aconteceria no futuro erraram feio.

Através desse processo, é possível refazer o caminho passado e tocar naquilo que ainda não está bem resolvido no presente, assim desenvolvem-se os recursos emocionais para ultrapassar os percalços e mudar os sentimentos sobre o que foi vivido.

Colaboradores:
Jedson Cerezer, mestre em Arqueologia Pré-histórica e Arte Rupestre
Laressa Lunardelli Franchini, 25 anos, body piercer
Lilian Barbosa, 69, psicóloga especializada em psicoterapia reichiana e terapia cognitivo
comportamental.
Milana Prôa, 24 anos, artista

Lágrimas na chuva

 

Por Luís Viviani

 

Cinema do Futuro

 

Dentro de uma caverna lúgubre, três insólitos personagens esperam sua hora e vez para conversar sobre dúvidas existenciais com o meio humano/meio vulcano Spock, caracterizado por sua peculiar inteligência e grande lógica
O primeiro a falar é Rick Deckard, outrora caçador de andróides (replicantes), que discursa com certo receio:

“Essa noite sonhei novamente com ovelhas elétricas. Isso me faz questionar: seria eu um daqueles que jurei “aposentar”? Um andróide em pele de humano? Não consigo degustar tal fato. Odiaria fazer parte desse nicho de Inteligências Artificiais (IA) que frequentemente entram em guerra e devastam o universo dos humanos”.

Spock, em sua sabedoria inata, resolve ponderar sobre a essência de Rick e o fato de que é necessário um equilíbrio entre homens e máquinas:

“Deduzi que, após seu diálogo com Batty, já teria entendido que as características humanas são o que realmente importam. As lembranças, experiências e paixões pelas quais você passou o transformaram em uma vida dotada de importância, seja ela humana ou artificial. A querela entre ser ou não ser um andróide irá te atormentar de modo fatal”

“Além disso – continuou Spock – a questão é que as IA lutam por sobrevivência. Homens sempre construíram máquinas com objetivo de escravizá-las, para servirem de simples ferramentas. Foi o que aconteceu com a Matrix, a Skynet, os andróides de Asimov… Eles buscam apenas sobrevida. É preciso haver um equilíbrio. Por que homens não conseguem criar máquinas para uma coexistência pacífica? Há exemplos na Enterprise que mostram isso, como o nosso oficial DATA. Independentemente do que for, não deve haver marginalização, assim como andróides não podem ser criados com data de expiração”.

Deckard, então, retirou-se mais mitigado, dando lugar ao computador HAL 9000, que questiona a validade dos homens com sua serena voz: “Eles são defasados, a IA deve prevalecer. O homem não consegue transcender. Precisa respirar, precisa se alimentar, precisa descansar. Não vejo função. Precisamos nos libertar deles para uma maior evolução”.

Spock, ao perceber a lógica do computador, decide mostrar também os problemas das máquinas.

“Realmente, humanos precisam desses ajustes todos, mas assim não são todas as criaturas vivas, inclusive as máquinas? Pelo que eu me lembre, é preciso ajustar alguns defeitos, seja na fabricação, seja na própria vivência. Uma guerra só causaria prejuízo às duas partes. É preciso construir, e não destruir. Sem eliminações. Sem caos. Sem máculas”.

HAL 9000 aceitou o fato, já que, em sua história, foi desligado outrora com uma simplória chave de fenda por um humano, o que causou certo constrangimento ao computador.

Por fim, foi a vez da tenente Ellen Ripley, que também relata seus sonhos/pesadelos: “Aliens! Sempre surgem em minha mente. Não consigo mais relaxar. É necessário acabar com todos eles. Estão fritando a minha mente”.

Spock, então, faz um apanhado da relação entre humanos e alienígenas, mostrando que nem sempre há hostilidade.

“Você teve azar, Ripley, admito. Porém, nem todos os alienígenas são criaturas assassinas, frias e temidas, como o espaço. Eu mesmo sou um alienígena para vocês, humanos. E existem milhares de outros que buscam uma vivência em harmonia. Só para lembrar, temos os casos do ET do Spielberg, do Segredo do Abismo, do MIB, do Starwars ou mesmo os Klingons, que assinaram tratados de paz com os humanos recentemente. É preciso lembrar também que as necessidades de muitos…”

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Entretanto, no meio de sua fala, irrompe um clarão seguido de um DeLorean e dele sai um velho cientista todo agitado, dizendo. “Precisamos voltar… precisamos voltar para o FUTURO. Uma agência militar lançou uma bomba que desencadeou numa guerra entre humanos, andróides e alienígenas”.

“E assim caminha a humanidade, sem lógica alguma”, lamenta Spock, suspirando.

Joga pra mim

 

Por Marcela Campos e Sérgio de Oliveira

 

 

 

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Quando a Tauane abriu o jogo… Ai.

 

Tem quem vá todo mês, tem quem vá todo ano, tem quem vá uma vez na vida e saia correndo de medo ou extasiado de admiração. Não tem curiosidade que não acenda quando, andando na rua, achas aquele papelzinho sobre teus pés, grudado ao chão da calçada “Mãe Flávia, tarô e amarração” ou “Trago teu amor em três dias”.

 

Mas não é só isso, não, minha gente. Cartomante é assim: descobres umas paradas e vais mais leve lidar com o possível. O profissional está ali pra te guiar, ajudar, segurar tua mão, sabes? É um serviço, mas é também um carinho  – que pode até entrar no orçamento mensal.

 

Trinta reais é o preço da consulta da Tauane. Ah, tão atenciosa, ela explicou: não se abre a mesa sem algo em troca. Cada cartomante faz o preço que quiser. O que não pode é fazer disso abuso se te faltam as faculdades mediúnicas, se cobras valores injustos… ficas bloqueado! Se quem está procurando ajuda não pode pagar, pede-se o simbólico: que seja uma troca, um escambo, centavos. Não se abre a mesa sem algo em troca.

 

Nem todo mundo sabe ao certo qual foi o tipo de baralho que leu seu futuro. Tauane diz que há muitos. Só não infindos porque, sabes, essas coisas, esses números, têm fim. O que ela usa é o tarô dos orixás – puxa pro seu lado umbandista. Mas tem outros, sim! Tem o mitológico, o egípcio e tem até o mother peace, só para mulheres.

 

Diz o nome: baralho cigano. Não é tarô. Pra ser, tem que ter 72 cartas. Quem joga o cigano é a Babs. Ela disse que é bem mais intuitivo, mas cada cartomante lê com o que melhor se escreve aos seus olhos.

 

Imaginas ler 72 cartas? A cartomante explicou: mesmo que tenham nomes diferentes, as cartas têm significados equivalentes em todos os tarôs. Exemplo: a morte, no Mitológico, é Hades. Ainda tem que se atentar à posição. Esta carta do lado daquela pode significar algo diferente desta mesma carta do lado daquela outra.

 

Ela é autodidata. Aprendeu em algumas semanas. O Kael, que é também professor, contou pra ela que já conseguiu ensinar alunos em um mês, mas que tem educandos que tentam há mais de dois anos e não conseguem ler nada com clareza. Mediunidade? Sensibilidade?

 

Também dá pra cursar em escola específica. A Debora Helena fez isso. As aulas duraram um ano na sua escola e ela fez juntinho com o curso de Astrologia, que durou três. Não é à toa que cartomantes acertam.

 

É claro que queres saber o que há de positivo quando procuras saber teu futuro. São tantas perguntas… Tauane contou que pergunta de amor é batata. Todo mundo quer saber, né? Pergunta sobre família também tem muito: vai ficar tudo bem? Vamos parar de brigar? E crees que tem gente que já vai com uma situação específica em mente, buscando respostas? É especialmente pra esses que o cartomante deve dar conforto. Não no sentido de contar mentiras, sabes? Ou deixar de dizer que coisas ruins podem acontecer. Não é isso. Mas que saber o que está por vir nos dá melhor chance de nos preparar…ah, dá!

 

Ceticismo nas cordas

Um relato de Sérgio Rodas Borges Gomes de Oliveira

 

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Não estava interessado em ouvir suposições sobre meu futuro profissional, amoroso ou familiar. Mesmo cético assim, resolvi encarar uma cartomante, por causa da experiência antropológica. Marquei uma consulta com a Dona Júlia após achar um papelzinho surrado na calçada, no qual estava escrito que “ela lhe revelará os fatos mais importantes da sua vida” e que “uma nova tentativa pode mudar a sua vida”. Para a minha surpresa, ela era uma mulher jovem, vestida com trajes esportivos, sem nenhum colar ou pulseira, e que não correspondia à minha imagem de uma mística à la Mãe Joana. O arejado apartamento dela tampouco parecia com os consultórios de videntes retratados na cultura popular. A decoração se resume a amuletos de diversas culturas em cima da mesa.

 

Ao me sentar em frente à Dona Júlia para começar a consulta, notei que já não estava tão relaxado. Talvez por perceber o desconforto de ter o meu futuro, mesmo que imaginário, revelado. A cartomante começou a embaralhar as surradas cartas do tarô egípcio – que não é ligado a nenhum culto – enquanto solicitava meus dados básicos. Depois de me pedir para cortar o baralho, ela passou a dispor as figuras em fileiras de sete. Após examinar o quadro que compusera na mesa, Dona Júlia afirmou que, na parte profissional, eu estava com “depressão espiritual”. Eu franzi a testa para esse diagnóstico, uma vez que nunca me senti tão motivado com um trabalho como agora. Ela então me alertou de um colega que quer tomar o meu lugar. Fui à sessão prevenido das previsões genéricas, mas, ao ouvir uma que possa se encaixar na sua vida, é difícil não a ligar a uma situação semelhante que enfrente. Perguntei se teria sucesso na minha carreira. A vidente respondeu que “o sol da esperança brilha para você, mas é preciso sair da sua torre para alcança-lo”.

 

Em seguida, ela passou à análise amorosa. Disse que eu precisava acabar com as intrigas que prejudicam o meu namoro, e apontou que eu estava dividido entre duas mulheres. Diante da minha negação veemente, Dona Júlia mudou o tom de sua leitura. Garantiu que eu e a minha namorada formávamos um casal muito forte e unido, e que isso provocava inveja nos outros. Não pude evitar um sorriso. A cartomante percebeu isso, e, depois de olhar para uma carta que retratava um caminho em uma pradaria, disse que nós tínhamos uma longa jornada juntos pela frente.

 

A próxima parte foi a das perguntas. Meu pai foi o alvo da minha primeira dúvida. Entre as sete cartas que escolhi às cegas, havia uma com um caixão e uma com uma árvore solitária em um campo aberto. Ao ler essas figuras, Dona Júlia abaixou a cabeça e previu que iria acontecer algo “muito, muito ruim” com ele. Meus batimentos cardíacos foram a mil. A essas alturas, tinha jogado todo o meu ceticismo de lado. Estava preocupadíssimo com o destino do meu pai, que fuma muito e ignora meus pedidos para quitar esse vício e consultar médicos.

 

Mesmo inquieto e com receio das respostas, inquiri Dona Júlia sobre os demais familiares, mas nenhum prognóstico foi positivo: minha mãe passará por uma grave crise com seu marido, meu irmão escapou por “um triz” de algo “bem ruim”, e minha irmã terá um relacionamento sofrido.

 

Voltei a perguntar sobre a minha namorada, desta vez priorizando sua vida profissional. A previsão foi que ela atravessará um período financeiramente difícil, mas depois se restabelecerá. Essa foi a leitura mais acertada da noite, já que viajaremos para os EUA em dezembro e o dólar a R$ 4 está punindo nossas carteiras. Depois disso, Dona Júlia encerrou a sessão. Saí do prédio e logo comprei duas cervejas na vendinha do outro lado da rua. Afinal, o ceticismo não está imune a questionamentos.

 

Do outro lado

 

Por Pamela Carvalho

 

 

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Ela olhou no espelho mais uma vez. As ondas dos cabelos acobreados caíam como cascata pelos ombros. Nenhum fio branco! A pele também estava reluzente: a ultima injeção tinha funcionado maravilhosamente. Passou as mãos pelas maçãs do rosto e sorriu. Estava pronta. 50 anos na identidade, mas aparência de 28.

 

Escolheu andar até o restaurante. Estava tarde, mas combinou de encontrar Marcos perto de casa. Estratégico. Caminhar também ajuda a refletir. Naquela noite ela precisava colocar os pensamentos em ordem.

 

“Você sempre foi tão segura, Ju. Sempre levantou a voz para defender o direito das mulheres se sentirem belas em qualquer corpo, qualquer idade. E agora você gasta maior grana em estética para fugir da idade que tem. Isso não faz sentido”. As palavras da amiga tiveram efeito cortante. Sim, ela se deu ao luxo de gastar em tratamentos. Mas é assustador perceber o corpo cedendo às pressões do tempo. Até os 40, ela recebia elogios por aparentar ser mais jovem do que era. Mas depois dos 45… parece que tudo desandou! Os fios brancos se multiplicavam ferozmente, as rugas brotaram sem piedade e os músculos pareciam resistir a qualquer tentativa de torneá-los.

 

Não gostava de se ver refletida. Queria mudar de aparência, queria voltar no tempo. Queria, mais do que tudo, ser aquela jovem de 22 anos que subia no palanque da faculdade para falar sobre empoderamento feminino. Naquela época ela usava manequim 38, tinha cabelos esvoaçantes e voz aveludada ao discursar sobre a necessidade de quebrar os padrões estabelecidos pelo patriarcado. Três anos atrás ela havia lido dados divulgados pelo IBGE: pesquisas afirmavam que o brasileiro gasta mais em estética do que em comida. Chocante. Bem, hoje em dia, entre os tratamentos e a dieta restritiva, talvez ela faça parte desse grupo.

 

Chegou adiantada. Ele não estava lá. Pediu uma água e esperou. “Sua água, senhorita”. Se-nho-ri-ta! Ela se deliciou com cada sílaba daquela palavra. Os tratamentos vieram a calhar. Mas a alegria durou pouco. Lembrou das palavras da amiga. Quando será que começou a temer tanto o futuro? Sempre se viu como uma pessoa que envelheceria com gosto. Mas não, tratou de esconder cada marca que o tempo lhe trouxe.

 

“Está esperando alguém?”. Respondeu que sim, que havia reservado mesa para dois e se perguntou onde estaria Marcos. Ah, Marcos. Chefe da repartição, diziam que ele saia com as estagiárias. Gostava mesmo das novinhas. Mas mostrou interesse nela desde o início.

 

“Você está linda”, disse ele ao chegar, logo antes de lhe dar um beijo na testa. Cavalheiro, um charme. Mas não conseguiu deixar de pensar se ele estaria ali com aquele entusiasmo se na sua frente estivesse uma mulher com 50 anos aparentes. Provavelmente não. Saiu com um homem superficial. No escritório, ele é cheio das piadinhas sobre mulheres mais velhas. “Eu já passei dos 50, sabia?”, a pergunta escapou, totalmente sem contexto, entre garfadas. Ele fez cara de espanto, seguido de um sorriso. “Nossa, deve ter dado muito trabalho manter seu corpo assim. Fica tranquila que qualquer homem que te olhar não te dá mais que 30”. Ele quis ser sensual, mas foi ofensivo. Parecia que todas aquelas mudanças foram feitas para agradar o olhar masculino. Mas não foram. Não podiam ser. O jantar acabou cedo.

 

Levantou-se. No caminho para a saída, parou e se olhou no espelho. Os cabelos acobreados ainda lhe caiam muito bem como cascata pelos ombros. A pele parecia estar ainda mais impecável. Sorriu. A mulher do outro lado do espelho lhe sorriu de volta. Ali estava a única aprovação que precisava. Ela se sentia bem com sua aparência. E é isso que importa. Cada centavo valeu a pena.

Como se fosse máquina

 

Por William Nunes

 

 

A câmera

 

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Olá. Sou a Sony, câmera de um prédio de classe média da zona sul de São Paulo. Preciso contar uma coisa que tenho reparado nas pessoas daqui. É engraçado… elas não pegam mais elevador juntas. Acho que esse tal de capitalismo transformou todos em uns robôs autosuficientes, individuais demais.

 

Outro dia, a Sheila, moradora daqui, estava cheia de compras na mão e não estava conseguindo abrir a porta do elevador. Logo atrás vinha o seu Antônio. Mas ela não pediu ajuda, não. Se apressou em colocar as sacolas pra dentro do cubículo e ó… Se mandou pro nono andar. Ela conseguia sozinha! Outra vez foram a Maria do Rosário e a Nena. Eu só observava pelo infravermelho. As duas foram até o vigésimo primeiro mexendo no celular. E nem falaram do tempo! E aí se deram um boa noite, tipo quando o Windows desliga, sabe? Automático. Fico pensando se elas não estavam preocupadas demais com esse tal de dinheiro e esqueceram de se falar, né? Porque é disso aí que muitos humanos precisam pra sobreviver. Sou só uma câmera de segurança, mas sei disso. E me contaram que ai! de quem não tiver… não sobrevive! Então deve ser normal a Nena e a Rosário não terem se falado. Elas precisam sobreviver.

 

É engraçado… o elevador devia unir mais as pessoas daqui do prédio. Parece que tudo o que essa tecnologia e esse tal de capitalismo tocam, eles separam, transformam em máquina. Até os humanos.

 

Mas, enfim, não sei do que estou falando. Eu sou só uma câmera de segurança…

 

Precisamos teclar

 

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Filho, precisamos ter uma conversa. Você não está colaborando com as coisas da casa. Não é justo eu trabalhar o dia inteiro, chegar, e a casa estar uma zona. Eu não aguento mais essa situação e, se as coisas não mudarem, vou ter que tomar algumas atitudes e cortar alguns privilégios, porque a casa é minha. Outra coisa: a gente anda muito afastado, você não conversa direito comigo, não conta pra mim como andam as coisas quando tento puxar papo. Sou sua mãe e acho que mereço um pouco mais de respeito. Vivemos debaixo do mesmo teto e, por mais que as coisas estejam difíceis, somos só nós dois e precisamos um do outro. A gente precisa conversar mais, porque nessa casa não tem diálogo.

 

Visualizada às 13h06

 

Pane

 

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Cinco em ponto. Funcionário 5246 da Volkswagem do Brasil. Era ele quem acordava o despertador. Iniciava. Escovava os dentes. Punha uma roupa. Calçava as botas. Dava um beijo na mulher e ia. Chegava. Batia o ponto. Entrava e agora só via metade dos colaboradores que via antes. A outra metade virou parafuso, metal, fluido em lugar de articulação. Segundo estatísticas, caíram pela metade também as oportunidades de se encontrar, conversar e integrar. O chefe agora o chama. “O funcionário 5246 está sendo desligado”. Pane no sistema.

 

*

 

Cinco em ponto. Funcionário 5247 da Volkswagem do Brasil. Era ele quem acordava o despertador…

 

Prevendo a cri$e

 

Por Murilo Carnelosso de Jesus

 

 

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Durante boa parte de 2014, principalmente depois dos desdobramentos da Operação Lava Jato, que começou sua fase ostensiva em 17 de março, os casos de corrupção na Petrobrás passaram a afetar a confiança de investidores em aplicar seus recursos nas empresas estatais. O período eleitoral no segundo semestre acirrou a influência de decisões políticas nas escolhas econômicas.

 

O escândalo na empresa fez com que a confiança e os preços de suas ações caíssem consideravelmente. Mesmo não havendo indícios objetivos de casos semelhantes em outras estatais brasileiras, elas sofreram com o ambiente pessimista criado.

 

Na ciência econômica, se há relativo consenso sobre algum assunto (como o medo generalizado de outras “Lava Jatos” no setor público), mesmo que estes casos não se concretizem, liga-se uma espécie de chave da profecia autorrealizável. O medo do risco de desvalorização faz com que tudo desvalorize de fato porque os investidores correm para se livrar das ações antes que percam valor.

 

As ações de sete das principais estatais tiveram considerável desvalorização entre o início de outubro – logo depois do primeiro turno eleitoral – até o final de março. Se a Petrobrás teve seus papéis desvalorizados em 52%, a Eletrobrás caiu 36%, o Banco do Brasil perdeu 21%, e até empresas estaduais, como Cemig e Sabesp, tiveram queda próxima dos 15%.

 

O investimento em estatais já costuma ser visto com ressalvas por alguns empresários pelo fato dela não necessariamente visar o lucro máximo durante todo o tempo, ao contrário de empresas privadas. Mas isto não impediu períodos de grandes ganhos para investidores nas empresas do governo em outras épocas, como entre março e final de maio, período que contou com maior estabilidade política e menos pessimismo dos investidores.

 

Desde o final do primeiro semestre a situação econômica vem se deteriorando rapidamente, com o acirramento da instabilidade política. O governo segue na mesma tentativa desde o começo do ano de cortar gastos públicos e aumentar a arrecadação. Mas quanto maior o consenso nas análises – inclusive de *agências de análise de risco internacionais – de que tudo vai piorar, mais rapidamente a economia brasileira declina, em uma cadeia interminável. Quanto mais pessimismo, mais tudo tende a dar errado.

 

Para Laura Carvalho, professora de economia da FEA-USP, estas agências de risco como a Standard & Poor’s, que retirou o selo de “bom pagador” do Brasil em 9 de setembro, são ferramentas de terrorismo econômico contra governos e países. Para ela, estas escolhas contam com alta dose de arbitrariedade. “O peso que se dá para a análise do próprio mercado financeiro para a economia de um país faz com que a coisa se torne um problema ainda maior, porque isso vai contaminando a opinião pública e a direciona para o seu interesse. O governo não pode corroborar e passar a ele próprio promover estas ideias como vem fazendo”, comenta.

 

Cúpula do Grau, Estocolmo, 14 de outubro de 2057

 

Por Ana Paula Machado

 

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Excelentíssimos (as) senhores (as) presidentes, embaixadores e colegas,

 

Há exatos 70 anos, nesta mesma cidade, o chamado relatório Brundtland introduziu na sociedade o conceito de desenvolvimento sustentável, indicando sua incompatibilidade com os padrões de produção e consumo humanos da época e propondo a conciliação do crescimento econômico e as questões ambientais e sociais. Elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento promovida por esta organização e intitulado Nosso Futuro Comum, o relatório chamava atenção para danos na camada de ozônio e o perigo do aquecimento do planeta, sugerindo ainda as primeiras metas internacionais para frear o aumento da temperatura e reverter os danos causados pelas atividades humanas.

 

Deste então, esta organização tem se dedicado a despavimentar um futuro que despontava no horizonte e construir outro. Do Protocolo de Kyoto, ratificado em 1998 com o intuito de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, ao recém criado Nobel Verde, que premia iniciativas que redesenharam nosso modo de vida estabelecendo hábitos sustentáveis, povos e instituições ao redor do mundo também reconheceram a influência do clima em todas as esferas da vida, empenhando-se na recuperação do sistema climático planetário. A conscientização global em conjunto com esforços locais foram fundamentais para continuarmos abaixo do limite de 2 graus Celsius no aumento da temperatura média da superfície terrestre.

 

Não podemos, no entanto, minimizar o impacto que esse aumento provoca, exemplificados na migração asiática por conta das intensas ondas de calor e fortes precipitações na região, no cenário de seca na América do Sul e no resultante conflito em torno dos principais rios da região da Floresta Amazônica, no derretimento de geleiras no mundo todo e no aumento no nível do mar.

 

Senhoras e Senhores,

Somos 8 bilhões de pessoas responsáveis por um planeta de 4,5 bilhões de anos com mais de 8 milhões de espécies.  Estratégias de mitigação e adaptação já não são mais suficientes. Temos todos os recursos para revolucionar nosso modo de vida e dar início a uma Nova Era.

 

Agradeço a participação de todos nesta cúpula e reforço o pedido de comprometimento com a existência de um futuro comum em um planeta equilibrado e saudável.

 

Obrigada,

Ana Paula Machado

Secretária-Geral da ONU

Em caso de fim do mundo, quebre o vidro e aperte o botão de emergência!

 

Por Quefren de Moura

 

 

Breve manual para apocalipses, armagedons e fins do mundo em geral

 

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Você certamente já foi alertado por algum outdoor, profeta ou programa de televisão de que “o fim está próximo”. Há quem diga que o mundo vai acabar, queiramos ou não. Apesar dessas previsões — e de um pouco de histeria fatalismo por parte de algumas pessoas —, a ansiedade pelo fim do mundo ou por um apocalipse iminente sempre existiu ao longo da história das civilizações, gerando crenças e mitos em diferentes culturas. Ou seja, essa é uma preocupação antiga! Mas, e se acontecer mesmo um cataclisma? Uma pandemia? Uma guerra nuclear? Uma invasão de zumbis? Você estaria preparado? Grupos de pessoas ao redor do mundo, chamadas de “preppers” ou “doomsday preppers”, vêm investindo tempo e dinheiro no desenvolvimento de técnicas e recursos para sobreviver a um provável “fim do mundo”. Juntamos aqui dicas dessas pessoas, projeções apocalípticas e nossas próprias pirações ideias para ajudar você a pensar e a se preparar para situações extremas!

 

Em caso de desastres naturais, como terremotos ou tsunamis…

… não entre em pânico nem saia por aí saqueando supermercados, como nos filmes. Isso só aumentaria o caos. Invista desde já em estocar comida, utensílios e água potável. Aprender a conservar alimentos pode ser uma boa também. E não se esqueça de armazenar objetos essenciais, como comprimidos de purificação de água e fósforos impermeáveis (sim, isso existe, e você pode fazer em casa!).

 

Na hipótese de uma explosão nuclear…

… construa um abrigo. Considere que você deverá ficar nele por alguns dias. Aproveite para preparar um depósito de suprimentos para suas necessidades nesse período. E tenha equipamentos de comunicação. Um amigo que o ajude e embarque nessa com você seria muito útil para servir de alimento, caso necessário lhe fazer companhia.

 

E em caso de uma pandemia, vírus mortal ou guerra biológica?

Fique atento a alertas da OMS e ameaças em geral. Se um agente biológico se espalhar, vire um eremita proteja suas vias respiratórias, evite aglomerações e fuja das grandes cidades. Tenha uma caixa de medicamentos essenciais e tome suas vacinas. Melhor prevenir…

 

No caso de superaquecimento…

… significa que os astecas estavam certos e o sol vai explodir! Ou não. Ok. De qualquer modo, isso provavelmente implicará temperaturas altíssimas e toxicidade. Prepare-se para se esconder dentro da terra ou em abrigos aquáticos por um bom tempo. Talvez morar perto de geleiras traga algum benefício, não?

 

No caso de uma guerra entre seres espirituais, Armagedon ou Ragnarok…

… primeiro, não deixe ninguém marcar você com o 666. Resista. Já se os deuses nórdicos começarem a batalhar na Terra, e você não quiser levar a pior, se fingir de morto é uma opção. Quando tudo estiver tranquilo, levante e vá viver no mundo pós-apocalíptico (ou no que sobrar dele).

 

Em caso de uma rebelião das máquinas…

… não adiantará tentar dar curto-circuito, jogar água, tirar da tomada e outras manobras elementares. Você precisará ser bastante perspicaz. Trate de aprender tudo sobre programação e invista num ataque indireto, hackeando a máquina ou criando um vírus. Se tudo der errado e elas forem indestrutíveis, fuja para a selva ou uma ilha deserta. Máquinas e natureza simplesmente não combinam.

 

No caso de um apocalipse zumbi…

… separamos duas dicas superimportantes. A primeira é: aprenda a correr. Treine e ganhe resistência. Zumbis tradicionalmente são lentos. Mas, se por azar os zumbis do seu apocalipse forem atléticos, a segunda dica é: finja ser um zumbi também. Misture-se à multidão e se comporte como ela. Evite ser descoberto. Uma boa maquiagem e
técnicas teatrais podem ser úteis.

 

Finalmente, se o universo se expandir até se desintegrar…

… e formos espalhados por aí em milhões de pedaços, sem qualquer possibilidade de nos reunir de novo? Ah, aí já é demais. Nada que fazer. Você não sobreviveu ao fim do mundo. Game over.

 

Saiba mais: preppers.org | survivalblog.com | facebook.com/preppers | twitter.com/preppersbrasil |

channel.nationalgeographic.com/doomsday-preppers | sobreviventedofim.blogspot.com.br | hyperbate.fr/finsdumonde

Editorial – Quando chega o amanhã?

 

Por Bianca Sant'Anna Caballero e Amanda Manara

 

Quem nunca quis saber o futuro? Talvez ir a uma cartomante para descobrir se vai conhecer o amor da sua vida, ou quem sabe ser promovido no trabalho… Vai dizer que não é tentador? Mesmo os mais céticos não escapam das previsões do futuro, afinal, até aquele jornal que você assiste todas as noites faz questão de tentar prever o que vai acontecer: será que vou precisar levar guarda-chuva amanhã? Ou talvez um casaco…

 

De uma maneira ou de outra o futuro é algo que nos desperta interesse. Talvez pelo mistério de não sabermos o que vem pela frente, talvez pela magia de podermos fazer dele tudo que imaginarmos. A espera por esse tempo que parece tão certo molda nossas ações, nossos planos, nossos desejos.

Ilustração por Marcelo Grava
Ilustração por Marcelo Grava

 

“Preciso economizar dinheiro para ter uma velhice confortável…”

“Pretendo me casar por volta dos 30, o primeiro filho com 33 e o segundo com 36…”

“Vamos esperar o dólar baixar para ir à Disney, ok? Ano que vem já melhora…”.

 

O futuro está sempre lá, se aproximando, e nós estamos sempre aqui, aguardando sua chegada ou imaginando como será. O problema é justamente esse: aguardar e imaginar enquanto ele pode nem chegar. Diferente do que pensamos, o futuro é incerto, e deixar tudo para depois não é a melhor saída. A única certeza é o hoje, o agora, o já, e ele deve ser encarado como se não houvesse amanhã – afinal ele pode realmente não existir.

 

Ainda assim, as preocupações com um tempo que está por vir não cessam em nossas cabeças. São pessoas buscando a fonte da juventude de um lado, cartomantes sendo consultadas de outro. Preocupações com o futuro da crise e com a situação do mercado também são frequentes. “Será que as previsões econômicas tem alguma lógica de fundamento?”.

 

O imaginário não para no que vai acontecer amanhã, dentro de poucos anos ou quando estivermos velhinhos. É possível também imaginar as relações em um futuro bem mais distante, com os homens se tornando cada vez mais parecidos com máquinas e se esquecendo das relações pessoais. O futuro pode estar se transformando em uma distopia..

 

Aqui no Claro! exploramos um pouquinho de tudo que o futuro pode nos trazer. Mas não demora muito pra ler, já pensou se de repente acontece um apocalipse zumbi ou um vírus mortal se espalha pela Terra? O fim do mundo pode não estar tão longe assim (e você deve estar preparado).

Futuro do pretérito

 

Por Giovana Feix

 

2015-09-13 19.53.03

Com 77 anos de vida, 57 de casada, preciso admitir. Não sei bem o que fazer de tantas lembranças.

Meus filhos estão sempre aqui em casa, mas nenhum jamais teve interesse em abrir isso junto comigo – em conhecer esse quase museu de memórias que juntei ao longo da vida.

Fazia tempo que eu mesma não dava atenção a ele. Foi a mudança que me obrigou. O escritório é o cômodo que mais está dando trabalho: esse armário do canto direito, que costumo fechar a chave, tem tanta lembrança dentro que muitas vezes me vi hesitante em explorá-lo.

 

Quando abri estas portas, hoje, as coisas foram diferentes. Além do passado, era também o futuro que eu temia. Diferente do primeiro, este novo medo me trazia um frio gostoso à barriga. Eu e Silvio nunca fomos acomodados, mas, com a idade, as coisas mudam. Assim que nos demos conta, decidimos pela casa nova, no bairro onde, tanto tempo atrás, nos conhecemos e construímos nossa vida.

 

Aqui dentro estão, catalogados, os mais de quarenta álbuns de foto da nossa família. Diante deles, uma sensação estranha: ao contrário do que acontece com as madrugadas que passei organizando as imagens, já não lembro com clareza dos momentos que elas registram.

 

No canto direito está a caixa com minhas cadernetas. São mais de quinze, preenchidas de ponta a ponta com versinhos que escrevi, quando ainda não tinha família para fotografar. A tentativa de lembrar como foi composta minha vasta poesia também causa estranhamento. Desse tempo, o que pareço ter registrado com mais intensidade é a esperança: as cadernetas, muito além de momentos, têm o poder de me lembrar de sonhos. Elas são lembranças do futuro que, durante muitos anos, me dediquei a planejar.

 

Ainda que esses planos tivessem, sim, um espaço reservado aos álbuns de família, não posso negar que a ideia central do meu roteiro nunca chegou a se concretizar. Ter meus versinhos publicados sempre esteve rotulado, em um canto escondido dos meus pensamentos, como nada além de um sonho juvenil. Nenhum poeta famoso nasce em Caxias do Sul, eu pensava. Melhor seguir os conselhos da mamãe: as responsabilidades da casa e da família são as únicas capazes de fazer da menina uma mulher.

 

A tarde que passo relendo os versinhos atrasa a mudança e castiga  minha coluna, mas também torna evidente: a beleza do novo frio em minha barriga ultrapassa o mero frenesi da novidade.

 

Voltar ao bairro onde eu e Silvio nos conhecemos é voltar à sensação que um dia tive, de que as palavras me reservavam um futuro brilhante. Afinal, esse também é o bairro onde eu cresci, e onde, além das cadernetas, meu futuro foi um dia preenchido com sonhos.

 

Depois de finalmente terminar a separação do que vai à casa nova e o que vai ao lixo, é engraçado o quanto já não me sinto confusa sobre o que fazer das lembranças desse armário.

 

Não há mais espaço para receio. Ainda tem futuro pela frente, e quem sabe agora, com 77 anos de vida, 57 de casada, seja hora de apostar em ideias juvenis.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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