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Como os fósseis perduram ao longo do tempo

 

Por Laura Alegre, Gabrielle Torquato e Gabrielle Yumi

 

Arte: Mariana Arrudas; fotos: pixabay

 Arte: Mariana Arrudas; Fotos: Pixabay

 

 

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Este ditado, famoso na cultura nordestina, é literal considerando a realidade da região há cerca de 65 milhões de anos atrás e como ela é hoje. A Bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, é uma das principais unidades geológicas brasileiras e sofreu alterações ao longo de diferentes eras geológicas. Isso tornou o ambiente propício para que a vida antes existente ali resistisse à ação do tempo e pudesse ser encontrada na forma de fósseis.

 

Em uma escavação, apenas o olhar treinado de um paleontólogo pode identificar as diferenças entre as rochas sedimentares comuns e aquelas que escondem um organismo petrificado. Na região do Araripe, antes submersa por lagos e oceanos, é possível encontrar fósseis de várias espécies, de peixes a dinossauros.

 

Alguns desses achados podem ser vistos no Museu de Geociências da USP, na exposição Fósseis do Araripe, que conta com um acervo de 3 mil peças. Entre elas, o único pterossauro Tapejara navigans encontrado completo no mundo, além de cigarras, libélulas, escorpiões e espécies de peixes pré-históricos, como o extinto Oshunia brevis.

 

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Arte: Mariana Arrudas; Texto: Gabrielle Torquato e Laura Alegre; Fotos: Pixabay e imagens USP

 

Quando um exemplar como esse é encontrado, seu novo desafio é resistir à influência do clima e da ação humana. Na maioria das vezes, o profissional deve ter o cuidado de retirar o fóssil ainda inserido em outras rochas sedimentares, envolvê-lo em plástico bolha e garantir um transporte seguro até o laboratório.

 

Somente em ambiente controlado os pesquisadores podem extrair o fóssil com segurança, utilizando ferramentas como martelos e talhadeiras, soluções químicas e até tecnologias não destrutivas, como tomografias computadorizadas.

 

Das peças coletadas, aquelas em melhor estado são adicionadas à coleção de museus e recebem um número de identificação, usado para indicar informações como unidade geológica de coleta, especialista responsável e a caracterização da espécie, que agregam valor científico ao fóssil.

 

 

Por mais que várias descobertas tenham sido feitas, essa quantidade ainda é ínfima em relação à quantidade total de espécies que já existiram no planeta, pois a fossilização é um fenômeno excepcional que vai contra o processo de decomposição natural dos organismos.

 

A intervenção de especialistas pode desacelerar o desgaste dos fósseis, mas a verdade é que nem mesmo essas peças milenares durarão para sempre. Ao longo dos anos, as rochas vão ficando mais frágeis e podem quebrar ou se desfazer. Com a descoberta e a preservação desses patrimônios, são as informações obtidas que realmente resistirão à ação do tempo.

 

 


 

 

Colaboraram:

  • Juliana de Moraes Leme, professora do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, do Instituto de Geociências (IGC) da USP, e curadora da exposição Fósseis do Araripe, do Museu de Geociências.

  • Silvia Cunha Lima, trabalha como autônoma na curadoria e conservação de acervos arqueológicos, inclusive de peças encontradas na região da Amazônia

  • Eduardo Kazuo Tamanaha, do Grupo de Pesquisa “Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia” do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

  • Luciana Barbosa de Carvalho, pesquisadora em Paleontologia do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional da UFRJ

  • Silvana Zuse, professora do Departamento de Arqueologia (DARQ) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

  • Uiara Gomes Cabral, paleontóloga do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ

  • Octávio Mateus, professor de Paleontologia da Universidade Nova de Lisboa

Descolonizando a história

 

Por Rodrigo Santana

 

Ilustrações Mapas Pág 8 e 9

Hoje o MASP está mais cheio, é a última semana da exposição Histórias Afro-Atlânticas. A exuberância das cores, das formas das obras dos mais diversos países são como uma hipnose aos olhos. Impossível não pensar no quanto a harmonia das cores sóbrias, das formas clássicas que aprendemos nos livros didáticos é tão diferente de tudo isso o que vejo.

 

Sento-me no café do primeiro andar para encontrar Amanda Carneiro. Para se tornar uma cientista social formada em Estudos Africanos, transitou por diferentes cursos da USP que ofereciam disciplinas de temática africana. Na graduação, fez intercâmbio em Moçambique, onde pôde se aprofundar em pensamento político africano e mergulhar na refIexão sobre como o processo de libertação questionava os paradigmas ocidentais. Esse se tornou o seu tema de mestrado. A sua escolha pela trajetória multidisciplinar lhe abriu novas possibilidades de conhecimento, como o pensamento decolonial.

 

Amanda explica que o Brasil ainda vive sob influência de seu passado colonial. Essa influência se vê na versão oficial da história em que o fim da escravidão, por exemplo, é tido como uma benevolência da Princesa Isabel, e não como resultado das lutas e resistências dos povos negros. A versão oficial da história é sempre simplista, porque não contém a contradição. E sem a contradição, se desconsidera a multiplicidade de vozes, de narrativas que constroem a história.

 

Na última semana de outubro os totens de madeira, miçangas, trançados, bordados, tecidos, o ferro fundido, todos esses materiais tão incomuns em um museu e que ficaram por quatro meses na Histórias Afro-Atlânticas, se despedem de São Paulo. Mas não nos despedimos do nosso passado colonial que, como um fantasma, permanece vivendo na cultura e nas instituições.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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