logotipo do Claro!

 

Confira a edição online do Claro! Resistência

 

Por clarousp

 

Confira a edição online do Claro! Resistência

https://clarousp.wixsite.com/resistencia

Resistir é florescer | Editorial

 

Por Karina Merli e Pedro Ezequiel

 

Capa - editorial

Arte: Bianca Muniz; Foto: Agência Brasil

 

 

Na letra de uma canção, o poeta diz que as rosas não falam. Com a licença poética de Cartola, músico negro, afirmamos que as rosas são algo a mais: símbolos. E elas exalam momentos históricos de luta.

 

Momentos fortes, longe de lembrarem uma pétala de flor.

 

Assim como foi o maior símbolo de bravura contra o racismo, a morte e a desumanização dos tempos da colonização. Sob os cuidados de Zumbi e Dandara dos Palmares, essa resistência local luta, hoje, para ficar viva nos livros e na nossa memória. 

 

O claro! quer ilustrar a resistência que se enraizou na história, como a ditadura em nosso país, que reprimiu quem lutou pela volta da democracia. Se armar, naqueles tempos, era com braços e canções — inclusive como aquela que dizia que falaria das flores. Metros abaixo de suas raízes, há história também prestes a ser descoberta.

 

Mas há outros tempos em que a palavra tema vira o sinônimo da sensibilidade e delicadeza, como a rosa. Antes de tudo, é preciso aprender a semear e cuidar do desenvolvimento da resistência. Isso é um processo que começa na infância e cresce com a gente, ao longo da vida. Sempre de dentro para fora.

 

E quem é que pode não se preocupar com isso? Se contarmos que são os aparelhos eletrônicos, talvez não tenha nenhuma surpresa. Quem pode ser fraco, muitas vezes, é quem tem que manter a postura rígida.  

 

Mas convenhamos, todos podem se encantar com a beleza de uma doce tentação, enquanto se fascinam com provas extremas de reality shows ou com defesas gloriosas em uma partida de futebol.

 

Entender a necessidade de mudar e enfrentar a novidade é um caminho cheio de espinhos, o qual só é possível atravessar com os punhos cerrados, ciente de que ele não é curto.

 

E há muitas questões que ainda precisam ser encaradas no hoje: a ciência não é mais creditada, a nossa casa está em chamas. Quem é que resiste ao que parece o fim do mundo? Ou o quanto o mundo resistirá a nós?

 

É preciso marcar presença, como Marielle, e se atentar ao que acontece. Por mais que se esteja no mais pessimista dos cenários. Como disse outro poeta negro, Mano Brown, até no lixão é capaz de nascer uma flor. E lá, ela ficar. 

 

 

Expediente: Reitor: Vahan Agopyan. Diretor da ECA-USP: Eduardo Henrique Soares Monteiro. Chefe de Departamento: André Melo de Chaves Silva. Professora Responsável: Eun Yung Park. Editores de Conteúdo: Karina Merli e Pedro Ezequiel. Editores Online: Giovanni Marcel e Yasmin Caetano. Editores de Artes: Bianca Muniz e Mariana Arrudas. Repórteres: Caio Mattos, Caroline Aragaki, César Costa, Diego Bandeira, Diego Macedo, Fernanda Pinotti, Gabrielle Torquato, Gabrielle Yumi, Hugo Vaz, José Carlos Ferreira, Laura Alegre, Leonardo Lopes, Letícia Camargo, Luccas Nunes, Maria Laura López, Mariana Cotrim, Mayumi Yamasaki, Pedro Teixeira, Renan Sousa, Samantha Prado, Sofia Aguiar, Tainah Ramos, Tiago Medeiros e Vital Neto. Capa: Bianca Muniz e Mariana Arrudas. Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Prédio 2 – Cidade Universitária, São Paulo/SP, CEP: 05558-900. Telefone: (11) 3091-4211

Contra o intolerável, há resistência

 

Por José Carlos Ferreira, Renan Sousa e Tainah Ramos

 

Contra o intolerável, a resistência

Arte: Bianca Muniz; fotos: Bianca Muniz; Pixabay

 

 

Vinte mil. Esse é o número de pessoas torturadas durante as duas décadas de ditadura civil-militar no Brasil, segundo levantamento da Human Rights Watch (HRW), publicado em 2019. Pelo menos outras 434 pessoas foram mortas ou desapareceram.

 

As cifras fizeram parte da realidade da historiadora e ex-militante do Partido Operário Comunista (POC), Angela Mendes de Almeida, que perdeu seu companheiro, o jornalista Luiz Eduardo Merlino. Ele foi torturado e assassinado no DOI-CODI, em 1971.

 

Antes mesmo de perdê-lo, a historiadora já havia se engajado na luta de resistência contra o governo. Para ela, foi essencial o contato com ideias progressistas na universidade. “Você entrava na faculdade e um mundo se abria. Eram discussões pessoais e discussões que se faziam no movimento estudantil”, conta.

 

A influência do ambiente aconteceu com muitos estudantes, revela a pesquisadora do Memorial da Resistência e mestre em História Social, Julia Gumieri: “Uma grande parte passa a enxergar as desigualdades e sentir que isso é uma violência contra si, que no contexto da ditadura se intensifica, e a pessoa acaba entrando para uma organização [como um partido político]”.

 

Para Gumieri, cenários autoritários como o da ditadura trazem consigo movimentos de resistência política e social, que propõem modos de construir uma sociedade mais igualitária e quebrar uma autoridade considerada violenta.

 

As ações vão desde se engajar em partidos políticos até manifestações artísticas – no caso do Brasil, a música foi uma das principais expressões contra o regime, como Roda Viva, de Chico Buarque –, que usavam duplo sentido para passar pela censura.

 

 

INTOLERÁVEL

 

Na ditadura vivida por Angela, o fechamento do regime por meio do Ato Institucional n°5 (AI-5), em dezembro de 1968, mudou a vida de todos, independente do caminho que escolhessem: “Era um temor absoluto quando alguém era preso. A repressão chegava até a universidade, mesmo para quem escolheu não militar”. Por isso, frentes de resistência passavam por uma coletividade, conta. Ela mesma teve uma passagem rápida pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e entrou para o POC.

 

Mesmo  sem o contato com o ambiente universitário, a opressão também era sentida em outras esferas da sociedade. Um exemplo foi a formação de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), frentes religiosas de luta contra a ditadura. Nas CEBs, grupos católicos se reuniam para fazer uma leitura politizada dos evangelhos e defender os pobres, por meio de mudanças políticas e econômicas, explica o pesquisador em História Cultural da Unicamp, Mauricio Pelegrini.

 

“Onde há poder, há resistência. Sempre há a possibilidade de resistir e se revoltar contra o que você considera um governo injusto”, diz. Segundo Pelegrini, todos têm o ponto do “intolerável”, mas esclarece que o momento exato da explosão é imprevisível.

 

Enquanto em uma ditadura, a mobilização necessita de uma frente ampla, como partidos políticos e organizações da sociedade civil. Em uma democracia, as lutas são cotidianas e a resistência acontece o tempo todo, sem uma ruptura definitiva. Por exemplo, a aprovação de ações afirmativas, como as cotas raciais, que levaram anos de luta do movimento negro para se concretizarem, por meio da Lei de Cotas, de 2012.

 

Mesmo o reconhecimento das vítimas do regime militar se tornou uma luta de longos anos na democracia, revela Angela Mendes. Até hoje, ela e os familiares de Merlino buscam justiça para sua morte.

Colaboradores:

Alberto T. Ikeda, professor de Etnomusicologia, Culturas Populares e Metodologia de Pesquisa na Escola de Comunicações e Artes da USP;

Angela Mendes de Almeida, historiadora e ex-militante do Partido Operário Comunista (POC);

Mauricio Pelegrini, pesquisador em História Cultural da Unicamp;

Julia Gumieri, pesquisadora no Memorial da Resistência de São Paulo e mestre em História Social pela USP;

Renato Gonçalves, doutorando em Ciências da Comunicação na Escola de Comunicações e Artes da USP e professor da Escola Superior de Propaganda;

Walter Garcia, professor da área temática de Música do Instituto de Estudos Brasileiros da USP e pesquisador e crítico da canção popular-comercial brasileira.

Já checou a data de validade do seu aparelho?

 

Por Sofia Aguiar

 

CapaSofia1

Arte: Mariana Arrudas; fotos: Sofia Aguiar

 

 

O micro-ondas de Guilherme Ribeiro, dentista, completou 31 anos em 2020 e segue firme e forte esquentando a sua comida todos os dias. O aparelho já faz parte da história: viu o Brasil ganhar duas Copas do Mundo, sete presidentes no país e vive a pandemia da Covid-19. Sem perspectiva de uma nova compra, o eletrodoméstico contrasta com o novo lançamento da Apple que, em 13 anos, apresentou ao mundo o 12º Iphone.

 

A comparação entre os dois produtos é inevitável. Habituados com a ideia de que “comprar um novo é mais barato que consertar”, dizer que aparelhos antigos duram mais já soa realidade. A sensação de menor durabilidade fez surgir o conceito de “obsolescência programada”, em que o fabricante, de forma proposital, estabelece um prazo máximo de vida do produto. Apesar do imaginário coletivo, o Direito do Consumidor assegura a assistência técnica de qualquer produto, mesmo fora do prazo de garantia, como afirma o especialista em Direito Digital Fernando Peres.

 

Mas a teoria ainda está no campo de achar uma evidência real e é difícil comprová-la por conta da imensa variedade de produtos. O que ajudaria na comparação temporal, como pontua Clauber Leite, coordenador da área de energia e sustentabilidade do Idec¹, é ter a vida útil do equipamento declarada pelos fabricantes. “Porém, eles se restringem a falar só sobre a garantia, que é contra defeito”, conta.

 

Muitas vezes de forma inconsciente, as tendências de mercado estimulam a troca constante. Tem-se, assim, uma obsolescência psicológica. A dentista Rosana Beltrati, por exemplo, trocou o ar-condicionado de 17 anos para um modelo split “pois esteticamente ficava melhor”. Depois de “ceder à modernidade”, ela já está no terceiro aparelho em 16 anos. Segundo seu técnico de instalação, “os atuais ar-condicionados duram até cinco anos”.

 

Para Benito Muros, presidente da Feniss², a dúvida sobre a menor durabilidade dos atuais eletroeletrônicos só irá cessar quando “cada produto tiver um rótulo de vida útil descrevendo o tempo de uso, os possíveis danos que terá após o período de garantia e o custo dos reparos”. Mas Gabriel Paúba, que trabalha em uma loja de aparelhos usados, diz já constatar esta suposição pois, todo dia, “clientes ligam procurando uma geladeira usada”. 

 

Até isso ser comprovado, o micro-ondas de Guilherme resiste e o ar-condicionado de Rosana terá que ser trocado a cada cinco anos.

 

¹ Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

² Fundação Energia e Inovação Sustentável Sem Obsolescência Programada

Como a ciência sobrevive a fake news no Brasil?

 

Por César Costa e Tiago Medeiros

 

Fake news e movimentos negacionistas afetam a produção científica no Brasil. Passando por falhas na divulgação de informações e por escassez de recursos financeiros, o Claro! buscou entender como esses aspectos afetam a ciência em nosso país neste podcast.

 

A arte da retranca e dos placares magros

 

Por Diego Bandeira e Luccas Nunes

 

Capa - Diego e Luccas

Arte: Bianca Muniz; fotos: Pixabay, Freepik

 

 

Muitas vezes, jogar defensivamente é a única maneira de derrotar um adversário poderoso e cheio de craques no futebol, em uma típica batalha de Davi contra Golias. Contudo, essa não é uma tarefa fácil: os jogadores devem se comportar como peças em um tabuleiro de xadrez, fechando todos os espaços do campo e resistindo para que o adversário não crie oportunidades de gol.

 

Os zagueiros ficam postados de forma mais recuada, como cães de guarda entre os laterais, que, como  o nome sugere, ocupam os lados. Já os meias e atacantes ocupam espaços mais à frente para dificultar a armação de jogadas do oponente. Enquanto isso, o goleiro fica embaixo das traves como o último bastião defensivo, responsável por jogar um balde de água fria no atacante adversário.

 

Esse estilo de jogo, se bem executado, é eficiente, mas não costuma agradar. Qualquer um que vê uma partida espera muitos gols, dribles e lances bonitos. No entanto, quando um dos times joga na retranca com todos na defesa, é comum que a partida termine sem gols ou com uma vitória magra de 1 a 0 para algum dos lados. 

 

Porém, quem opta pelo jogo defensivo não está preocupado em dar espetáculo, e sim em vencer. Por isso, essa estratégia geralmente é adotada por equipes mais fracas em uma tentativa de resistir e derrotar oponentes mais fortes.

 

Ainda assim, a consagração de um time retrancado é possível, “mesmo que não seja tarefa fácil e dependa de resultados”, conta Celso Unzelte, comentarista esportivo da ESPN.

 

A Itália, em 2006, ganhou a Copa do Mundo jogando dessa forma. A equipe atuou de modo equilibrado durante o torneio, mas na final, frente ao elenco francês recheado de estrelas, se viu forçada a formar uma muralha defensiva. Com nomes como Cannavaro único zagueiro a ser eleito melhor jogador do mundo pela Fifa — e Buffon, eleito melhor goleiro da competição, a seleção sufocou o adversário e conquistou o tetracampeonato mundial.

 

Mais recentemente, pode-se citar a conquista da Libertadores da América pelo Corinthians em 2012, de forma invicta, tendo sofrido apenas quatro gols em 14 jogos. Como conta Unzelte, o clube era traumatizado com a competição por seu histórico de derrotas, e o divisor de águas para que a equipe acreditasse no título foi justamente uma defesa do goleiro Cássio.

 

Nas quartas de final do torneio, o time enfrentou o Vasco. O placar estava empatado, até que um erro de passe crucial por parte do Corinthians quase pôs tudo a perder. Os segundos que seguiram o lance pareceram uma eternidade para os 35 mil torcedores no estádio do Pacaembu. Enquanto isso, o atacante do time carioca, sozinho, carregava a bola em direção ao gol. Quando ele chutou, tudo já parecia perdido, mas Cássio fez uma importante defesa com a ponta dos dedos e manteve o time no páreo.

 

Daniel Teixeira, torcedor do Corinthians, viu o lance da arquibancada do estádio. Ele ainda lembra da emoção: “o estádio explodiu em alegria, foi como se tivesse sido marcado um gol”.

 

Defesa fraca, cobrança forte

 

Mas como esse estilo não é o mais vistoso, quando os resultados não vêm, as críticas são fortes. Após fraco desempenho em 2019, o que o técnico do Palmeiras mais ouviu foram gritos de “Fora Mano Menezes” e “retranqueiro” por parte da torcida. O resultado foi sua demissão após apenas três meses de trabalho.

 

Como explica Danilo Benjamim, treinador com passagens por clubes como Athletico-PR e Coritiba, “é mais complicado construir uma parede do que a destruir”. Por isso, o sucesso no futebol é muito atrelado a um jogo bonito e ofensivo, como o do Santos de Neymar, que conquistou diversos títulos entre 2010 e 2012 goleando boa parte de seus adversários.

 

Mesmo com essa cobrança por ofensividade e gols, o estilo defensivo ainda traz muitas alegrias. Uma vitória sofrida costuma ter um sabor muito bom para o torcedor.

A natureza ameaçada pelas chamas

 

Por Caio Mattos, Leo Lopes e Pedro Teixeira

 

Capa - CaioLéo`Pedro (2 versão)

Arte: Bianca Muniz; foto: Vinícius Mendonça – Ascom/Ibama; Pixabay

 

 

A terra arde. Flamas subterrâneas aquecem a semente de Bulbostylis paradoxa. Adaptada ao ambiente hostil, a flor popularmente chamada de “Cabelo-de-índio” germina apenas na presença do fogo. Embora natural do Cerrado, ela pode ser encontrada em regiões mais secas do Pantanal, bioma que está tomado pelas chamas desde julho de 2020.

Em uma escalada na intensidade das agressões de origem humana, nem mesmo as adaptações naturais são suficientes para que o ambiente resista às queimadas. Há mais de 35 anos como morador de Cáceres, a 220 km da capital Cuiabá, o biólogo e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso Claumir Muniz não se recorda de presenciar algo dessa dimensão.

A temporada de queimadas deste ano no Pantanal já é a pior da história desde o início dos registros, em 1998. O Inpe reportou 19.140 focos de calor em 2020, até 5 de outubro. O número supera os 17.489 focos acumulados nos três anos anteriores: 2019 (10.025), 2018 (1.691) e 2017 (5.773).

O também biólogo e professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana Cleto Peres destaca as perdas de fauna e flora. Dentro desse “capital de biodiversidade” destruído pelo fogo, estão muitos organismos desconhecidos que poderiam ter um potencial a ser explorado, por exemplo, pela medicina.

A morte de biodiversidade impacta os habitantes do Pantanal, em especial, os indígenas. Em meio a cardumes intoxicados e a mananciais acinzentados, os Guató, povo nativo da região, perderam fonte de alimento e água, denuncia a líder indígena Alessandra Guató.

Ao lamentar o fato de 87% dos 19 mil hectares de terra do seu povo terem sido consumidos pelas queimadas, ela conta que sua comunidade recolheu mudas nativas para reflorestar o território em uma tentativa de remediar a situação.

Para avaliar o estrago, o Senado criou uma comissão, cujo presidente, Wellington Fagundes (PL-MT), prioriza a criação de um estatuto para regulamentar o uso do solo e a conservação do bioma. Sem data para aprovação, ele complementará o Código Florestal, “que cita o Pantanal apenas em uma linha”, alfineta o senador. 

Além das ações humanas, há uma resiliência natural do bioma que pode reestruturá-lo em cerca de 40 anos, estima Peres. O tempo de resposta é prolongado pelo impacto das queimadas nas sementes locais e na fauna, morta ou expulsa de seu habitat pelas chamas.

Mesmo que a estrutura pantanosa seja retomada, ela não será mais a mesma, complementa o biólogo. Espécies adaptadas à região alagada do Pantanal podem não resistir ao fogo, restando só as que conseguem sobreviver  às chamas. A “cabelo-de-índio” ainda florescerá, mas cercada de menos vida e em um ambiente mais inflamável.

Esse embate entre natureza e destruição foi captado pelo fotógrafo Araquém Alcântara durante a sua estadia de duas semanas no bioma, em setembro. Enquanto permeava o Mato Grosso, Araquém se deparou com uma onça sobrevivente do fogo, “deitada na postura da Esfinge de Gizé sobre uma área totalmente queimada”. A cena lhe expôs que “apesar de toda a morte, a natureza resiste e se recompõe”.


Colaboração

Alessandra Guató, liderança indígena

Ana Paula Cunha, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)

Araquém Alcântara, fotógrafo renomado especializado na natureza brasileira

Claumir Muniz, biólogo e professor da Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT)

Cleto Peres, biólogo e professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Wellington Fagundes, senador da República e presidente da Comissão Temporária Externa do Pantanal

Fontes: “Banco de dados de queimadas”, do Inpe; “Monitor das Queimadas”, do Instituto Centro de Vida; “SPEI Global Drought Monitor”, oferecido pelo Governo da Espanha; “SPI – Monitoramento de Secas”, do INPE; “Sinopse Taxonômica de Bulbostylis Kunth (Cyperaceae) para a Região

Sul do Brasil”, de Rodrigo Endres Ardissone para UFSC em 2013.

Como os fósseis perduram ao longo do tempo

 

Por Laura Alegre, Gabrielle Torquato e Gabrielle Yumi

 

Arte: Mariana Arrudas; fotos: pixabay

 Arte: Mariana Arrudas; Fotos: Pixabay

 

 

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão”. Este ditado, famoso na cultura nordestina, é literal considerando a realidade da região há cerca de 65 milhões de anos atrás e como ela é hoje. A Bacia do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, é uma das principais unidades geológicas brasileiras e sofreu alterações ao longo de diferentes eras geológicas. Isso tornou o ambiente propício para que a vida antes existente ali resistisse à ação do tempo e pudesse ser encontrada na forma de fósseis.

 

Em uma escavação, apenas o olhar treinado de um paleontólogo pode identificar as diferenças entre as rochas sedimentares comuns e aquelas que escondem um organismo petrificado. Na região do Araripe, antes submersa por lagos e oceanos, é possível encontrar fósseis de várias espécies, de peixes a dinossauros.

 

Alguns desses achados podem ser vistos no Museu de Geociências da USP, na exposição Fósseis do Araripe, que conta com um acervo de 3 mil peças. Entre elas, o único pterossauro Tapejara navigans encontrado completo no mundo, além de cigarras, libélulas, escorpiões e espécies de peixes pré-históricos, como o extinto Oshunia brevis.

 

InfográficoALTERADO

Arte: Mariana Arrudas; Texto: Gabrielle Torquato e Laura Alegre; Fotos: Pixabay e imagens USP

 

Quando um exemplar como esse é encontrado, seu novo desafio é resistir à influência do clima e da ação humana. Na maioria das vezes, o profissional deve ter o cuidado de retirar o fóssil ainda inserido em outras rochas sedimentares, envolvê-lo em plástico bolha e garantir um transporte seguro até o laboratório.

 

Somente em ambiente controlado os pesquisadores podem extrair o fóssil com segurança, utilizando ferramentas como martelos e talhadeiras, soluções químicas e até tecnologias não destrutivas, como tomografias computadorizadas.

 

Das peças coletadas, aquelas em melhor estado são adicionadas à coleção de museus e recebem um número de identificação, usado para indicar informações como unidade geológica de coleta, especialista responsável e a caracterização da espécie, que agregam valor científico ao fóssil.

 

 

Por mais que várias descobertas tenham sido feitas, essa quantidade ainda é ínfima em relação à quantidade total de espécies que já existiram no planeta, pois a fossilização é um fenômeno excepcional que vai contra o processo de decomposição natural dos organismos.

 

A intervenção de especialistas pode desacelerar o desgaste dos fósseis, mas a verdade é que nem mesmo essas peças milenares durarão para sempre. Ao longo dos anos, as rochas vão ficando mais frágeis e podem quebrar ou se desfazer. Com a descoberta e a preservação desses patrimônios, são as informações obtidas que realmente resistirão à ação do tempo.

 

 


 

 

Colaboraram:

  • Juliana de Moraes Leme, professora do Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, do Instituto de Geociências (IGC) da USP, e curadora da exposição Fósseis do Araripe, do Museu de Geociências.

  • Silvia Cunha Lima, trabalha como autônoma na curadoria e conservação de acervos arqueológicos, inclusive de peças encontradas na região da Amazônia

  • Eduardo Kazuo Tamanaha, do Grupo de Pesquisa “Arqueologia e Gestão do Patrimônio Cultural da Amazônia” do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

  • Luciana Barbosa de Carvalho, pesquisadora em Paleontologia do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional da UFRJ

  • Silvana Zuse, professora do Departamento de Arqueologia (DARQ) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR)

  • Uiara Gomes Cabral, paleontóloga do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ

  • Octávio Mateus, professor de Paleontologia da Universidade Nova de Lisboa

Seguir padrões também é um direito

 

Por Mariana Cotrim e Mayumi Yamasaki

 

CapaMariEMay

Arte: Mariana Arrudas; fotos: Mariana Cotrim e Mayumi Yamasaki

 

 

Em 2018, a blogueira Bruna Vieira postou no Instagram uma foto com os cabelos lisos, o suficiente para que internautas fossem aos comentários criticá-la pela escolha, que não condizia com o processo de transição capilar pelo qual passava.

 

A resposta dos seguidores de Bruna mostram como é usual haver críticas sobre a escolha de alguém. De acordo com Nadini Brandão, especialista em psicologia clínica, socialmente, sofremos imposições para aceitar determinadas ideias.

 

Além disso, há o costume de colocar a identidade como uma caixa fechada, o que leva à crença de que ser de certo grupo, ou apoiar uma ideia, não dá abertura para um comportamento diferente do esperado. Bruna, que mostrava em seu perfil o processo para aceitar os cachos, foi criticada por aparecer uma vez com os cabelos lisos, simplesmente por ir contra a expectativa de quebrar esse padrão. Mas ela não é a única que sofre por isso.

 

Izadora Pigozzo adora seguir blogueiras que prezam o amor ao próprio corpo, magro ou gordo. Mas está tentando emagrecer. Ao perder peso, sentiu-se hipócrita por acompanhar pessoas que falam em aceitar-se e, ao mesmo tempo, resistir a essa ideia. Eduara Terra acha impossível lidar com as pressões, que vêm de todos os lados: o da autoaceitação e o da manutenção de padrões antigos, como o cabelo liso, que a agrada mais que seu cabelo natural, volumoso.

 

Uma simples mensagem sobre o poder de “aceitar-se como é” nas redes sociais não aborda as singularidades da autoaceitação. Quando discute-se o tema online, o espaço para conflitos é potencializado e, no meio dos disparos, pessoas como Izadora e Eduara ficam confusas.

 

Diana Bado também está no meio dessa encruzilhada. Quando se depila, sente desconforto entre as amigas da faculdade, que não costumam fazer o mesmo. Por outro lado, quando deixa os pelos das axilas crescerem, as viagens de ônibus são constrangedoras,  pois todos a olham assim que levanta os braços para se segurar. 

 

É difícil suprir todas as expectativas externas. Por isso, o debate que envolve a quebra de padrões deve estar relacionado a uma busca individual e consciente. O problema é que, no mundo virtual, o assunto é tratado majoritariamente sob o enfoque da questão estética, e aceitar-se vai muito além disso, de acordo com Nadini.  

 

Na visão da especialista, o autoconhecimento visto de forma global significa compreender a si mesmo e olhar para si como um ser complexo, e esse exercício extrapola a parte estética. É a partir de uma análise mais profunda da própria imagem, comportamento e papel social que alguém pode se conhecer o suficiente para saber o que quer mudar ou preservar.

 

No entanto, a cientista social Aline Tusset Rocco, lembra que as pessoas só são, de fato, livres para escolherem o que querem fazer com os seus corpos, quando sabem de onde vêm os padrões estéticos e comportamentais que as influenciam. Isso porque os gostos são formados socialmente: aprendemos que o liso e o magro são bonitos, e por isso eles ainda são parte hegemônica de expressões, o que os torna padrões. 

 

O ideal, na opinião da Aline, seria que todos os tipos de corpos tivessem o mesmo nível de exposição para que a escolha fosse mais justa. Como isso não acontece na prática, o discurso da autoaceitação torna-se mais forte hoje, e resistir a ele pode ser visto como uma afronta à quebra de padrões.

 

O movimento que caracteriza o processo de autoaceitação leva um indivíduo a conhecer-se e mudar a partir do que lhe faz sentido. Izadora passou por um processo até entender que pode, aos poucos, querer ser magra, e que não precisa se sentir mal por isso, se a fará bem. Com a consciência de onde vêm os padrões, manter-se neles não significa necessariamente resistir ao processo de aceitar-se.

 


Colaboraram

Aline Tusset de Rocco – mestra em Ciências Sociais, focou sua pesquisa na relação de mercadorias de consumo com a construção de identidades em meios digitais.

Nadini Brandão de Souza Takaki – Formada em Psicologia Clínica na Abordagem Centrada na Pessoa, mestre e doutoranda em Psicologia pela Puc-Campinas.

*Feito com base nos relatos de Diana Bado, Izadora Pigozzo, Eduara Terra, Maria Eduarda dos Santos e Vânia Cristina Selarin.

Superar a insegurança: o desafio nas mudanças organizacionais

 

Por Fernanda Pinotti

 

CapaFefa

 Arte: Mariana Arrudas; fotos: Pixabay

 

Todo dia você faz tudo sempre igual. Acorda às 6h da manhã, toma café e vai para o trabalho. Lá você senta na sua mesa e liga o seu computador, você sabe quem vai sentar ao seu lado e sabe exatamente o que fazer. Parece assustador pensar que toda a sua rotina pode ir por água abaixo, caso um software novo torne sua função desnecessária. Ou caso uma pandemia, do nada, force todo mundo a se adaptar a uma nova realidade no ambiente de trabalho.

 

Mudanças em uma organização afetam tanto o coletivo como cada um individualmente, e a  dificuldade em se adaptar está atrelada à insegurança perante o desconhecido. A psicóloga Valéria Marques explica: “Se antes a pessoa estava confiante, agora ela passa a se sentir uma iniciante, perdida.” E acrescenta que até nosso organismo tende a resistir. Como buscamos sempre economizar energia, é preferível para o corpo repetir comportamentos conhecidos, que exigem menos esforços neurológicos.

 

Além dos fatores individuais, a cultura e a estrutura da organização também definem a relação da empresa com o novo. O professor de administração empresarial no Ibmec, Fábio Affonso, explica: o primeiro diz respeito aos valores e comportamentos compartilhados pelos funcionários, e o segundo às regras e normas que a empresa deve seguir. “O setor de aviação, por exemplo, tem muitas normas internacionais, é uma restrição natural do setor à inovação”, ele completa.

 

Mesmo que a cultura de determinada organização seja pouco adaptável ao novo, em momentos de necessidade isso pode mudar. “Há restrições em transformar comportamentos que vem dando resultados positivos, por isso o momento de crise é um ambiente propício para a mudança acontecer”, o professor fala. A pandemia forçou a maior parte das empresas a adotar tecnologia como parte central de seu funcionamento, acelerando esse processo de modernização.

 

As adaptações no ambiente corporativo, no entanto, só funcionam quando todos sabem o seu propósito. Nisso concordam o professor Fábio Affonso e o Ronaldo Ferreira Jr., sócio-diretor de uma agência de marketing. “As pessoas têm que se sentir incluídas na mudança”, explica Ronaldo. Ao entender as novas direções, os contribuintes se sentem menos inseguros, e isso só é possível através do diálogo feito de forma horizontal. “As empresas são tocadas por pessoas, uma empresa não faz nada que não seja através de pessoas”, ele completa. 

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com