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Mais estranho que a ficção

 

Por Isabelle Almeida

 

É uma noite fria. Mr. Jones está sozinho no quarto. Sentado na poltrona, ele folheia o jornal sem prestar muita atenção. De longe pode-se ouvir o ruído de um disco de jazz tocando. Seus olhos se abrem e fecham, sonolentos. Alguma coisa está acontecendo aqui e você não sabe o que é. Sabe, Mr. Jones?*

É um rapaz de boa aparência, musculoso e de cabelo loiro. Ele não sorri enquanto conta para o repórter como foi assaltado e hostilizado, “fomos parados por bandidos que fingiam ser policiais”, declara sem piscar.

Mr.Jones pode ver o rosto das pessoas reunidas na sala enquanto assistem ao noticiário. “Por isso que não se deve fazer as Olímpiadas em países do terceiro mundo”, ouve alguém dizer.

Mas Mr.Jones se sente inquieto. Ele olha para a mulher ao seu lado e percebe que ela não tem rosto, ninguém ali tem. Vozes se repetem sem parar em sua cabeça, “O americano Ryan Lochte… pobre Ryan Lochte, assaltado em um país de terceiro mundo”. Assustado, ele se afasta até bater a cabeça contra a parede.

Ele abre os olhos e se vê parado em frente a uma casa. Uma menina abre o portão e sai para a rua, passando por Mr. Jones como se ele não existisse. Ela tem o celular em mãos e parece muito entretida olhando para a tela. Mr. Jones demora a entender o que se passa, mas percebe que ela está capturando pokémons. Algo ruim está para acontecer. Ela se afastava mais e mais, indo em direção ao rio. Quando finalmente para, seus olhos estão fixos em uma sombra deitada no chão. É um cadáver.

A televisão estava ligada, mas ele não prestava atenção. Ouvia a mulher reclamar com uma voz rancorosa e apenas concorda sem demonstrar emoção. “É uma piada de mal gosto. Uma piada de mal gosto”, ela repetia inconformada. Como poderia a maior democracia do mundo eleger um bilionário racista como Donald Trump?   

Em um estalo, Mr. Jones acorda. Levemente perturbado, se levanta e anda até a janela. Lá fora, a cidade se estende como um aglomerado sem sentido de luzes e barulho. Uma neblina espessa paira pelas ruas como uma doença. Mr. Jones coça a cabeça. São apenas sonhos, ele pensa. Apenas sonhos estranhos.

*Something is happening and you don’t know what it is. Do you, Mr. Jones? (Ballad of a Thin Man- Bob Dylan)

Mente sai, corpo fica

 

Por Nairim Bernardo

 

Você já teve aquela sensação de que o seu sonho parecia muito real ou mesmo que você estava acordado dentro dele? Pois bem, pode ser que não seja coisa da sua cabeça. Ou melhor, pode ter acontecido algo muito além da sua cabeça. O que alguns pensam ser sonho, outros acreditam que seja projeção astral.

 

Funciona assim: quando dormimos, nossa mente deixa de se manifestar no corpo físico e passa a se manifestar em um plano não material. Caso você esteja inconsciente nesse plano imaterial, irá ter devaneios, fantasias e pensamentos da mente física, ou seja, sonhos. Já se estiver consciente, será como se estivesse acordado no plano material, poderá fazer o que quiser, ir para onde quiser e encontrar pessoas (vivas ou não). As possibilidades são infinitas. Mas se você ainda não conseguiu atingir uma boa consciência e lucidez sobre essas questões, uma experiência astral não muito forte irá te parecer apenas um sonho mais nítido do que outros.

 

As explicações e usos para esse fenômeno variam. O Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia oferece um curso com material didático, carga horária de 50 horas, aulas teóricas e práticas para quem quer investir na autopesquisa e no desenvolvimento pessoal. Mas, segundo Morgana Pereira, bruxa e astróloga, “A projeção astral faz parte do trabalho mágico no que diz respeito a manipulação de energia. Pode ser para o bem ou mal dependendo de quem e como faz”. Já Roberto Pineda é administrador, tem 64 anos, faz projeções desde bebê e em 2010 criou um blog para esclarecer dúvidas e relatar suas experiências. Para ele, não há nada de espiritual nisso, “As projeções nos proporcionam conhecimento próprio, nos libertando de condicionamentos, formatos, medos e crendices”, defende.

 

Se toda essa viagem te deixou confuso, é hora de acordar. Mas como voltar do astral? Segundo Roberto, “Basta se concentrar no corpo físico. Além disso, é normal querer continuar lá,mas ser trazido de volta por algum incômodo físico ou por uma emoção mais forte no ambiente astral”. É raro, mas também podem ocorrer dificuldades no retorno. Caso a pessoa acorde e sua consciência ainda se manifeste parcialmente no corpo material, não conseguirá reativar totalmente o corpo físico, ficando paralisada.

 

O que alguns chamam de “catalepsia projetiva”, a ciência nomeia de “paralisia do sono”. Os sentidos despertam durante o REM- fase mais profunda do sono, onde ocorrem os sonhos – mas os músculos não respondem. A pessoa fica paralisada, sem conseguir abrir os olhos, mas com a sensação de que está vendo o que acontece ao redor. Segundo a literatura médica, é normal ter alucinações durante esses episódios. Se você já teve isso, saiba que não está só. Pesquisas de 2011 da Universidade da Pensilvânia indicam que 8% da população mundial, 28% dos estudantes e 32% dos pacientes psiquiátricos já tiveram pelo menos um episódio de paralisia do sono.

 

Dependendo da explicação que mais convença, a hora de dormir pode ser apenas um momento de descanso ou a plataforma de embarque para uma grande viagem. Em caso de emergência, é recomendável procurar um especialista (seja ele uma bruxa ou um neurocientista).

 

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Por Nairim Bernardo

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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