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Quanto tempo temos?

 

Por Iasmin Cardoso e Sarah Lidice

 

Pisamos em um planeta repleto de recursos, inclusive essa pequena quantidade de areia, que traz consigo a história da vida durante os mais de 4,5 milhões de anos de surgimento da Terra. Na maior parte desse período ela soube enfrentar inúmeros problemas, se adaptar com o tempo e sofrer com extinções em massa. Entenda porque estamos sendo afetados mais do que nunca pelas mudanças climáticas causadoras do aquecimento global e problemas ambientais na reportagem visual de Iasmin Cardoso e Sarah Lídice.

Mente e prazer

 

Por Isabela Marin

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

Tic-tac. O relógio de cuco bate meio-dia.

Ouço de fundo os ponteiros batendo no relógio. Será que realmente tranquei as portas? Toque, afago, sinto um queimar começando aos poucos. Uma saudade, há quanto tempo não era tocada desta forma. Ainda que o impulso de me desprender e viver o momento tome cada vez mais forma dentro de mim, avisos latejantes batem no fundo de minha mente.

Tic-tac. É meio-dia e um.

A comida está por fazer, vou ter que ser rápida. Hoje as tarefas do trabalho vão tomar toda a tarde. Uma pequena angústia se instala. Saco! De novo esses pensamentos atazanando as raras oportunidades que encontramos para nós. O estresse tem me atrapalhado constantemente na concentração, são apitos insistentes na minha mente, quando não são os incômodos com ele.  

Tic-tac. É meio-dia e dois.

Os ponteiros continuam batendo. Os sons do cuco estão me enlouquecendo. 

Costumava gostar tanto desse estímulo, o que está acontecendo? Sinto que estou demorando, ele irá ficar cansado. Se concentra! Esconda suas expressões! Mas, talvez, se fosse um pouco mais para a minha esquerda e ritmado, será…

Tic-tac. É meio-dia e três.  

Inspiro e expiro pausadamente para retornar ao presente. Uma calma volta aos poucos para meu peito, que agora briga com uma onda de calor que vem de dentro. Respiro e acompanho lentamente essas sensações. Vou sentindo a perda das paredes que antes me sustentavam nesse embate consciente comigo mesma. Estou me sentindo viva, ao mesmo tempo que todo meu corpo está entrando em uma onda inebriada. Sim, quem sabe voltei aos ponteiros exatos do meu relógio.

Tic-tac. É meio-dia e quatro.

A onda que me queima bate tão depressa como se vai. Minha mente volta a martelar. A preocupação com a performance agora deixa meu peito frio e a cabeça quente, correndo com possibilidades e alternativas de poses. Como foi que fiz na última do mês passado mesmo? Tente lembrar…

Puff, sozinha as coisas são tão mais fáceis. Talvez na próxima dê, quem sabe.

Tic-tac. Tic-tac. 

Já não conto mais o tempo. Os ponteiros me entretêm enquanto espero acabar. Como a sexóloga da TV pode falar que o sexo é um interlúdio criativo? Como desligar minha atenção e objetividade nesses momentos? Ideias dançam na minha cabeça…Talvez eu deva voltar a falar mais com ele sobre o que gosto, o que quero. Mas depois de tanto tempo juntos, faz sentido, será?

Tic-tac. O cuco canta.

Quem sabe na próxima.

Colaboraram:

Carolina Degani, terapeuta sexual.
Guilherme Conde, psicanalista, professor e jornalista.
Virginia Gaia, sexóloga holística.

Vida Apressada

 

Por Pedro Guilherme e Rebeca Alencar

 

Correr para chegar a tempo, para entregar as tarefas. Tudo isso tem um preço. A sensação de que o tempo que temos nunca será suficiente às vezes pode nos influenciar a tomar decisões que implicam diretamente em nosso bem estar. Veja os dilemas da vida apressada nesta reportagem para o Claro! ampulheta.

De volta para o presente

 

Por Bruno Miliozi e Lucas Zacari

 

Nostalgia: um sentimento que provavelmente todos já vivenciaram. Mas como é que a nostalgia acontece? Como pode uma lembrança, um momento aparecer de forma tão vívida em nossos pensamentos. Para entender como isso ocorre, ouça o podcast “De volta para o presente” de Bruno Miliozi e Lucas Zacari para o Claro! Ampulheta.

A mobilidade inconsciente

 

Por Pedro Ferreira

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

Olhos fechados. Respiração sutil. Corpo imóvel. As referências que podem facilmente ser associadas a uma pessoa dormindo também compõem um quadro de inconsciência mais profundo e ainda misterioso, o coma.

A condição é caracterizada pela perda prolongada da consciência e a ausência de resposta a estímulos do ambiente. Ele é um estado que evidencia lesões estruturais ou não estruturais do Sistema Nervoso Central decorrentes de traumas, Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs), tumores, inflamações e outras condições.

Apesar de poder acontecer de forma natural, o coma também pode ser induzido através de fármacos para preservar a região afetada. Wagner Tavares, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da FMUSP-SP, conta que o objetivo dessa abordagem é reduzir o funcionamento dos neurônios para poupá-los de atividade em situações que demandam repouso do cérebro.

Esse foi o caso de Jaine Silvestre, profissional de Recursos Humanos. Por ter tido complicações após uma cirurgia, teve uma infecção generalizada e foi induzida à condição. Ela conta que, enquanto estava desacordada, sabia que estava em um hospital, mas não lembrava o motivo. A sua inconsciência foi tragada por pesadelos. Em sua mente, as enfermeiras tentavam matá-la queimada ou afogada, e era perseguida a todo instante. Tudo isso sentido vividamente por ela, mesmo desacordada.

Duas semanas se passaram. Ela ouvia sua família falando com ela, mas não conseguia responder. Aos poucos foi retomando a consciência até despertar, confusa com o que havia acontecido e com quanto tempo havia se passado. Segundo Tavares, é comum que pacientes percam a noção temporal durante o coma e acordem confusos. Na grande maioria dos casos, eles não se lembram de qualquer coisa.

Para Jaine, o estado de coma foi um intenso processo espiritual e psicológico. O tempo que passou desacordada na verdade despertou nela um senso de gratidão e uma nova ótica para enxergar o mundo. Ainda que imóvel e inconsciente, o tempo passa e a vida continua.

Colaboraram:

Jaine Silvestre, profissional de Recursos Humanos

Wagner Tavares, neurocirurgião do Hospital das Clínicas da FMUSP-SP

O sabor do tempo

 

Por Vinicius Machuca

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

Whisky puro com gelo? Duplo? Com energético? Prefere o tradicional ou o saborizado? São muitas perguntas que rodeiam o consumidor na hora de escolher como vai tomar seu drink. O whisky é uma bebida muito antiga sendo produzido pela primeira vez na Escócia em 1494 e até hoje é um dos carros chefes de bares e festas.

A bebida tem um gosto bem marcante que varia devido a diversos fatores, como o tempo, o barril em que é reservado e a forma em que é destilado na sua produção.

É impressionante a maneira que sommeliers especializados em whisky conseguem desvendar todos os gostos presentes na bebida e descobrir cada detalhe presente nela.

É comum ver em supermercados whiskys de valores bastante elevados e que tem uma idade avançada. Bebidas que ficaram 12, 18 até 30 anos maturando são facilmente encontradas e levam a fama de serem bebidas mais sofisticadas. Mas como o leigo pode sentir a diferença entre um whisky de alto nível e envelhecido e um whisky básico e mais jovem? 

Tierri Gabriel, dono do canal no youtube Tierri Whisky explica a diferença no sabor de bebidas que ficaram bastante tempo no processo de maturação. “Um whisky envelhecido tem um sabor mais concentrado, e mais amadeirado por absorver o gosto do barril”

O barril em que a bebida fica reservada com o passar dos anos interfere diretamente no whisky, podendo modificar totalmente seu sabor. 

O tempo tem ação direta no sabor final do whisky, para ter uma bebida com sabor frutado é necessário uma grande preparação. O barril utilizado nesse tipo de whisky já vinha de produções anteriores de vinho. Com o passar do tempo a madeira do barril absorve o sabor do vinho e após o whisky ficar maturando por anos no recipiente esse sabor deixa um toque na bebida a deixando com um sabor de frutas vermelhas. 

Barris com madeira mais nova também tem espaço na produção. A pouca ação do tempo neles faz o whisky ficar com um gosto apimentado, pois a bebida fica com uma pitada de pimenta do reino e canela, conhecidos como os temperos do whisky. 

Outros sabores comuns no mundo dos whiskys são os doces e o defumado. Nesses casos o barril tem ação fundamental. No caso do sabor doce é necessário barris de bourbon e o sabor defumado é adquirido com o tempo em barris carbonizados.

O tempo é fundamental na produção do whisky, porém em lugares adequados para a sua maturação. Não deixe sua garrafa mofando no armário, pegue um copo com gelo, algum tipo de acompanhamento de sua preferência e desfrute um bom drink sem esquecer de beber sempre com moderação.

Colaboraram:

Tierri Gabriel: Dono do canal Tierri Whisky

Assessoria da empresa Union Destillery

O diagnóstico não pode esperar

 

Por Cadu Everton

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

A vida não é como uma ampulheta, em que a areia está sempre se esvaindo, e quando ela acaba,  é possível começar tudo novamente. Por isso, em busca de diminuir a velocidade que a areia flui, a agente de saúde, Roseli Maria, caminha pelas ruas de Diadema, região metropolitana de São Paulo, para orientar os moradores sobre a necessidade de ir ao posto de saúde. No entanto, muitos hesitam em buscar assistência médica.

Para a médica da família, Magali Natashi, a recusa por atendimento médico está na lentidão do sistema público, o que faz com que muitos pacientes procurem o serviço de saúde apenas quando já estão sentindo os sintomas. 

Ela acrescenta que  esse fator dificulta o diagnóstico precoce, principalmente no caso de doenças silenciosas, como a diabetes, que caso não seja tratada, se manifesta com sintomas graves. A medicina preventiva serve para frear a velocidade com que a areia da vida se esvai pela ampulheta. Porém, muitos têm visto a vida escorrer rápido demais sem ao menos perceber. Um estudo feito em 2021 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) mostra que 4,8 milhões de adultos convivem com a doença no Brasil sem terem sido diagnosticados.

Mas nem sempre o diagnóstico precoce está relacionado a uma corrida contra o risco iminente de morte. Apesar de possíveis sintomas graves, é viável conter a diabetes com a realização de dietas, exercícios físicos ou até mesmo insulinoterapia e ter uma vida normal, sem grandes perigos. 

A medicina preventiva tem também o papel de ir além do diagnóstico de enfermidades, como por exemplo no caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Não se trata de diagnosticar para ganhar mais tempo de vida, afinal, o espectro autista não é uma doença, mas sim um distúrbio do neurodesenvolvimento, segundo a pediatra Ana Márcia Guimarães. 

Indivíduos com esse transtorno possuem características, como limitações sociocomunicativas e padrões comportamentais repetitivos. Segundo dados do CDC (Center of Diseases Control and Prevention), estima-se que 1% da população brasileira possui TEA. 

O tempo é essencial na identificação do autismo, e deve ser feito na infância, pois nessa fase há maior neuroplasticidade cerebral, ou seja, é possível estimular com mais facilidade as conexões cerebrais dos pacientes. Ana Márcia Guimarães afirma que, caso o diagnóstico seja feito depois da infância, há maior possibilidade desses pacientes desenvolverem ansiedade e depressão, mas isso dependerá do grau de espectro de cada indivíduo.

O diagnóstico precoce não está relacionado unicamente na identificação e tratamento de doenças, mas sim a auxiliar as pessoas a aproveitarem com mais qualidade sua existência. Nem sempre se trata de salvar alguém de uma “sentença” de morte, mas de dar fluidez à passagem de tempo de cada um na ampulheta da vida.

Colaboraram:

Magali Natashi – Médica da Família da Unidade Básica de Saúde Promissão

Ana Márcia Guimarães Alves – Pediatra, membro do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento

Roseli Maria – Agente de Saúde da Unidade Básica de Saúde Promissão

Boa noite, Seu Zé!

 

Por Theo Sales

 

Arte e Imagem: Ana Paula Alves e Maria Clara Abaurre

Com um boné da Nelore, botina de couro e casaco cobrindo até o pescoço, Seu Zé, hoje aos 58 anos, relembra da juventude correndo em meio aos galhos secos e espinhos em um pega de boi. Correndo em cima do cavalo nas vaquejadas no interior de Alagoas, o tempo parecia passar mais rápido. Hoje, nas noites frias em São Paulo, o relógio parece congelar.

José Gabriel da Silva, chamado popularmente de Seu Zé, é vigia noturno na capital São Paulo. Enquanto a maioria dorme, ele se mantém vigilante. Nas noites, o tempo teima a passar. De quando em vez, alguém passa e interações de segundos fazem o ponteiro correr mais rápido. “Boa noite, Seu Zé!”, ao que ele responde com um sorriso no rosto. Após, o silêncio volta a reinar e o os segundos demoram horas.

Ele abandonou sua terra em busca de trabalho e, na riqueza de São Paulo, Seu Zé encontrou a pobreza de tempo. Sua história remete ao livro Uma geografia do tempo, do psicólogo Robert Levine, que mostra que países e lugares mais industrializados, populosos e voltados ao individualismo são mais opulentos, porém “escassos” de tempo. O ritmo da vida marcado pela precisão dos relógios e máquinas voa tão rápido que as 24 horas do dia parecem não ser suficientes. 

Laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer. Deixai fazer, deixai ir, deixai passar. Poderiam muito bem ser versos de um poema sobre o tempo, mas se trata da máxima do liberalismo econômico, que poderia ser melhor representado por uma expressão latina clássica: tempus fugit. O tempo foge. A lógica neoliberal subordina a noção do tempo ao cronômetro e acelera a forma como o medimos e sentimos, como sustenta a psicóloga Umbelina do Rego Leite. 

De dia, nunca há tempo, nem para pensar. De noite, tão cansados que estão, querem apenas retornar a suas casas e descansar. Em meio ao fluxo ininterrupto e sempre calculando o dia seguinte, pensar o tempo é como carregar água numa peneira. 

Na contramão desse movimento incessante, como alguém que abre os olhos no meio da noite e aos poucos vai enxergando na escuridão, Seu Zé se acostumou a ver a areia cair. Então o sol nasce e a ampulheta vira, dando início a mais um ciclo de encontros e desencontros com o tempo. O “bom dia, Seu Zé!” marca o recomeço diário. Ele comenta com uma das pessoas que passa: vamos que o dia é longo. Alguns, mais longos que outros…

Colaboraram:

José Gabriel da Silva, o Seu Zé, vigia noturno
Umbelina do Rego Leite, psicóloga e professora de Psicologia da UFPE
Caio Barbosa Cavalcanti, estudante da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas

Uma pitada de perguntas e criatividade a gosto

 

Por Mariah Lollato

 

“Deixa eu dar uma pancada na orelha do leitor.” É esse o objetivo de André Balbo, escritor e editor da revista literária Lavoura, ao iniciar um conto. Impactar quem está do outro lado também é o que desejam Edgar do Cavaco, compositor, e Lígia de Campos, atriz do grupo de teatro Esparrama. Perguntar para gerar reação os movimenta.

“Qual mensagem quero passar ao me sentar para escrever?”, se questiona Edgar, a cada nova canção. Compositor profissional, a música é, para ele, além de meio de vida, uma maneira de tocar o público. O mesmo acontece com o grupo de teatro de Lígia, que estuda conexões entre infância, cidade e arte. 

Para atingir seu objetivo, é preciso que Edgar se indague sobre a melhor maneira de construir uma história: “Em que formato ela será composta? Qual será seu fio condutor?” Como o compositor, André e Lígia também levantam questionamentos relacionados à narrativa. No caso dos romances, os personagens tem papel fundamental dentro dela. Por isso, o escritor se pergunta se quem surgirá primeiro será a história ou se a narrativa será construída para dar lugar a um personagem já idealizado. 

Além destes questionamentos, Lígia enxerga também vínculo entre dúvidas deixadas por um espetáculo e o surgimento de outro. É o caso de Navegar, obra criada com base em perguntas sobre o imaginário das crianças acerca de São Paulo, que o grupo se fez ao fim da peça anterior. Para respondê-las, uma pesquisa ouviu dos pequenos o que a metrópole significava para eles. O resultado foi transformado em espetáculo, e contou-se uma nova história. 

“A consequência de nossas peças tem sido perguntas. Outros questionamentos vem e isso é maravilhoso, porque alimenta o grupo”, conta a atriz. Na literatura, André também se depara com a tentativa de responder em novas obras questões deixadas pelas anteriores. Isso acontece no uso do humor em seus textos: o escritor busca que ele sirva à mensagem do conto, sem que se limite a apenas um vício.

Edgar, por outro lado, não vê conexão entre a jornada vivida em uma composição e o surgimento de outra. “Quando começo uma música, começo do zero”, diz. O que confirma: as dúvidas levantadas são distintas. Mas, entre os três autores, o que não falha em se repetir é o processo de fazer perguntas, combustível para continuarem criando

 

Podcast Tempo no silêncio

 

Por Marcos Hermanson e Diego Smirne

 

Neste podcast, os nossos repórteres conversaram com adeptos da yoga e meditação para entender como suas práticas alteram a percepção de tempo.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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