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Expansão das fronteiras do planeta Terra

 

Por Rafael Ihara

 

 

Estrelas
O tão vasto Universo, que estamos longe de desbravar. Foto: xxx

 

Já tentou se concentrar pra ouvir a conversa alheia no metrô, no restaurante, na fila do banco? Ou já diminuiu a velocidade do seu carro pra saber como foi o acidente que está obstruindo a avenida? É provável que sim. As pessoas fazem isso simplesmente porque existe algo dentro delas: a chamada curiosidade. Graças a ela descobrimos muita coisa na ciência, na história… Chegamos até a pisar na Lua. A curiosidade natural do homem faz com que ele queira sempre  – inclusive as do nosso planeta.

 

 

Segundo o vice-chefe do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), professor Roberto Costa, é essa curiosidade que impulsiona os estudos desenvolvidos tanto na astronomia (estudo dos planetas, da estrutura do universo), quanto na astronáutica (prima da engenharia, que consiste na exploração espacial com foguetes, sondas, satélites, naves).

 

 

O pesquisador do IAG fez questão de salientar que muitas pessoas e veículos de comunicação acreditam que deve-se explorar se outros planetas possuem condições de abrigar a vida humana porque a Terra não conseguirá mais, daqui a algum tempo, abrigar seres humanos. Costa explicou seu posicionamento dizendo que a Terra ficará inabitável daqui aproximadamente dois bilhões de anos – os Homo sapiens existem há 300 mil anos, e os macacos pelados, como disse Roberto Costa, não existiam há 100 milhões. Portanto, os ciclos de vida dos humanos e dos planetas possuem escalas de tempo absolutamente diferentes. Quando a vida na Terra não for mais possível, os humanos de hoje já terão se transformado em outros seres absolutamente diferentes.

 

 

Mas essa curiosidade pelo que acontece no universo só pode ser sanada graças a grandes investimentos em pesquisas, tecnologia, inovação, capacitação. Sabe quanto o Brasil já gastou só com o estudo da astronomia de 1965 até o ano de 2014? 212 milhões de dólares já ajustados pela inflação da moeda no período, segundo levantamento do IAG-USP. E olha que estamos falando só do Brasil que, segundo o professor Costa, é um dos países que menos investe nessa área. Com essa grana seria possível construir 48 hospitais com capacidade para atender, cada um deles, a uma população de 40 mil pessoas.

 

 

E então fica a pergunta: será que vale a pena investir tanto dinheiro em astronomia e astronáutica? Basta olhar para os equipamentos mais usados pela população hoje. Celulares, computadores e tablets só existem por conta de tecnologias desenvolvidas por esses dois campos de estudo, segundo o vice-chefe do IAG-USP. Os Estados Unidos são o país que mais investe em astronomia e astronáutica, o que explica o fato do país ser um dos maiores desenvolvedores de novos produtos tecnológicos. Talvez eles queiram mostrar que não é suficiente serem a nação mais poderosa da Terra: eles também precisam dominar o universo.

 

 

Descobertas pela Terra

 

Por Luiza Magalhaes

 
 

 

Entre fotos de amigos e textos sobre política, encontrei uma citação, daquelas que circulam na internet e a gente não sabe quem é o autor. “Somos os filhos do meio da história”, começa a frase, “Nascemos muito tarde para explorar a Terra e muito cedo para explorar o Universo”. A inquietação me pareceu razoável: o mundo é vasto, já dizia Carlos Drummond, mas ultimamente ele tem mesmo parecido cada vez menor.

 

 

Nós já descobrimos todos os continentes, mapeamos cada pedaço de terra e, através da internet, temos acesso aos lugares mais distantes do planeta sem precisar sair de casa. Já pisamos no topo do Monte Everest e até na superfície da Lua – mas a exploração interestelar, talvez a próxima grande fronteira a ser conquistada, só será possível num futuro muito distante, mesmo se considerarmos as perspectivas mais otimistas. O que restaria, então, para os exploradores do século XXI?

 

 

A resposta, creio eu, é que talvez estejamos pensando pequeno quando achamos que nascemos tarde demais para explorar a Terra. Se a sensação é de que já conhecemos tudo o que tem por aí, eu diria que na verdade o buraco é mais embaixo – 11.033 metros, para ser exata, se estivermos falando da Fossa das Marianas, o local mais profundo do oceano e talvez o menos explorado do planeta.

 

 

“Na verdade, tem muita coisa ainda para explorar”, diz o biólogo Luis Felipe Toledo quando lhe pergunto a respeito. “Não precisa nem ser nas profundezas do oceano: na areia da praia que as pessoas vão tem organismos ainda não conhecidos, no terreno baldio em São Paulo tem espécie nova de sapo”. Toledo estuda os anfíbios, e recentemente coordenou uma pesquisa que descobriu uma nova espécie de rã: a Pseudopaludicola jaredi. Encontrada na caatinga, nos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, a nova rã pôde ser diferenciada pelo som. “Cada espécie tem um canto diferente. Então às vezes, indo pro mato, a gente acaba escutando uns cantos que a gente nunca ouviu, e aí com a análise do DNA consegue descobrir que é uma espécie nova”, conta o biólogo.

 

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Luis Felipe Toledo. Foto: Arquivo pessoal

 

E por que não explorar o passado? “Tenho todo dia a possibilidade de me deslumbrar com a realidade da extinção e a enormidade do tempo geológico. É uma grande lição de humildade, ‘ressucitar’ os nossos ancestrais biológicos e olhá-los nos olhos. Eles têm muita história para contar”, relata a paleontóloga Aline Ghilardi, líder de uma equipe que, por meio de um osso fossilizado, descobriu uma nova espécie de dinossauro na cidade de Sousa, na Paraíba.

 

 

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Aline Ghilardi. Foto: Arquivo pessoal

 

 

“Novas ferramentas para buscar mais conhecimento estão sendo desenvolvidas a todo instante. Temos muita gente trabalhando por isso”, diz Aline. “Em breve, vamos quebrar mais uma fronteira. Alguns colegas dizem que é o espaço, mas eu te digo, com a minha experiência como paleontóloga, que ainda temos muita coisa para descobrir por aqui mesmo”.

 

 

Ambos os pesquisadores com quem conversei são apenas dois exemplos das infinitas possibilidades de descobertas que podem ser feitas na Terra – não só de novas espécies, mas também novas tecnologias, novos avanços na medicina, entre muitas outras. Talvez sejamos os filhos do meio da história, mas essa posição não me parece menos interessante que as outras. Não vivenciamos a descoberta do Novo Mundo, mas temos vários novos mundos aqui, esperando para serem explorados.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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