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Laços de sangue(ssuga)

 

Por Bianca Santa Anna Cabellero

 

 

Página 11-1

 

– Mãe! Cadê você?

 

– Olha só quem resolveu aparecer… Finalmente arranjou um tempo para ver como sua mãe está?

 

– Ver como você está? Eu sei muito bem como você está! Está louca, só pode ser!

 

– Ai, Marcos… O que aconteceu agora?

 

– Eu fiquei sabendo de uma conversa que você teve com seu advogado ontem, aqui nessa casa. Não pense que você me engana.

 

– E o que tem a minha conversa com o Carvalho?

 

– O que tem? Você está maluca? Que ideia é essa de deixar suas propriedades pra Maria e pra filha dela? Elas são só duas empregadas dessa casa, seus bens têm que ser dos seus filhos! Eu e o Antônio temos todo o direto sobre eles!

 

– É claro que só isso ia fazer com que você se desse ao trabalho de vir me visitar… Ai, Marcos… Infelizmente, vocês têm todo o direito sobre 50% do que eu tenho … Mas com os outros 50% eu faço o que bem entender e eles vão pra Maria e pra Clara sim, goste ou não, elas são muito mais do que só duas empregadas dessa casa.

 

– Por que você faria isso? O que está acontecendo com você?

 

– Por que eu faria isso, Marcos? A pergunta é porque eu não faria… Você e seu irmão são dois sanguessugas que pegaram o que puderam do meu dinheiro e foram viver a vida de vocês no bem bom! Eu avisei, eu avisei muitas vezes que vocês deviam construir algo próprio porque um dia esse dinheiro fácil ia acabar. Mas vocês não acreditaram, me viram envelhecendo e resolveram esperar pela herança. Vocês não ligam, não visitam, não se preocupam em saber se está tudo bem, só estão interessados em saber quando vão ter esse maldito dinheiro.

 

– Nós somos seus filhos! Esperamos esse dinheiro porque ele deve ser nosso! Não é possível que você ache que faz sentido deixar metade do que você tem para duas empregadas, elas são suas funcionárias, vocês não são sequer parentes, achei que a família fosse algo importante para você!

 

– A família é sim importante pra mim! Mas família é muito mais do que ser sangue do meu sangue, Marcos. Família é apoio, é companheirismo, é, no mínimo, estar presente. Depois de tanta dedicação na criação dos dois, você e seu irmão cresceram e se tornaram dois egoístas, gananciosos, mesquinhos… Nós podemos ter o mesmo sangue, mas há tempos não temos os mesmos valores, não temos uma relação de confiança ou sequer de afeto. Vocês me abandonaram, Marcos, eu criei os dois e vocês me abandonaram…

 

– Isso é uma mentira, a gente sempre liga aqui para saber como você está! E por acaso a Maria e a Clara se preocupam mais com você do que a gente? Elas saõ duas interesseiras, só você não enxerga isso…

 

– Vocês ligam uma vez por mês pra saber se eu já morri e olhe lá, Marcos… A Maria e a Clara foram minhas companheiras todo esse tempo em que vocês não estavam aqui. A vida inteira a Maria me apoiou em tudo, e agora, na velhice, na doença, a Clara é quem se preocupa comigo, quem cuida de mim. Enquanto você e seu irmão se tornaram dois desconhecidos, elas se tornaram filha e neta para mim…

 

– Dona Marta, com licença, desculpa interromper, mas você precisa tomar seus remédios.

 

– Olha aí a sua querida “netinha”! Você acha que a Clara está cuidando de você, mas eu aposto que ela está é te dopando com esses comprimidos! Ela é uma interesseira, uma aproveitadora! E você é maluca de cair nessa, uma velha maluca!


– Marcos, por favor, saia agora da minha casa.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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