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O vampiro da casa ao lado

 

Por clarousp

 

 

Página 12

 

Castiel* desliza a lâmina de uma afiada faca pela pele de uma de suas amadas. Ela geme, aperta os olhos, mas resiste à dor, tanto por compreender a necessidade de seu senhor quanto por saber que sua vontade poderia ser satisfeita de forma mais extrema, mediante uma agressiva mordida em seu pescoço. O vampiro da vida real então encosta os lábios no corte e sorve o sangue que dele escorre. Terminado o ritual, ele permanece quieto por alguns instantes, aproveitando o vigor e a sensação de bem-estar trazidos pela “bebida”.

 

Diferentemente de seus equivalentes de livros, filmes e histórias em quadrinhos, os vampiros da vida real não se transformam em morcegos, nem têm medo de cruzes, e muito menos podem ser abatidos apenas com estacas de prata. E mesmo a principal característica desses seres mitológicos – o hábito de beber sangue humano – não é compartilhada por todos os seguidores do vampirismo.

 

A razão disso é que esse fluido não faz efeito em seres humanos normais ou em “servos” –  que se converteram ao vampirismo por meio de rituais -, apenas nos vampiros “reais”. Nestes, o sangue traz energia e ajuda a combater doenças.

 

Os verdadeiros vampiros possuem superpoderes como força e velocidade extraordinárias, que são ativados em por meio de raiva ou concentração, garante Castiel, que explica que tais características permitem que um deles derrote até 15 homens de uma só vez. Ele conta que tais características já lhe permitiram socorrer amigos e destruir ossos de oponentes em brigas. Mesmo assim, ele assegura que é um homem pacífico, e só teve essas atitudes para proteger aqueles que gosta.  

 

Mas o vampirismo é um movimento que não abriga apenas os que tomam sangue. Jön Klem é um “vampiro abstêmio”. Para ele, a prática é inerente a alguns seres humanos, e pode se encaixar em qualquer religião ou crença. Contudo, ele deixa claro que há muitos posers na área, que adoram convencer os outros de que vivem como Conde Drácula. Identificar um deles é fácil: basta reparar em quem já se apresenta dizendo ser adepto da prática e pede sangue.

 

Existem, inclusive, adeptos da prática que repudiam o costume, como Rebeca Capelato, que adverte para os perigos de saúde sobre o consumo de sangue, como anemia e transmissão de doenças. Na opinião dela, o vampirismo mitológico encanta muitas pessoas com um senso de maturidade baixo, que não conseguem encarar o mundo real.

 

Contudo, tal como na bruxaria, o vampirismo lendário difere do vampirismo real, que é mais “pé no chão”. Este possui diversas vertentes, ligadas aos mundos do ocultismo e do underground. Seus seguidores estudam os hábitos dos seres da ficção e extraem deles princípios e ensinamentos para suas vidas. Muitos também fundem espiritualidade a esses dogmas.

 

Porém, não estimule a imaginação à toa: tais vampiros não vestem longas capas pretas, não moram em castelos no alto de montanhas nem têm caninos superpronunciados. Eles têm vidas comuns, como eu e você. A diferença é que possuem uma crença inusual – mas, até aí, quem não tem?    


*Nome fictício

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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