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50 anos em prol do livro universitário

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50 anos em prol do livro universitário

 

Por Lucas Tomazelli

Edusp completa meio século de vida com grandes realizações e é exemplo para outras editoras universitárias do País

Uma trajetória de 50 anos de trabalho pode ser contada e observada sob diversos pontos de vista. Esse é o caso da história da Edusp – Editora da Universidade de São Paulo – uma das maiores e mais importantes editoras universitárias do País.

Fundada em 1962, a Edusp foi uma coeditora até 1988, emprestando seu nome a outras editoras. Neste formato, foram produzidos 1.800 títulos que formavam um acervo de livraria, já que a editora só possuía o livro enquanto objeto físico.

A mudança começa na gestão do professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) João Alexandre Barbosa, que iniciou uma reformulação da editora apoiada pela vontade de mudança do reitor da época, José Goldemberg. A partir desse momento, fim da década de 80, a Edusp passa a selecionar as produções de maior qualidade da Universidade e expô-las ao público, por meio de livros. Sendo, de fato, uma editora universitária, sem um best-seller ou livros com fortes apelos comerciais, produzindo um catálogo acadêmico cuidadosamente selecionado.

O reitor acredita na qualidade da Edusp para ser um dos pilares de divulgação da Universidade

Segundo Plinio Martins Filho, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e diretor-presidente da Edusp, o papel de uma editora universitária é de inestimável valor: “Em um país como o Brasil, uma editora universitária é de fundamental importância porque ela pode editar sem uma preocupação comercial, apenas focada no conteúdo e na qualidade de seus textos. Esse tipo de editora publica apenas pelo mérito e não necessariamente pensando nas vendas, como uma editora comercial faz, eventualmente”.

Embora focalize uma atenção específica à produção científica da própria Universidade, publicando obras de célebres especialistas de diversas áreas do conhecimento, a editora não deixa de dar espaço para obras consagradas, clássicas ou contemporâneas, cuja publicação vem acompanhada de traduções minuciosas e em edições críticas. Um dos grandes frutos desse trabalho reside nos 65 Prêmios Jabuti de Literatura, importante prêmio conferido pela Câmara Brasileira do Livro, dados à Edusp ao longo dos anos.

A PRCEU também está engajada na questão do livro na Universidade, segundo a pró-reitora

O reitor da Universidade de São Paulo, João Grandino Rodas, atenta para a representatividade continental da editora: “A Edusp é, sem dúvida, a maior editora universitária da América Latina, que, ao completar 50 anos de existência, chega também à marca de mais de 1.500 títulos publicados como editora, com uma média de 70 novos títulos ao ano”.

Maria Arminda do Nascimento Arruda, pró-reitora de Cultura e Extensão Universitária, reitera a qualidade da editora que completa cinco décadas: “A Edusp é uma editora de alto padrão, que só orgulha a Universidade de São Paulo. Nesse meio século, a Edusp se firmou como uma das mais importantes editoras do País e é a maior dentre as universitárias”.

Paulo Franchetti, presidente da Editora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), aponta também para as deficiências do nosso país: “É difícil imaginar, ao menos no Brasil, uma universidade de primeira linha sem uma editora de primeira linha. Nosso país carece de boas traduções de textos fundamentais nas várias áreas do conhecimento e o ensino e a pesquisa de alto nível aqui produzidos têm no livro universitário um firme apoio e um poderoso aliado. Portanto, a construção da Edusp está entre as grandes realizações da Universidade de São Paulo”.

“O evento é para todos os profissionais que lidam com o meio impresso”, explica Marisa

Segundo o reitor Grandino Rodas, a Edusp auxilia fundamentalmente na propagação do que é produzido na USP: “Sua importância se dá por ser valoroso órgão de expressão e divulgação para a sociedade da produção científica produzida pela Universidade, por meio de obras reconhecidamente significativas, em várias áreas do conhecimento”. Rodas ainda atenta para a imagem externa da Universidade: “Contar com uma editora dessa importância na estrutura da Universidade certamente contribui sobremaneira para a visibilidade de nossa universidade”.

Poucas editoras comerciais têm interesse em investir em livros que não tenham grande circulação e comercialização. “Sem uma editora universitária, essa produção acadêmica da Universidade não teria tantas publicações. O papel dela é publicar o que o meio acadêmico produz de melhor, entre mestrados, doutorados, livre-docência, entre outros”, afirma Martins. A pró reitora chama a atenção para a necessidade de uma universidade tão grande possuir uma editora: ”Uma universidade do porte da USP, instituição de classe mundial e de excelência, não pode prescindir de uma editora como a Edusp”.

Há um caráter inaugural também no que diz respeito à história da Edusp. É o que afirma Franchetti: “É preciso registrar que a Edusp tem tido um papel formativo relevante no espaço editorial mais amplo. Sua importância, assim, vai muito além de seu catálogo de obras excelentes. Tão notável quanto ele é o seu papel pioneiro no aumento do padrão técnico do livro brasileiro”. O responsável pela editora da Unicamp completa: “Há ainda que destacar as ações que a Edusp desenvolve para a difusão do livro universitário, seja por meio da criação e estímulo a feiras destinadas a vendas diretas para estudantes, seja por meio da participação sistemática em eventos nacionais e internacionais”.

“Acho que também é uma função da Universidade questionar, mostrar e produzir. Esperamos que saiam muitas ideias desse simpósio”, projeta Martins

Existem peculiaridades no trabalho de uma editora voltada para a universidade. O diretor-presidente explica: “O nosso trabalho é quase o dobro de uma editora comercial em termos de produção. Nós não temos as mesmas facilidades de vendas nas livrarias, o procedimento público não acontece do mesmo jeito que o particular”. Segundo ele, há obstáculos para os dois tipos de editoras: “Por exemplo, nós temos livrarias. A Edusp não pode abastecer as livrarias com livros que comprou porque teria que ser feita uma licitação, assim como a distribuição do livro universitário pelas editoras particulares também possui suas dificuldades”.

Novos desafios

Sobre o que deve melhorar depois de 50 anos de trabalho realizado, Martins atenta: “É necessário publicar mais, melhorar a distribuição e melhorar as livrarias. Estas não só como pontos de venda, mas como pontos de confraternização, uma coisa de vivência cultural”. Segundo o diretor, um bom exemplo de espaço para ampliar a “cultura do livro” é a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, que está reabrindo no campus Butantã.

Evento celebra 1.500 publicações da Edusp, em 1980

A Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) está corroborando essa questão de ampliação da discussão sobre o livro na Universidade, afirma Maria Arminda: “A PRCEU conta com o Núcleo de Estudos do Livro e da Edição (Nele), que tem se revelado muito ativo. Congrega pesquisadores de alto padrão na área e tem promovido encontros e seminários, além de ser responsável pela edição da Revista Livro, publicação de qualidade reconhecida”.

Franchetti aponta para outras questões: “Acredito que um dos desafios é conseguir encontrar uma boa forma de lidar com duas exigências: a do livro eletrônico e a do livro sob demanda. Em alguns meios, pela pressão do mercado e da globalização, o livro eletrônico se impõe como necessidade. Bem como o livro sob demanda, em forma original ou composto pela seleção de capítulos de livros, produzido de acordo com os interesses da bibliografia das várias disciplinas acadêmicas”.

Nessa direção, ele explica sob a ótica das editoras voltadas para a universidade: “Os livros universitários têm venda restrita, porém contínua – e muitas vezes exigem grande investimento em tradução, adaptação e produção cuidada. Como equacionar a natureza do livro universitário com essas demandas será, sem dúvida, uma questão relevante nos próximos anos”.

CBL já consagrou Edusp com 65 Prêmios Jabuti de Literatura

As novas tecnologias são importantes e vão provocar mudanças em todas as áreas, mas apenas quando for necessário. É o que pensa o diretor-presidente da Edusp: “Nós não temos ainda essa preocupação (com relação aos e-books). Nossa posição ainda é a do livro impresso porque ele ainda não se esgotou nem vai se esgotar”. Martins ressalta que não há rejeição quanto às novas tecnologias: “Não que sejamos contra o livro digital, contudo não é uma prioridade no momento. A procura nas nossas livrarias por esse tipo de livro ainda é muito pequena”.

Se continuar à frente da Editora da Unicamp, o que, segundo ele, é seu desejo, Franchetti espera lidar com outra meta: “Espero conseguir desenvolver a recém-criada Liga de Editoras Universitárias (a LEU – da qual participam, além da Editora da Unicamp, as editoras da USP, da UFSC, da UFMG, da Unifesp e da UFPA), que é uma associação dedicada exclusivamente à promoção e ao aprimoramento técnico do livro universitário brasileiro”.

Simpósio Livros e Universidades

O diretor-presidente da Edusp espera que as livrarias se tornem pontos de convivência cultural

Para a comemoração de seus 50 anos, a Edusp está preparando diversas atividades como: um catálogo geral para registrar tudo o que publicou durante sua trajetória. Todos os livros foram fotografados e farão parte do site da editora e um vídeo institucional está sendo realizado. Entretanto, o grande evento, de fato, ficará por conta da realização do simpósio Livros e Universidades.

A coordenadora do simpósio e professora da ECA Marisa Midori Deaecto fala sobre os objetivos do evento: “Um simpósio como esse tem que pensar a relação livros e universidades na sua totalidade. Do ponto de vista histórico, essa relação da produção acadêmica e um braço editorial para difundir essa produção. No aspecto econômico, entender o mercado editorial nas diversas sociedades e nos países nos quais as editoras universitárias têm uma tradição. E, além disso, refletir sobre a formação dos editores no Brasil e no mundo”.

O diretor-presidente da Edusp aponta para três eixos interessantes abordados pelo evento: “Os pensadores, que são os historiadores dos livros, os sociólogos, os pesquisadores que se voltaram para os livros na Europa, entre outros. Outro eixo é constituído por produtores, formado pelos editores que vêm representando as principais editoras universitárias do mundo. E, por fim, o eixo dos formadores, que é composto por professores”.

As projeções sobre o simpósio são positivas. É o que acredita Franchetti, um dos palestrantes do segundo dia do evento: “Esse simpósio terá, por certo, grande importância e muitas consequências, não apenas por analisar os vários modelos de editora universitária existentes no Brasil e no mundo, mas também por produzir material reflexivo de grande valor para a definição de políticas públicas para o livro acadêmico”.

Na opinião do editor-presidente da Unicamp, há que se ressaltar a qualidade do evento: “Usualmente, os congressos dedicados ao livro universitário no Brasil se ressentem de duas deficiências: o provincianismo da discussão e a falta de propostas de ação. Este simpósio, como se pode ver pelo programa e pelos participantes, vai muito além disso e procura fazer não só diagnósticos, mas ainda trazer subsídios intelectuais para aprimorar o livro universitário brasileiro”.

Edusp já recebeu 65 Prêmios Jabuti de Literatura – importante prêmio dado pela Câmara Brasileira do Livro

Os cinco mais recentes:

2011

1º lugar – Categoria: Arquitetura e Urbanismo

Título: Dois Séculos de Projetos no Estado de São Paulo: Grandes Obras e Urbanização

Autor: Nestor Goulart Reis

2010

1º lugar – categoria: Ciências Exatas, Tecnologia e Informática

Obra Científica de Mario Schönberg

Organizador: Amélia Império Hamburguer

1º lugar – categoria: Economia, Administração, Negócios

Trabalho Flexível, Empregos Precários? Uma Comparação Brasil, França, Japão

Organizadores: Nadya Araujo Guimarães, Helena Hirata e Kurumi Sugita

 20081º lugar – categoria: Economia, Administração, Negócios
Crescimento Econômico e Distribuição de Renda
Organizador: Jacques Marcovitch
2º lugar – categoria: Ciências Naturais e Ciências da Saúde
Dimensões Humanas da Biosfera Atmosfera da Amazônia

Organizadores: Wanderley Messias da Costa, Bertha K. Becker e Diogenes Salas Alves

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