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A busca pelo desenvolvimento sustentável

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A busca pelo desenvolvimento sustentável

 

Por João Vitor Oliveira

Meio-AmbienteProfessores criticam cenário político internacional quanto ao meio ambiente e destacam importância da Universidade para mudanças de paradigma

 

Falar em sustentabilidade nunca foi tão comum. O assunto e suas diversas ramificações figuram em manchetes de jornais e reportagens televisivas com uma frequência significativa, e a importância de um desenvolvimento econômico que não comprometa a disponibilidade de recursos naturais do planeta para gerações futuras é um valor, de maneira geral, bem difundido na sociedade. O problema é que muito desse discurso permanece no campo da retórica, e pouco daquilo debatido em diferentes eventos é colocado em prática.

Reprodução“Nenhuma autoridade vai falar que sustentabilidade não está na sua agenda”, declara André Felipe Simões, professor e coordenador do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH). “Mas colocar as políticas para funcionar é algo mais difícil e, quando acontece, fica aquém do planejado.”

Em junho do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revelou, ao lançar a quinta edição do Panorama Ambiental Global (GEO-5), que o mundo está acelerando numa direção insustentável. O relatório avaliou 90 das principais metas ambientais contidas em acordos internacionais sobre o tema, constatando que apenas quatro delas apresentaram avanços significativos nos últimos anos.

Para José Eli da Veiga, professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e ex-Secretário do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, isso é resultado de um descompasso político em nível global. Ele explica: “Há, hoje, um completo divórcio entre as governanças do desenvolvimento e do meio ambiente”.

Cerca de 110 mil pessoas foram ao Rio de Janeiro para participar da Rio+20

Cerca de 110 mil pessoas foram ao Rio de Janeiro para participar da Rio+20

Tal distanciamento resulta em desgovernança. O conceito é trabalhado em seu novo livro, A desgovernança mundial da sustentabilidade, lançado em maio pela Editora 34. Na obra, Veiga analisa e critica o cenário da política internacional no tocante à temerária atitude mundial em relação às bases naturais das quais depende o desenvolvimento do planeta.

Segundo ele, é como se, até hoje, não tivesse saído do papel o projeto consagrado na Rio-92. A famosa conferência sobre o meio ambiente, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992, teve entre seus principais resultados a elaboração da Agenda 21, documento que estabeleceu a importância de cada país no estudo de soluções para problemas socioambientais. O evento foi muito relembrado em 2012 por conta da realização da Rio+20, em junho do mesmo ano, também no Rio de Janeiro.

“A questão da sustentabilidade é, talvez, a última chance da humanidade se unir em torno de um prol comum” – André Felipe Simões

“A questão da sustentabilidade é, talvez, a última chance da humanidade se unir em torno de um prol comum” – André Felipe Simões

Comparando as duas conferências, André Felipe Simões declara: “Se a primeira plantou sonhos, a segunda os sepultou.” O documento final da Rio+20 recebeu muitas críticas e foi considerado pelo próprio secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pouco ambicioso. Além disso, a ausência de líderes de países importantes, como Barack Obama (presidente dos Estados Unidos), Angela Merkel (chanceler da Alemanha) e Yoshihiko Noda (primeiro-ministro do Japão) enfraqueceu a reunião.

Sustentabilidade e marketing

Não raro vemos propagandas de grandes ou pequenas empresas mostrando ações ambientalistas. É o chamado greenwashing, procedimento de marketing utilizado por organizações para passar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável. O foco, no entanto, é a publicidade, e não a sustentabilidade de fato.

“Você liga a televisão e vê uma grande empresa de petróleo tomando medidas para proteger uma espécie de golfinho”, exemplifica Simões. “Aquilo é fantástico, mas não representa nem 1% do faturamento da empresa. Eventualmente ela podia fazer muito mais.”

José Eli da Veiga é autor de diversos livros sobre sustentabilidade

José Eli da Veiga é autor de diversos livros sobre sustentabilidade

José Eli da Veiga comenta que, nesses casos, falta pressão da sociedade sobre quem usa o valor da sustentabilidade por puro oportunismo. “O problema é que os consumidores brasileiros ainda não estão suficientemente conscientes e organizados para isso”, acredita o professor.

Por outro lado, políticas ambientais ainda são vistas muitas vezes como algo que dá prejuízo. “O grande obstáculo que elas enfrentam é a conciliação com questões ligadas ao desenvolvimento econômico”, diz Simões. Um exemplo foi a questão da suspensão na distribuição de sacolas plásticas por parte dos supermercados paulistas, assunto tão discutido no ano passado. A medida encontrou vozes a seu favor e contrárias, já que, apesar de importante ecologicamente, repassava seus custos para o consumidor (confira aqui reportagem da Espaço Aberto sobre o assunto).

Para Veiga, no entanto, não é utópico falar em uma harmonização desses valores. “As governanças do meio-ambiente e do desenvolvimento têm pouco em comum, mas certamente poderão convergir no futuro.”

Mudança cultural

O que falta, segundo os professores, é uma mudança de paradigma. Para além das empresas e suas políticas, o grande catalisador de um mundo mais sustentável são os próprios cidadãos. Pequenas ações, como diminuir o tempo de banho, andar menos de carro, entre outras do gênero, se praticadas por uma grande gama de pessoas, fazem a diferença. A conscientização a respeito do assunto o levaria, naturalmente, aos setores administrativos da sociedade.

Para Welington Braz, a criação da SGA mostra que a USP tem valorizado a questão ambiental

Para Welington Braz, a criação da SGA mostra que a USP tem valorizado a questão ambiental

E, de certa forma, tal mudança cultural já está em curso. “Acho que a legitimação desse valor que é a sustentabilidade tem sido muito intensa, mais do que poderia ser previsto nos anos 1980, quando começou a emergir”, comenta Veiga.

Prova disso é a grande quantidade de eventos sobre desenvolvimento sustentável que ocorrem durante todo o ano no mundo. De 5 a 9 de junho, por exemplo, aconteceu em São Paulo a Virada Sustentável, que trouxe atividades gratuitas para diversos locais da cidade sob a missão de difundir e ampliar o acesso a informações sobre sustentabilidade.

Mesmo assim, é um valor que ainda precisa evoluir. “Ainda são poucas as pessoas que estão dispostas a mudar de vida e abrir mão de certos confortos por um planeta mais sustentável”, acredita Simões. “Mas acredito que as gerações futuras possam ser diferentes, e que dentro de 30 anos ou menos teremos uma construção verdadeira da sustentabilidade no mundo.”

O papel da Universidade

O berço dessa necessária mudança cultural pode ser as universidades. A USP, como principal instituição de ensino superior da América Latina, possui um importante papel quanto a isso, e a gestão atual de sua administração tem demonstrado interesse em questões ligadas à sustentabilidade.

A Superintendência de Gestão Ambiental (SGA) lançou, no começo de maio, o edital do Programa de Incentivo à Sustentabilidade na Universidade de São Paulo. “O objetivo é permitir que todos os componentes da USP participem dos esforços em prol da sustentabilidade na Universidade, para que o assunto não fique sendo tratado apenas aqui na Superintendência”, explica o superintendente Welington Braz Carvalho Delitti. O investimento total do programa é de R$ 2 milhões, e cada projeto contemplado poderá receber um financiamento de até R$ 50 mil. O prazo para inscrição já se encerrou.

A própria superintendência é algo novo. Foi criada em fevereiro de 2012 para dar uma posição hierarquicamente estruturada sobre questões ambientais na Universidade, um órgão com orçamento próprio para tratar exclusivamente do assunto. Desde então, foi realizada uma série de trabalhos pelos campi. O superintendente destaca a criação de reservas ecológicas. “Quando começamos, a USP tinha dez hectares de reserva, hoje já são mais de dois mil, quase um terço de sua área total.” Ele ressalta também os investimentos que têm sido feitos em educação ambiental para funcionários da Universidade, com os quais pretende atingir 16 mil pessoas.

“A Universidade deve liderar ações desse tipo. É como uma bateria de escola de samba”, compara o professor da EACH André Felipe Simões. “Os bons exemplos devem ecoar aqui dentro para atingir a sociedade lá fora. Quando uma instituição da importância da USP faz a coisa da maneira correta, só temos a ganhar.”

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