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A importância da saúde vocal para profissionais

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Crianças e a hipertensão

 

Por João Vitor Oliveira

Especialistas explicam causas de disfonias e dão dicas de cuidados para aqueles que têm, na voz, um instrumento de trabalho

Todo ser humano possui uma voz única que, além de mera ferramenta de comunicação, carrega traços de sua faixa etária, sexo, tipo físico, personalidade e estado emocional. Para alguns, no entanto, ela representa muito mais do que isso. Professores, atores, repórteres, cantores e outros profissionais têm na voz uma indispensável ferramenta de trabalho, e precisam estar atentos aos cuidados que devem adotar para não prejudicá-la.

É claro que todo mundo deve se preservar. Quem nunca saiu rouco do estádio após um jogo de futebol, ou de um show da sua banda favorita? Mas profissionais que utilizam a voz ficam sujeitos a deslizes comportamentais na propagação vocal com mais frequência.

O som que produzimos vem do ar que expiramos dos pulmões. Simplificando o processo, esse ar passa pelas pregas vocais na laringe, que vibram e o transformam em pulsos sonoros. Quando existe um problema nas cordas vocais, essa vibração se torna defeituosa, o que é chamado de disfonia. “A maioria dos problemas é causada por desequilíbrios e abusos vocais, além do excessivo e mau uso da voz”, explica Kelly Cristina Silverio, professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB). “As lesões mais recorrentes são o aparecimento de nódulos vocais, cistos intracordais, edemas e fendas glóticas.”

Professores e cantores

Quando estamos calados, as cordas vocais mantêm-se abertas. Quando falamos, o ar que se exala dos pulmões é forçado através das cordas vocais fechadas

Quando estamos calados, as cordas vocais mantêm-se abertas. Quando falamos, o ar que se exala dos pulmões é forçado através das cordas vocais fechadas

A ocupação mais afetada é a de professor. É comum ouvir relatos clínicos nessa categoria como “sou rouco porque sou professor” ou “minha voz fica melhor nas férias”. Uma pesquisa em âmbito nacional realizada em 2010 pelo Sindicato dos Professores de São Paulo, em parceria com o Centro de Estudos da Voz, questionou 3.265 pessoas a respeito do assunto, das quais 1.651 eram docentes. O resultado revelou que cerca de 63% dos professores já sofreram de alguma alteração vocal, em comparação com apenas 35% da população em geral. Entre as principais disfonias relatadas pelos profissionais estão o cansaço vocal (92,8%), rouquidão (82,2%) e dificuldade para projetar a voz (82,8%).

“No caso de professores, as alterações emocionais decorrentes dos problemas de voz, somadas ao stress ligado à ocupação – rotina desgastante, falta de reconhecimento da profissão, fatores organizacionais do trabalho, carga horária excessiva, ambiente ruidoso, entre outros – podem ainda piorar ou perpetuar o quadro da disfonia”, completa. Segundo a professora, um bom modo de evitar o problema é o uso de microfone em sala de aula. No entanto, nem toda escola ou universidade oferece tal infraestrutura aos seus funcionários.

A profissão de cantor também exige muito da voz, e de uma maneira diferente. Os movimentos do canto são sofisticados, precisos, e precisam ser controlados com perfeição. Para tanto, é necessária boa saúde vocal. “A voz é um instrumento musical que anda, fala, tem depressão, chora. Isso tudo interfere”, declara a fonoaudióloga e musicista Beth Amin, orientadora de técnica vocal do Coralusp.

Beth Amin é orientadora de técnica vocal do Coralusp desde 2001

Beth Amin é orientadora de técnica vocal do Coralusp desde 2001

Segundo ela, é importante que o cantor exercite sua voz com regularidade. Para alcançar notas muito agudas, por exemplo, utiliza-se uma musculatura que quase não é acionada no dia a dia vocal. Se isso é feito com muito esforço, sem treino, a pessoa pode acabar danificando suas cordas vocais.

“O cantor lírico deve ter um cuidado ainda maior. A voz dele tem que ser sempre limpa, cristalina. A do popular pode ter características como rouquidão, soprosidade, o que para o lírico seria fim de carreira”, acredita a orientadora.

Tratamentos e cuidados

Uma vez instalado o problema de voz e manifestadas as alterações – rouquidão constante, dor ou ardência na garganta, falta de ar ou cansaço ao falar, dificuldade para ser entendido, entre outras alterações –, o sujeito deve buscar um médico otorrinolaringologista, para realizar uma avaliação da laringe, e um fonoaudiólogo. Este é capaz de avaliar a voz, associar o diagnóstico do otorrino e tratar a alteração presente caso o problema seja decorrente do comportamento vocal inadequado.

ReproduçãoDurante o tratamento, algumas orientações sobre saúde vocal são fornecidas ao paciente com o intuito de promover mudanças em sua rotina. A hidratação é um exemplo. Um organismo bem hidratado propicia maior lubrificação da laringe, resultando em menor esforço à fonação. A fonoaudióloga Kelly explica que isso vale para qualquer tipo de profissão que exige muito da voz, não só para cantores. “O ideal é ingerir pelo menos dois litros de água por dia”, comenta. Ela esclarece que não adianta beber um monte de água logo antes do exercício profissional. Deve ser algo presente no cotidiano.

“Na última sexta-feira eu fui cantar no colégio Santa Cruz, em Pinheiros”, conta a orientadora de técnica vocal do Coralusp. “Antes, tive que carregar teclado, amplificador, um monte de coisa, e acabei transpirando bastante. À noite, na hora de cantar, senti os reflexos disso e enfrentei algumas dificuldades em determinadas partes do repertório.”

O regime alimentar também é observado. Se mal balanceado, pode afetar a voz por causa da subida do suco gástrico para a laringe e a faringe, o chamado refluxo gastroesofágico. Quando ocorre, traz sintomas de laringite – rouquidão, pigarro, tosse seca, dor de garganta, entre outros. Segundo Kelly, deve-se evitar laticínios, chocolate, alimentos condimentados e gordurosos e café antes do uso profissional da voz.

É raro que um professor tenha tido a oportunidade de desenvolver sua voz para a comunicação em sala de aula

É raro que um professor tenha tido a oportunidade de desenvolver sua voz para a comunicação em sala de aula

Além disso, o próprio modo com que a pessoa está acostumada a falar é trabalhado. “É importante ensiná-la a ter outro comportamento vocal”, diz Beth. “Muitas pessoas falam mal: com forte intensidade, gritando, tudo na garganta, com tensão. Dessa maneira, existe um acúmulo de esforço que prejudica a voz.”

O fonoaudiólogo oferece ainda ao paciente exercícios para fortalecer a resistência vocal, que devem ser repetidos diariamente em casa. A professora da FOB ressalta que cuidar de processos alérgicos também é essencial para que a voz se equilibre.

“É importante ressaltar que as recomendações, embora gerais, devem ser individualizadas e adaptadas da maneira que couber a cada um”, destaca Kelly. “O importante é respeitar os limites de cada profissional, agir na direção de ganhar resistência muscular e vocal para que a disfonia dê lugar a uma voz equilibrada.”

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