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Mais atenção aos desastres naturais

 

Por Ana Luiza Tieghi

comportaSaúde

Nosso código genético fornece pistas sobre como tratar algumas doenças e a farmacogenética pode decifrá-las

Já imaginou poder fazer um tratamento de saúde personalizado ou utilizar um medicamento criado especialmente para as suas necessidades? Parece coisa de ficção científica, mas a farmacogenética está se tornando realidade.

O termo, também conhecido como farmacogênica, indica a área da ciência que estuda a relação entre variações específicas no DNA e a resposta a um medicamento. “Algumas pessoas metabolizam os medicamentos mais rapidamente ou mais lentamente, isso faz com que a dose dos medicamentos seja ajustada para evitar falhas no tratamento ou efeitos adversos. Sendo assim, a técnica auxilia a verificar se um medicamento ou dose a ser administrada são adequados a um dado paciente”, explicam os professores Rosário e Mário Hirata, do Laboratório de Biologia Molecular Aplicada e Farmacogenética da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF).

Isso tudo porque as pessoas, apesar de terem um código genético semelhante, possuem diferenças que podem influenciar na eficácia do tratamento médico. Assumir que a fórmula de um medicamento atuará de forma uniforme em toda a população é um grande risco. As diferenças genéticas resultam em respostas distintas dos organismos ao fármaco, ocasionando por vezes a falta de resultados efetivos ou mesmo sintomas indesejáveis, os conhecidos “efeitos colaterais”.

“Os resultados são promissores.” Rosário Hirata, sobre o tratamento com a farmacogenética

“Os resultados são promissores.” Rosário Hirata, sobre o tratamento com a farmacogenética

Laboratórios farmacêuticos gastam milhões de reais todos os anos com a retirada de medicamentos que causaram intoxicação em seus usuários. Esse problema poderia ser drasticamente reduzido com a farmacogenética e seus tratamentos melhor direcionados para cada tipo de organismo de paciente, o que mostra que a rica indústria farmacêutica possui bons motivos para investir no desenvolvimento dessa tecnologia.

Áreas de aplicação

Segundo os professores da FCF,“a farmacogenética tem se mostrado útil no tratamento de doenças oncológicas, hematológicas, cardiológicas, neurológicas e infecciosas”. São realmente muitas as áreas em que ela pode atuar e trazer resultados positivos. Porém, os tratamentos podem ser indicados para apenas um grupo restrito de pessoas portadoras de uma determinada doença. Isso se deve à variação de genes existente entre os indivíduos.

O tratamento desenvolvido para o câncer de mama, por exemplo, utilizando a substância herceptina (Trastuzumab) é indicado exclusivamente para mulheres com o tipo HER2(+) da doença, não funcionando para todas as outras que possuem um tipo diferente deste.

Já na área da cardiologia, testes são utilizados para identificar pacientes que respondem de forma diferenciada a anticoagulantes (varfarina) e antiagregantes plaquetários (clopidogrel). “Há pacientes que têm resposta diminuída a esses medicamentos e maior probabilidade de ter trombose, enquanto outros têm resposta exacerbada e são suscetíveis a desenvolver hemorragias graves”, afirmam os professores. A farmacogenética é fundamental nesses casos, prevenindo que problemas graves surjam durante o tratamento.

A velocidade de resposta do organismo a uma determinada substância também varia conforme os genes que ele possui. A farmacogenética pode auxiliar neste ponto ao identificar a existência dos genes que reagem mais lentamente e assim indicar uma alteração na dose necessária do fármaco, ou mesmo uma substituição na substância a ser usada no combate à doença.

Esse é o caso do tratamento da tuberculose, em que é utilizado o antibiótico isoniazida. “Os pacientes que têm variante lenta do gene NAT2 metabolizam mais devagar o medicamento e, por isso, têm maior chance de ter complicações no fígado, o que pode ser muito grave. Esse efeito adverso pode ser a causa do paciente desistir do tratamento e piorar. Portanto, o teste pode contribuir para melhorar a adesão ao tratamento e diminuir o risco da tuberculose resistente”, contam Rosário e Mário Hirata.

A farmacogenética parece ser um caminho para auxiliar no tratamento de diversas enfermidades, mas sua utilização envolve testes sofisticados, que detectam pequenas alterações no código genético dos pacientes, o que custa caro. Além disso, em alguns casos mais de um teste pode ser necessário até que se detecte a alteração genética e se possa indicar um tratamento. “O custo dos testes farmacogenéticos se reduz na medida em que a tecnologia de análise de DNA é modernizada e é implantada e divulgada pelos laboratórios de diagnóstico. Como vários laboratórios já oferecem alguns testes, a tendência é aumentar o seu uso na prática clínica e isso fará cair o custo por conta da concorrência entre os laboratórios”, acreditam os professores da FCF.

ReproduçãoOs exames utilizados para o tratamento com a farmacogenética são realizados de forma bem específica no Brasil, uma vez que os testes de grande alcance genético não são aprovados no País. Exames de sequenciamento completo do DNA são feitos em laboratórios no exterior e podem revelar informações sobre a probabilidade do paciente desenvolver algumas doenças com fator genético, o que não é o intuito do tratamento farmacogênico.

Apesar de ainda ser um tratamento muito caro, os testes que utilizam a farmacogenética já podem ser feitos em larga escala graças às novas plataformas de sequenciamento de DNA ou por métodos de amplificação de DNA como a PCR em tempo real (do inglês, Polymerase Chain Reaction, ou Reação em Cadeia da Polimerase). “O que se observa é que em algumas áreas do conhecimento a farmacogenética já é uma prática consolidada, enquanto que em outras áreas há ainda necessidade de estudos para estabelecer a sua contribuição efetiva”, explicam Rosário e Mário Hirata.

Farmacogenética e o SUS

Enquanto os preços dos testes farmacogenéticos permanecem muito altos, uma alternativa para ter acesso a eles é o Sistema Único de Saúde (SUS). “Alguns desses testes para leucemia, câncer de mama e genotipagem de vírus, por exemplo, são feitos pelo SUS”, afirma Rosário Hirata.

Já outros tipos de exames só são oferecidos por laboratórios particulares, enquanto alguns outros procedimentos ainda precisam ser aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para poderem ser utilizados.

Por ser uma tecnologia nova que está testando seu alcance, nem todas as possibilidades de tratamento farmacogenético estão disponíveis no Brasil. Mas a julgar pela eficácia desses tratamentos, é só uma questão de tempo até que ela seja largamente utilizada e contribua para proporcionar uma vida mais saudável.

Os riscos da automedicação

A genética explica parte dos motivos pelos quais um mesmo medicamento pode ter resultados distintos dependendo de quem o consome. Mas há também uma explicação mais simples para o fenômeno: doenças diferentes precisam de tratamentos diferentes.

ReproduçãoOs médicos estudam por muitos anos para obter a capacidade de diagnosticar doenças, então consumir medicamentos sem prescrição médica, baseado apenas nos sintomas perceptíveis e no conhecimento adquirido com experiências pessoais, leva no melhor dos casos a uma falta de resultados satisfatórios, mas também pode causar intoxicações sérias.

Um levantamento feito pelo Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina registrou no primeiro semestre de 2012 uma média de 600 casos de intoxicação por medicamentos ao mês. 11% do total de atendidos são pessoas entre 30 e 39 anos de idade, o que revela um uso consciente do remédio. Não é o caso das crianças, que costumam sofrer intoxicações ao consumir medicamentos por engano, sem saber o que eles realmente são.

Em casos de intoxicação, é indicado que o doente procure atendimento médico o mais breve possível. A ingestão de leite ou água, ao contrário do que muitas pessoas pensam, só espalha mais a substância medicamentosa pelo organismo, o que piora o quadro de intoxicação. Provocar vômitos também não é indicado. O melhor mesmo é manter a calma e dessa vez procurar ajuda profissional.

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