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Alpha Crucis chega para dar salto nas pesquisas

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A importância de dormir bem

 

Raphael Martins

Ciência


A vontade de ampliar a capacidade de estudos oceanográficos já projetava a compra de um novo navio para a Universidade, mesmo antes do incêndio no Prof. W. Besnard


Quando o navio Professor Wladimir Besnard pegou fogo, em dezembro de 2008, o Instituto Oceanográfico (IO) perdeu o maior recurso de estudos oceanográficos que a Universidade possuía. A embarcação foi o primeiro navio oceanográfico brasileiro que, iniciando suas operações em 1967, adquiriu uma importância histórica muito grande.

O Prof. W. Besnard possuía algumas limitações em suas características construtivas, que cerceavam o desenvolvimento das pesquisas como, por exemplo, questões de autonomia. O diretor do IO, Michel Michaelovitch de Mahiques, conta que o incidente reacendeu a possibilidade da compra de um novo navio, maior e melhor: “Nós poderíamos efetivamente reformar o Besnard, mas continuaríamos com as mesmas limitações. A gente gastaria alguns milhões de reais e continuaria com o mesmo navio”.

“A autonomia do Alpha é três vezes maior, cabem cinco pesquisadores a mais, equipamentos de pesquisa que o Besnard nunca teve e Sistema de Posicionamento Dinâmico. (...) É tudo maior, tudo melhor”

Mesmo com todo seu histórico, a diretoria do IO definiu que o Besnard precisava de um substituto. Mahiques conta que já existiam projetos de compra de um navio novo para potencializar o poder de pesquisa: “Quando assumi, fui atrás de alguns estaleiros para verificar a possibilidade de construção de um navio no Brasil. Muitos nem responderam, outros tinham uma demanda de construção naval até 2013, eles não iriam parar outros projetos para fazer um navio oceanográfico, que é muito particular”.

O diretor conta que a construção de um navio custaria uma boa quantia em dinheiro que o instituto não teria facilidade de conseguir, então surgiu a opção por uma embarcação usada. “Naquela época, pensamos: Precisamos de um navio novo ou de um novo navio? Chegamos à conclusão que precisávamos de um novo navio. Um que estivesse em boas condições e que pudesse ser reformado. O Alpha Crucis foi o 19º navio que eu encontrei”, diz ele.

Quando a diretoria do IO iniciou a procura por navios, existiam vários em péssimo estado de conservação, alguns muito caros e outros que não permitiriam um salto qualitativo nas pesquisas. O Alpha Crucis, antes chamado Moana Wave, pertenceu à Universidade do Havaí e tinha as características que mais contemplavam as necessidades do IO em uma boa faixa de preço.

Sala de controle do Alpha Crucis

Abrindo um comparativo entre o Besnard e o Alpha Crucis, o diretor aponta características que justificam a opção pela troca de navio e não a reforma do antigo: “A autonomia do Alpha é praticamente três vezes maior, cabem cinco pesquisadores a mais (tripulação de 18 pessoas e até 21 pesquisadores), tem equipamentos de pesquisa que o Besnard nunca teve e tem Sistema de Posicionamento Dinâmico, que permite que a embarcação pare em um determinado ponto e permaneça relativamente estável enquanto se fazem pesquisas de dados oceanográficos – isso é particularmente crítico quando nos afastamos muito da costa, que tem muito vento e correntes muito fortes. É tudo maior, tudo melhor”.

Mesmo com reformas, o Besnard não poderia nunca aumentar o número de pessoas, nem autonomia e teria uma dificuldade enorme em colocar um Sistema de Posicionamento Dinâmico.

Após montar o argumento de que não compensaria reformar o antigo navio e que o Alpha Crucis significaria um salto nas pesquisas oceanográficas brasileiras, Mahiques levou a proposta de compra para o reitor. “Passado esse estágio fomos à Fapesp, preparamos o projeto, que demorou alguns meses até ser analisado e aprovado”, conta ele.

Michel Mahiques assumiu a diretoria do IO em 2009

A Fapesp contratou, então, uma equipe especializada para verificar se o navio merecia ser comprado. “Mais do que uma questão de gostar do navio, tivemos um aval técnico endossado pela Fapesp para a sua aquisição. Aquele navio apresentava uma condição técnica e construtiva boa o bastante para valer o investimento da compra e reforma”, conta Mahiques.

O diretor diz que o argumento principal do IO foi potencializar a pesquisa oceanográfica no País. Para aquisição do Alpha Crucis não foi feito um projeto científico (do instituto ou da USP em específico), mas de política científica: “Não foi especificamente para estudar um aspecto do oceano, mas um projeto que demonstrava a necessidade que o Brasil já tinha de aumentar sua capacidade de pesquisa oceanográfica, porque existem algumas demandas importantes nesses oceanos em que o País, em especial o Estado de São Paulo, precisava se envolver”. “Eu costumo dizer que o Brasil precisaria de oito a dez Alpha Crucis, um só não basta. A gente tem uma carência de navios oceanográficos para atender à demanda que existe. O projeto queria mostrar a importância das embarcações oceanográficas para pesquisa”, completa. Além do Alpha Crucis, o IO adquiriu recentemente mais um navio para pesquisa de costa, o Alpha Delphini, que está sendo construído em Fortaleza e deve ficar pronto ainda este mês.

Desde o incêndio em 2008, o antigo navio oceanográfico do IO, Prof.W. Besnard, não pôde mais ser utilizado para pesquisa

Considerando os valores envolvidos, Mahiques acredita que todo o processo não demorou muito. Foram cerca de oito meses até a aprovação do projeto pela Fapesp, somados a 11 meses de reforma e mais um período para a nacionalização do Alpha Crucis: “Um navio usado, quando o passamos para a bandeira brasileira, tem as exigências praticamente iguais às de um navio novo. Tivemos que fazer modernização de equipamentos de navegação, compramos equipamentos científicos e guinchos novos. Além disso, tivemos que, por exemplo, trocar todo o forro do navio para um mais moderno, não inflamável, etc.”. O governo brasileiro, através das chamadas Sociedades Classificadoras, requisita que todas as embarcações acima de 500 toneladas sejam aprovadas pela Diretoria de Portos e Costas da Marinha do Brasil, através de fiscalização, para garantir sua segurança. Depois de todo esse processo, o Alpha foi liberado para utilização e chegou ao Brasil no mês de maio.

E o momento para a chegada do Alpha Crucis não poderia ser melhor, já que o instituto teve grandes dificuldades de dar prosseguimento nas pesquisas nesse intervalo desde o incêndio no Prof. W. Besnard: “Nunca deixamos de fazer trabalho na costa com barcos pequenos, mas trabalhos maiores ficaram na dependência de navios alugados ou outros tipos de embarcação. Alguns projetos tiveram que ser readequados para contornar essa falta”. Atendendo a uma necessidade fundamental do IO, o Alpha Crucis promete viabilizar grandes pesquisas no ainda misterioso Atlântico Sul.

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