comunidade usp

Arte documentada

  • Facebook facebook
  • Twitter twitter
  • AddThis mais
Aulas digitais e educação on-line

 

Gabriela Stocco

Artes visuais

No ano em que completa 30 anos, o CCSP expõe registros de performances da década de 1970

O Centro Cultural São Paulo (CCSP), inaugurado em 13 de maio de 1982, comemora 30 anos cumprindo seu papel de agregar diferentes atividades culturais, que vão do popular ao erudito. Durante o ano de 2012, o centro passa por revitalização de algumas áreas. No entanto, os espaços expositivos não foram afetados pelas reformas, e no mês de setembro o centro recebe duas exposições, “Obra e Documento – Arte/Ação e 3nós3” e a “II Mostra do Programa de Exposições 2012”, que você confere a seguir.

Na década de 1970 e início de 1980, os coletivos Arte/Ação e 3nós3 atuavam em São Paulo com proposições artísticas ousadas. Ambos se assemelham por performances artísticas feitas sem autorização, o que fazia com que durassem pouco tempo. Para preservar e documentar sua obra, os próprios artistas registravam suas proposições em fotografias, que agora estarão presentes na exposição “Obra e Documento – Arte/Ação e 3nós3”, no Centro Cultural São Paulo.

O grupo Arte/Ação, que atuou entre 1974 e 1977, era formado por Francisco Iñarra (1947-2009) e Genilson Soares, que faziam suas ações principalmente em espaços institucionalizados voltados para arte, como museus e salões, e se apropriavam de obras de outros artistas. Na ação Evento com a pedra Event, a dupla retirou clandestinamente a pedra Event da instalação Impresso sobre Rocha, do artista Chihiro Shimotani, e a levou para um “passeio” no entorno do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo, onde estava exposta.

Durante o “passeio”, foi produzida uma série fotográfica dotada de certa narrativa e depois a peça foi levada de volta para a instalação. “Eles fizeram essa ação, fotografaram e depois apresentaram ao diretor do MAC, que na ocasião era Walter Zanini. Incrivelmente, Zanini assimilou aquilo como obra e a apresentou em outras exposições, inclusive dentro do próprio MAC”, conta a curadora da exposição, Maria Adelaide Pontes.

Se por um lado, o Arte/Ação agia no contexto de espaços voltados para a arte, como museus, o coletivo 3nós3 agia, principalmente, em espaços públicos da cidade. Formado por Hudinilson Jr., Mario Ramiro e Rafael França (1957-1991), o trio atuou entre 1979 e 1982 com a ideia de aumentar o uso de espaços da cidade para propostas artísticas.

Jornal Notícias Populares traz matéria sobre monumentos ensacados

Em uma madrugada de 1979, o 3nós3 promoveu a ação Ensacamento, na qual encapuzaram com sacos plásticos cerca de 50 monumentos públicos da cidade de São Paulo. Adelaide comenta: “Em 1979, era um pouco delicado fazer isso. Mas eles não foram presos, pois conseguiram fazer toda a ação entre meia-noite e cinco da manhã”.

Além da apropriação do espaço público, o Ensacamento ainda revela outra característica do grupo: a ocupação da imprensa. Os membros do coletivo acreditavam que, além do registro fotográfico feito por eles mesmos, a cobertura de suas ações pela mídia era uma ótima maneira de eternizá-las. A curadora comenta: “Para que sua obra não se perdesse, além das fotos que eles fizeram, de manhã bem cedo os artistas ligaram para vários jornais e relataram os fatos anonimamente, como alguém da sociedade. Isso chamava atenção da imprensa e fazia as ações aparecerem nos jornais”.

Em outra intervenção durante a madrugada, chamada X Galeria, o grupo fez um lacramento simbólico com fita crepe na entrada de uma galeria, deixando um bilhete que dizia “O que está dentro fica, o que está fora se expande”. Adelaide explica que “trata-se de uma crítica institucional, um questionamento aos espaços destinados à arte”, já que defendiam a apropriação de espaços alternativos e públicos para esse fim.

Além de usarem estratégias parecidas, como performances e apropriações, a semelhança entre os dois coletivos se dá, portanto, na efemeridade e clandestinidade de suas obras, que foram registradas para não se perderem.

Curadora Maria Adelaide Pontes, que pesquisou registros artísticos

Adelaide conta que, embora fossem ações com caráter performático, em geral, não havia público no momento em que eram realizadas. Assim, a maior parte das pessoas conheceu os trabalhos por meio dos registros, pois só é possível acessá-los dessa forma.

A ideia de expor registros de performances dos grupos Arte/Ação e 3nós3 em conjunto surgiu durante pesquisas para a dissertação de mestrado de Adelaide, “A documentação nas práticas artísticas dos grupos Arte/Ação e 3nós3”, defendida no Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp): “Pensei em compartilhar essa documentação artística com o público e também levantar essa discussão de obra e documento, arte e registro, que ainda está em debate”.

 

Estátua encapuzada com saco plástico pelo grupo 3nós3, na ação Ensacamento

Obra e Documento – Arte/Ação e 3nós3
Data:
até 14/10
Horário:
terça a sexta, das 10h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h
Local: Piso Flávio de Carvalho – Centro Cultural São Paulo – R. Vergueiro, 1.000 – Paraíso – São Paulo
Mais informações: (11) 3397-4002

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores