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Arte sem filtro

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Por Ana Luiza Tieghi
O desenho de Cildo Meirelles, de 1976, é um dos cerca de 140 expostos na mostra “Fato aberto”

O desenho de Cildo Meirelles, de 1976, é um dos cerca de 140 expostos na mostra “Fato aberto”

Exposição na Pinacoteca apresenta 140 desenhos de seu acervo

 

O desenho pode ser considerado a forma de arte mais próxima do cotidiano das pessoas. Quem nunca se pegou rabiscando algo em um momento de tédio? Isso sem falar nos milhares de desenhos feitos na infância, quando esta arte representa uma importante maneira de expressar o que se está pensando e soltar a imaginação.

Em movimentos rápidos, a pessoa que desenha imprime no papel – ou em qualquer outro suporte que esteja utilizando – suas percepções sobre um tema ou um sentimento, uma sensação. De natureza diferente da pintura, o desenho é feito essencialmente para o momento. Não tem a pretensão de durar para sempre. Porém, algumas obras alcançam a perenidade mesmo sem pretendê-la.

Desenho de autor desconhecido que retrata cena do século 19

Desenho de autor desconhecido que retrata cena do século 19

A exposição “Fato aberto – o desenho na Pinacoteca do Estado” celebra essa forma de arte com a exposição de cerca de 140 desenhos, feitos entre 1820 e 1991. São 171 anos de história retratados em trabalhos feitos por mais de 60 artistas, entre eles: Wesley Duke Lee, Pedro Américo, Artur Barrio, Vicente do Rego Monteiro, Mira Schendel, Helio Oiticica, Victor Meirelles, Frans Krajcberg, Ivan Serpa, Flavio de Carvalho, Cildo Meireles, Benno Treidler, Henry Chamberlain e Alex Cerveny.

“O desenho tem uma questão do imediato, do gesto do corpo do artista sobre o papel, ele não tem tanto filtro”, afirma Giancarlo Hannud, curador da exposição. Porém, isso não significa que essas obras sejam menos importantes ou que não necessitem de um planejamento prévio do artista. “É imediata, mas não é algo rápido. O trabalho não está todo no momento do desenho, é uma vida inteira que leva aos 20 segundos de execução da obra”, explica Hannud.

Obras de Artur Barrio, ambas de 1972, que fazem parte do acervo da Pinacoteca e serão exibidas ao público

Obras de Artur Barrio, ambas de 1972, que fazem parte do acervo da Pinacoteca e serão exibidas ao público

“Fato aberto”, que se iniciou no dia 5 de dezembro e pode ser visitada até o dia 23 de março, faz parte do programa de exposições temporárias da mostra “Arte no Brasil: uma história na Pinacoteca de São Paulo”. O nome da exposição veio de um texto de Mário de Andrade, intitulado “Do desenho”. Nele, o autor exulta as qualidades desta forma de arte e afirma sua aproximação com a poesia.  “É certo que o desenho está pelo menos tão ligado, pela sua finalidade, à prosa e principalmente à poesia, como o está, pelos seus meios de realização, à pintura e à escultura”, escreveu o poeta, que sugere ainda que desenhos deveriam ser “lidos” como são as poesias, em livros.

A exposição está divida em quatro eixos: “Mapear o mundo”, “Corpo e personalidade”, “Os prazeres do ócio” e “Convite ao raciocínio”. O primeiro contém obras que utilizam o traço no papel como ponto de partida para entender o mundo. O segundo eixo envolve os retratos e desenhos que servem para refletir a personalidade e a estética de seus autores. Já “Os prazeres do ócio” aborda as obras que foram produzidas em momentos de relaxamento ou que passam essa sensação para o visitante. Neste eixo estão também os chamados “desenhos de telefone”, que são obras feitas sem muito raciocínio prévio, frutos de uma inspiração momentânea e muitas vezes distraída. Por fim, “Convite ao raciocínio” traz os desenhos que são exercícios intelectuais, com significações próprias e que levam o visitante à reflexão.

Durante a exposição, será vendido um catálogo com textos inéditos do escritor Bernardo Carvalho, da antropóloga e professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais (FFLCH) Lilia Moritz Schwarcz, do crítico Guy Brett e do psicanalista Tales Ab’Saber, além do  próprio curador da exposição, Giancarlo Hannud. Os quatro volumes do catálogo possuem capas feitas pelos artistas Rivane Neuenschwander, Jac Leirner, Tunga e Nicolás Robbio.

Cuidados especiais

DivulgaçãoExpor essas obras de arte exige cuidado e planejamento. A matéria prima dos desenhos, geralmente papel, é muito frágil. “É complicado mesmo de expor”, conta o curador. Uma iluminação forte demais, por exemplo, pode apagar traços do desenho e danificar as obras.  “O desenho não pode ficar muito tempo exposto, porque a luz vai acabar com ele, é inevitável”, explica Hannud.

Para essa exposição, Giarcarlo passou dois anos pesquisando o acervo da Pinacoteca, que conta com aproximadamente quatro mil desenhos. A seleção feita para a mostra visa apresentar uma interpretação ampla do material que pertence à instituição, tomando o cuidado de separar as peças com condições de serem expostas ao público. “O setor de restauro da Pinacoteca trabalhou em praticamente todos os papeis”, afirma. Mesmo as peças que não serão expostas passam sempre por manutenções e restaurações, para que não sejam perdidas pela ação do tempo.

Serviço

A exposição fica na Pinacoteca do Estado de São Paulo até o dia 24 de março. Os ingressos para visitação custam R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia) e também são válidos para a Estação Pinacoteca. Crianças menores de 10 anos e idosos acima de 60 entram de graça. Aos sábados, entrada é gratuita para todos os públicos. A Pinacoteca fica na Praça da Luz, nº 2 e funciona de terça-feira a domingo, das 10h às 17h30. Nas quintas-feiras a visitação ocorre até às 22h.

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