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Aulas digitais e educação on-line

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Aulas digitais e educação on-line

 

João Vitor Oliveira

Internet

De simples vídeos a cursos de graduação planejados, inovações tecnológicas trazem um novo modo de aprender

Por muito tempo, educação a distância (EAD) foi sinônimo de cursos por correspondência. Entidades do tipo, como o Instituto Monitor e o Instituto Universal Brasileiro, viveram seus anos de glória até meados da década de 90, com milhares de matriculados por mês e milhares de cartas recebidas por dia. Por volta da metade do século 20, até as Forças Armadas investiram no modelo, oferecendo aulas preparatórias pelo correio em diferentes áreas de atuação militar.

O cenário, no entanto, mudou. O aperfeiçoamento e a disseminação da internet trouxeram a EAD para o mundo digital e, hoje, cada vez mais brasileiros procuram cursos on-line, especialmente no âmbito do ensino superior. Dados do último Censo de Educação Superior, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) no final de 2011, mostram que eles já respondem por 14,6% do total das matrículas em graduação. De 2001 para 2010, o número de pessoas cursando a modalidade aumentou 170 vezes – de cerca de 5.300 estudantes no começo da década para mais de 930 mil ao final da mesma.

Mas a resistência a este tipo de ensino continua presente. Muito se argumenta que a ausência do contato olho no olho com o professor e a impossibilidade do convívio diário com os colegas de classe prejudicam a formação dos alunos, diminuindo a qualidade do curso. O superintendente de Tecnologia da Informação (Superintendência de Tecnologia da Informação – STI) e professor do Departamento de Física Experimental do Instituto de Física (IF), Gil da Costa Marques, não concorda com tal discurso. “Com base na experiência que temos na USP, o desempenho dos alunos dos cursos de EAD é semelhante ao dos cursos tradicionais”, declara, completando: “A qualidade de ensino é a mesma, seja o curso presencial ou via internet. É só fazer um balanço dos aspectos positivos e negativos da EAD que você conclui isso”.

Gil da Costa Marques, superintendente de Tecnologia da Informação

Marques é coordenador geral do convênio da USP com a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). A parceria, iniciada em 2010, oferece dois cursos semipresenciais na Universidade: Especialização em Ética, Valores e Saúde da Escola e Licenciatura em Ciências.

Conforme pontua Marques, um destes aspectos positivos é a questão do gerenciamento de horário. O aluno escolhe, durante a semana, a hora em que quer estudar. Ele assiste às vídeo-aulas e realiza as atividades on-line do dia no momento que julgar mais conveniente, sem precisar sair de casa e desperdiçar tempo com o deslocamento pela cidade. Isso facilita a vida de quem divide a dedicação aos estudos com o trabalho. Já aos sábados, é necessário ir ao polo do curso no campus para oito horas de aulas presenciais, com atividades que necessitam de uma interação maior ou para realização de provas – o curso é 48% presencial e 52% on-line.

O ritmo exigido do aluno também é muito importante. A realização das atividades diárias é necessária para que a pessoa tenha sua presença contada. “Eu leciono há 40 anos e tenho muita experiência com aulas presenciais. A gente sabe que boa parte dos alunos, um pouco antes das provas, passa noites estudando para ser aprovada”, explica Marques. “Essa não é uma boa forma de aprender. Ele vai esquecer tudo aquilo muito rápido.”

Mas um dos principais diferenciais é a questão do suporte ao estudante. Durante a semana, há tutores disponíveis a qualquer momento pela internet – um para cada trinta alunos – e é possível, ainda, agendar visitas aos polos dos cursos nos campi para resolver dúvidas. Além disso, toda a equipe de ensino – professores que preparam as atividades, tutores que resolvem dúvidas, etc. – de todos os polos reúne-se semanalmente, através de videoconferência, para fazer um diagnóstico das aulas: desenvolvimento dos alunos, o que precisa ser corrigido, entre outros tópicos. “Ao contrário do que muitos pensam, a relação professor-aluno é muito maior nesse caso do que na maioria dos cursos presenciais”, explica Enos Picazzio, coordenador do conteúdo de Astronomia do curso de Licenciatura em Ciências e docente do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG).

Em contrapartida, não se pode ignorar a importância de uma sala de aula. Em casa há filhos, televisão, cachorro, geladeira e diversas outras distrações. Na sala de aula, independentemente do que estiver acontecendo na vida do aluno, ele está ali, encarando o conteúdo. É necessário, assim, organizar-se para o estudo no domicílio. “Isso exige da pessoa uma maturidade que, para os jovens, geralmente é difícil. Por isso os cursos semipresenciais são mais procurados por pessoas de idade mais avançada”, comenta Picazzio. Boa parte dos alunos já são professores de outras áreas ou não tem título universitário.

Muito por conta disso, no próprio curso de Licenciatura em Ciências, por exemplo, cerca de 40% dos matriculados foram eliminados no semestre inicial devido à baixa frequência. Mesmo assim, Marques destaca a capacidade de aperfeiçoamento dos cursos. O superintendente explica que, do primeiro para o segundo ano, os estudantes passaram a entender melhor a proposta, e que hoje a taxa de evasão já se equivale a de cursos presenciais. “Você localiza onde estão os problemas e ajusta o curso em diversos pontos, melhorando a interface com o aluno.”

E-aulas e IPTV

Enos Picazzio, coordenador do conteúdo de astronomia do curso de Licenciatura em Ciências

Seguindo a linha do ensino a distância, a STI desenvolveu duas novas plataformas: o E-aulas e o IPTV – o segundo já estava em funcionamento desde 2007, mas entra neste mês em uma nova fase. Os sites chegam para ampliar o papel da internet no fornecimento de conteúdo universitário não só aos alunos, mas a qualquer um que se interessar em acessá-los.

O E-aulas (www.eaulas.usp.br) foi lançado em junho deste ano. Não se trata de um curso planejado, como no caso do programa USP-Univesp, mas sim de um acervo. Aulas filmadas na Universidade – sejam elas pertencentes aos cursos de EAD, gravadas por iniciativa própria de docentes ou para a própria plataforma – são reunidas e organizadas entre Exatas, Humanas e Biológicas.

“Como temos todo um acervo de vídeos, por que não disponibilizá-lo para quem quiser fazer uso?”, questiona o superintendente Marques. “A ideia é essa: colocar aulas da USP à disposição dos internautas, de forma que eles possam, ali, estudar cálculo, mecânica, e assim por diante.” Hoje, já são mais de 800 vídeos disponíveis e, até o final do ano, a estimativa é que se ultrapasse a casa dos 1.500.

O IPTV (www.iptv.usp.br) reúne gravações mais variadas, focando não só em aulas, mas eventos, palestras, entre outros acontecimentos da Universidade. Lançado em 2007, o projeto surgiu de pesquisa realizada por Regina Melo Silveira, pesquisadora no Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores (Larc) e professora do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais da Escola Politécnica (Poli). “É um sistema que permite transmitir e integrar TV com internet, utilizando a tecnologia IP, algo muito comum em universidades americanas”, comenta Regina. “A gente observou que muita coisa na USP não era documentada e, quando era, ficava separada em servidores distintos. Ninguém conseguia encontrar o que procurava com eficiência. O IPTV serve como mecanismo centralizador.”

Segundo Regina Silveira, os canais já eram utilizados, mas de maneira não muito organizada. Agora, será dada maior atenção a eles

A novidade para a nova fase do sistema é focar os esforços na produção de conteúdo 24h para cinco canais: TV USP, cultura, tecnologia, saúde e ciências. Os quatro últimos estarão sob responsabilidade, respectivamente, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Medicina (FMUSP) e Instituto de Física (Ifusp). Já o primeiro significará uma grade de programação exclusiva para a TV USP. “A diferença é que os canais universitários que utilizamos atualmente são compartilhados com outras universidades”, explica Anderson de Oliveira, chefe de Distribuição e Novas Mídias do canal. “Com o IPTV, teremos um pensamento de grade de programação própria, com mais agilidade de publicação e sem precisar esperar a hora prevista para colocar algo no ar.”

Para alimentar tudo isso, a Universidade já dispõe de dez Centros de Produção Digital (CPDigis) espalhados pelos campi e investe para que, até o final do ano, sejam 25.

Os Centros de Produção Digital possuem estúdio, sala de controle, sala de videoconferência e sala de aula inteligente com alta tecnologia

“Um curso, uma disciplina e um diploma não se fazem só de aulas. É necessário ter uma bagagem de conhecimento maior, e o IPTV contribui para isso”, destaca Regina. São, atualmente, mais de 8 mil vídeos postados no site.

Tanto o E-aulas quanto o IPTV são sites abertos para a comunidade externa à USP. É mais uma forma da Universidade contribuir com a sociedade. Conforme declara Gil da Costa Marques, “a USP é uma instituição pública e deve sempre se esforçar para melhorar a educação não só de seus alunos, mas do Brasil e da cultura científica do País. É uma das atribuições da Universidade. Nós vimos nos cursos digitais um meio de fazer isso”.

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