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Caminho alternativo para São Paulo

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Aulas digitais e educação on-line

 

Meio Ambiente

Iniciativas sustentáveis podem ajudar a maior metrópole latina, mas não resolvem problemas atuais com raízes históricas

Uma metrópole com as dimensões da cidade de São Paulo possui inúmeros problemas de difícil resolução. Alguns são estruturais que dependem de políticas públicas e contribuição da população, já outros são problemas circunstanciais que podem ser resolvidos mediante uma ou outra medida implantada no tempo correto.

Os grandes congestionamentos e a gravíssima poluição do ar da maior cidade da América Latina prejudicam todos os dias a vida do cidadão. Segundo dados da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), em 2011, o ozônio passou do limite aceitável em 96 dias na capital do Estado, o que não acontecia há oito anos. Em relação ao trânsito, em 2012, São Paulo chegou a registrar 249 km de congestionamento, no dia 23 de maio, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Para tentar amenizar esses problemas complexos, a Faculdade de Saúde Pública (FSP) realiza diversas pesquisas na área. Sandra Costa de Oliveira, mestranda da faculdade, faz uma pesquisa na área de educação ambiental com o projeto Educação ambiental para promoção da saúde com trânsito solidário.

Site utilizado para sistematizar a carona solidária

A iniciativa da chamada carona solidária consiste em compartilhar um automóvel que antes era usado por uma única pessoa com outras pessoas que realizam trajetos parecidos em um mesmo horário. Essa semelhança de horários e trajetos é algo comum em metrópoles com alta densidade populacional como São Paulo. A medida visa a diminuir o número de carros nas ruas da cidade e, consequentemente, abaixar o índice de poluição do ar e amenizar os problemas de saúde e dos congestionamentos.

Sandra acredita que direcionar esse tipo de ação para a área da saúde é essencial: “Estou levando a questão da carona para a área da saúde, porque acredito que a saúde deve ser exemplo. A partir do momento em que os trabalhadores dessa área perceberem que a situação é bastante grave, a disseminação de iniciativas sustentáveis será muito maior”.

Assim, a mestranda iniciou um projeto para implantar o sistema de carona solidária no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) por meio do site http://www.eco-carroagem.com.br/. O projeto encontrou dificuldades no início, já que os funcionários e colaboradores relutavam em aderir à iniciativa devido ao problema da segurança (havia muito receio em dar ou tomar caronas com desconhecidos). A solução encontrada para o problema foi oferecer a opção chamada corporate que adapta o sistema de carona apenas entre os funcionários do hospital, o que diminuiu a desconfiança inicial.

Sandra Oliveira realiza estudo pioneiro com carona solidária em uma instituição hospitalar

Maria Helena Sponton, coordenadora do Serviço de Humanização do Icesp, apoiou a iniciativa dentro da instituição: “Temos um comitê de sustentabilidade muito forte, trabalhamos sempre com vista à melhoria da qualidade de vida de todos. O Icesp recebeu o prêmio de sustentabilidade no ano passado (2011) e suas ações são levadas muito a sério por todos os colaboradores”.

A coordenadora ressalta a importância da iniciativa, mas admite que é necessário um período de adaptação: “Nada mais importante do que conscientizar os nossos colaboradores do que é a carona solidária e sua real importância, porém precisamos de um tempo maior para que todos entendam o processo”.

Ao final do projeto, Sandra pretende avaliar o que pode ter mudado com a iniciativa, preparando um artigo que abordará os benefícios como maior produtividade, maior interação entre os colaboradores do Icesp, entre outros. Avaliando tudo o que a carona solidária proporcionou.

Relação entre cidadão e cidade

Maria Cecília Pelicioni, professora associada do Departamento de Prática de Saúde Pública da FSP, trabalha na área de educação ambiental e explica que esse conceito educacional vai além do que realizar coleta seletiva, economizar água ou qualquer medida isolada do tipo: “A proposta da educação ambiental é que seja uma educação integral e formadora, que prepare as pessoas para cidadania ativa, ou seja, para que cada pessoa atue como cidadão”.

Devido à complexidade dos problemas ambientais, a professora apoia as iniciativas, mas não acredita que sejam suficientes: “É óbvio que a questão da carona solidária não resolverá a situação, ela irá minimizar o problema, sendo uma das alternativas viáveis para que essa situação se modifique”.

“A população está distante de ter a consciência de que a poluição do ar é um dos maiores problemas da cidade”, afirma Maria Cecília

O professor do Grupo de Disciplinas de Planejamento Urbano e Regional da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) Eduardo Cusce Nobre também valoriza as medidas, porém deseja que venham acompanhadas de projetos mais sólidos: “O problema do trânsito só pode ser solucionado pela iniciativa do Estado, não dá para ser resolvido por iniciativas individuais, apesar de serem válidas. Acredito que essas iniciativas poderiam estar muito bem inseridas dentro de uma política maior”.

Problemas como o da mobilidade urbana são históricos e precisam de mais atenção, é o que garante Nobre: “Na verdade, houve uma opção por uma política de circulação baseada principalmente nos meios individuais de transporte. Veja que dinheiro para grande obra viária nunca faltou, dinheiro para o metrô sempre falta”.

É notável também o descaso com diversas pesquisas realizadas para a melhoria dos problemas da cidade. “Fala-se muito na importância da educação, porém toda vez que é necessário verba para a pesquisa, a verba vai para todas as áreas e por último vai para a educação, o que é complicado já que qualquer proposta implica que o cidadão tenha educação ambiental”, explica Maria Cecília.

A falta de exposição de iniciativas como a da carona solidária na mídia ilustra o pensamento dos cidadãos. “A mídia reflete o que a sociedade pensa, de uma maneira geral. Se a sociedade ainda não acordou para essa problemática, a mídia também dará pouca ênfase a ela”. Maria Cecília acredita que é imprescindível ouvir a opinião dos cidadãos sobre a realização de pesquisas na área: “É importante ouvir a população, enxergar se as iniciativas vêm ao encontro de suas necessidades”.

Eduardo Nobre acredita que área do planejamento urbano é essencial para uma metrópole como São Paulo

Na área dos transportes, há que se repensar a estrutura da cidade e realizar medidas compatíveis com as características da maior metrópole do Brasil. “As cidades que são planejadas para transporte individual não têm a densidade urbana que tem São Paulo. Em Los Angeles, por exemplo, há uma malha rodoviária grande, mas a densidade populacional é baixa. Claro que vai existir congestionamento, porém será uma ocorrência mais distribuída. Além disso, o transporte público é uma alternativa bem melhor por lá”, explica Maria Cecília.

O professor da FAU não deixa de destacar a responsabilidade que as administrações da cidade possuem  com relação a esses problemas. “Não é por falta de planos que São Paulo não é melhor”, afirma.
Para seguir caminhando em busca de soluções para a cidade, é necessário um esforço conjunto entre cidadãos. “Nenhuma área ou setor sozinho dá conta de resolver essa situação. Os conhecimentos a respeito dessas questões são cada vez maiores e mais complexos, portanto, a gente precisa da somatória de vários saberes, a gente precisa da participação de pessoas com formações diferentes para que as coisas realmente possam ser solucionadas”, garante Maria Cecília.

2 comentários sobre “Caminho alternativo para São Paulo”

  1. Ieda Borges disse:

    Parabens a Sandra Costa Oliveira pela iniciativa do site Carona Solidaria. Sucesso.

  2. Alvaro José disse:

    Parabens para a mestrante Sandra e seus mestres pelo trabalho de pesquisa. O assunto “carona solidária” é complexo, mas acredito que divulgação como essa servem para ampliar e estreitar o entendimento, desmonstrando que essa simples ação pode e muito contribuir para a melhoria do transito.

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