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 Celestino em reunião do grupo de trabalho da Associação Internacional de Túneis, em foto de 2007, em Praga. O brasileiro coordenou esse grupo entre 2005 e 2010

Celestino em reunião do grupo de trabalho da Associação Internacional de Túneis, em foto de 2007, em Praga. O brasileiro coordenou esse grupo entre 2005 e 2010

Professor, engenheiro e editor, Celestino acumula funções e sucessos em sua carreira

O professor da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) Tarcísio Barreto Celestino recebeu o Prêmio Manuel Rocha, concedido pela ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) a cada dois anos. A associação premia um profissional que tenha se destacado na área da geotecnia, onde são estudados a mecânica dos solos e das rochas, essencial para obras da engenharia civil. O prêmio é mais um reconhecimento recebido por Celestino, que coleciona êxitos em sua vida profissional.

Natural de Juazeiro do Norte, no Ceará, mas tendo passado a infância em Barbalha, uma cidade do interior do Estado, o engenheiro cresceu em um ambiente tranquilo, sem acesso a tecnologias, onde a imaginação e a curiosidade produziram um grande efeito. As brincadeiras de construção de pilhas e foguetes com seus primos e irmãos e a influência de um pai que sempre comentava os assuntos nacionais e salientava a necessidade de bons engenheiros no País contribuiu para que o gosto pela engenharia se firmasse no menino.

O acesso a uma boa educação foi um fator importante para que o garoto continuasse desenvolvendo suas habilidades. Ainda em Barbalha, ele estudou em um colégio considerado muito bom para a época. Mas houve um momento em que uma mudança drástica foi necessária. Aos 15 anos, prestes a começar o ensino médio, o garoto veio sozinho para São Paulo estudar no Rio Branco. “Confesso que a adaptação foi até mais fácil do que eu pensava. Mas é claro que para um adolescente de 15 anos vir para uma cidade tão grande, sempre existem os choques de todas as ordens”, conta Celestino.

Sair de uma cidade com aproximadamente 7 mil habitantes para morar em uma capital de outra região, milhares de vezes maior, não causou tanto medo quando a mudança de escola. “Meu maior receio na época era a adaptação a um colégio grande. A manhã em que cheguei a São Paulo não foi tão assustadora quanto entrar no colégio Rio Branco”, relembra.

Sem as facilidades tecnológicas de hoje em dia para atenuar a distância entre sua nova cidade e a antiga, Celestino conta que o primeiro semestre na capital foi o mais difícil. “Eu contei os dias para voltar, nas férias, pra casa. A falta da família, da namorada que eu tinha lá, tudo isso foi muito duro no início.” Porém, com o tempo e as novas amizades, a capital paulista e a nova escola acabaram se tornando amigáveis.

Formação na engenharia

Seu próximo passo foi entrar para a Escola Politécnica, onde inicialmente pensava estudar Engenharia Mecânica. Mas com as aulas do ciclo básico, seus interesses pela física e eletricidade fizeram-no optar pela graduação em Engenharia Elétrica, que era muito concorrida naquela época. “Só que nas férias entre o primeiro e o segundo ano, me veio um clique de que eu queria fazer Engenharia Civil, não Elétrica”, lembra. Sem medo de arriscar, ele fez de tudo para conseguir a transferência para Engenharia Civil, onde se encontrou.

Em 1971, quando estava em seu quarto ano, foi convidado para estagiar na Themag, uma empresa de engenharia muito reconhecida. Celestino ainda voltaria a trabalhar na empresa depois de formado, quando regressou de um período vivendo nos Estados Unidos, onde fez seu mestrado e doutorado na Universidade de Berkeley, na Califórnia.

Roy W. Carlson assinando a tese de doutorado do brasileiro, na Universidade de Berkeley

Roy W. Carlson assinando a tese de doutorado do brasileiro, na Universidade de Berkeley

“Quando eu cheguei a Berkeley, em 1976, a pós-graduação na USP e em particular no Departamento de Estruturas e Fundações da Poli, onde eu havia iniciado o mestrado, ainda engatinhava”, ressalta. Fazer a pós-graduação fora do Brasil era na época a melhor opção e possibilitou grandes experiências para o engenheiro. “Foi algo que realmente marcou a minha vida”, conta. Quando iniciou seus estudos em Berkeley, o Departamento de Engenharia Civil da universidade havia sido premiado como o melhor dos Estados Unidos, lugar que tradicionalmente pertencia ao MIT (Massachusetts Institute of Technology). O departamento atraía além de ótimos professores, pessoas de todo o mundo.

Berkeley também possuía uma cultura muito interessante. Durante a Guerra do Vietnã, foi um polo de resistência às atitudes adotadas pelo governo americano e recebeu personalidades que lutavam contra o conflito, como Bob Dylan. “Berkeley foi uma espécie de reduto dos pacifistas. Tive a chance agradável de ver certos resquícios disso”, lembra Celestino.

A convivência com pesquisadores renomados era constante naquela época. Um bom exemplo foi o dr. Roy W. Carlson, engenheiro já aposentado mas que frequentemente regressava à universidade para ver seus colegas. Nessas ocasiões, ele levava todos para um almoço e Celestino esteve entre seus convidados. Carlson participou da construção da bomba atômica, tendo resolvido um problema mecânico na casca do explosivo. Ele também conviveu com Einstein e contava histórias sobre o famoso cientista. “Ouvir em primeira mão um depoimento do Einstein era uma coisa que causava um calafrio. Mas ter convivência com pessoas desse tipo foi altamente gratificante”, afirma. Carlson foi convidado para ser membro da banca de doutorado do brasileiro, um motivo de grande honra para o professor da EESC.

Celestino passou quase cinco anos em Berkeley e lá nasceram dois dos seus três filhos. Ao retornar ao Brasil, voltou a trabalhar na Themag, onde está até hoje, atualmente como gerente de engenharia civil. A empresa proporcionou um grande aprendizado para o engenheiro, que pôde conviver com professores da Poli e outros profissionais reconhecidos que atuavam como consultores. “Muitas dessas pessoas moldaram minha profissão”, afirma.

Um profissional com muitas funções

O professor da EESC foi considerado um dos dez mais produtivos da instituição, devido ao grande número de orientandos de mestrado e doutorado que possui. Para que isso seja possível, afirma passar mais tempo do que o obrigatório envolvido nas questões da Universidade. Além do trabalho na Themag e na USP, é editor associado da revista Tunnelling and Underground Space Technology e colabora com outras publicações. Mas tantos compromissos possuem um preço alto. “Isso realmente não poderia acontecer sem o sacrifício de um lado, e o lado sacrificado dessa história foi minha família”, conta. Celestino afirma ser muito grato ao apoio que recebe de sua mulher e dos filhos, e fala com orgulho das habilidades musicais dos mais velhos. “Um toca piano e o outro toca violão bastante bem.”

O próprio engenheiro já teve sua passagem pela música, integrando o CoralUSP durante sua graduação na Poli. “Foi uma experiência muito agradável. Eu peguei uma fase do Coral descompromissada, mas de grande qualidade. O maestro Benito Juarez ensaiava e regia nossos ensaios”, relembra.

Visão sobre a engenharia hoje

Celestino (segundo da esquerda para a direita) ainda criança, com seus pais e irmãos

Celestino (segundo da esquerda para a direita) ainda criança, com seus pais e irmãos

A engenharia civil ganhou destaque nos últimos anos no Brasil, principalmente devido aos grandes eventos que ocorrerão aqui nos próximos anos, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Isso causou uma grande expectativa, como conta o professor: “Momentaneamente parecia que o País se voltava para finalmente entender as deficiências de infraestrutura e que isso se refletiria em grandes contratações na engenharia civil. Mas, passados alguns anos, parece que o que se vai fazer de infraestrutura não é tão significativo assim”.

A falta de incentivos para que se invista em ciência e tecnologia é outro ponto que o professor critica. “Todos nós sabemos que hoje, para doar dinheiro para cultura e arte, existem todos os incentivos fiscais. Mas se alguém tenta fazer isso para a ciência e tecnologia, não há incentivo nenhum.” Celestino também aponta que a cultura de doação de recursos privados para universidades, como acontece nos EUA, poderia ser uma forma de melhorar a qualidade estrutural das instituições de ensino.

O engenheiro acredita que investir na formação de profissionais de qualidade e na infraestrutura da nação é um grande passo para melhorar a qualidade de vida no Brasil. “Uma melhora da infraestrutura não faz bem só para a engenharia civil, faz bem à economia do País como um todo. Melhora-se fundamentalmente a distribuição de renda, que é a base para o desenvolvimento de um país”, afirma.

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