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Estresse no trabalho

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Escolha sem peso

 

Por João Vitor Oliveira

ReproduçãoMundo globalizado aumenta pressão sobre trabalhadores e causa problemas de saúde e psicológicos

Claudio Roberto Cernea, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina (FMUSP), é um médico experiente. São 32 anos trabalhando com cirurgias de cabeça e pescoço e operando pacientes portadores de cânceres graves. Três décadas ensinando e formando novos cirurgiões e passando seu conhecimento sobre o tema.  Ainda assim, ele confessa: “É, sem dúvida alguma, uma profissão estressante. Lidar com estruturas anatômicas onde a margem de erro é mínima tendo a vida de outra pessoa nas mãos coloca uma grande carga de pressão sobre o profissional”. Para ele, por mais que se procure manter a objetividade, o médico acaba criando vínculos com o paciente, se envolvendo com seus dramas. “Se estou fora do período de trabalho, tenho que estar ao alcance de alguma forma, pois a responsabilidade sobre a vida dos outros continua a mesma após o expediente.”

O estresse é um mal que atinge boa parte dos brasileiros. Pesquisas feitas no segundo semestre de 2012 pela Isma-BR (International Stress Management Association), associação que estuda o estresse e suas formas de prevenção, apontaram que 70% da população economicamente ativa do País sofre com os males causados pelo excesso de estresse. Foram mil executivos entrevistados em Hong Kong e mais oito países: Estados Unidos, Japão, China, Alemanha, França, Brasil, Israel e Fiji.

Cláudio Cernea, cirurgião e professor da FMUSP

Cláudio Cernea, cirurgião e professor da FMUSP

Muitos podem ser os motivos para isso, mas muitas vezes a maior parte deles se concentra no período de trabalho. Além de ocupar uma significativa parcela de tempo do dia, é nele que o indivíduo vai lidar com prazos, cobranças, pressão, sucessos e falhas, entre muitas outras coisas que mexem com o emocional de qualquer um.

Isso vale para praticamente qualquer emprego. Situações como a narrada por Cernea são, certamente, de muita pressão, e muitos outros cirurgiões devem se identificar com o que foi dito. Mas o estresse atinge as mais variadas ocupações, de corretores de imóveis e professores a arquitetos e pilotos de avião. Até líder religioso entra na lista. Apesar das especificidades ligadas a cada área, são as próprias condições de trabalho de um mundo cada vez mais globalizado, de uma maneira geral, que contribuem para que um grande número de pessoas sofra da doença.

ReproduçãoÉ no que acredita Sigmar Malvezzi, professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia (IP). “As novas tecnologias digitais colocam os fatos, acontecimentos e atividades em uma velocidade superior a capacidade dos trabalhadores”, declara. “É uma meta atrás da outra. A demanda de tarefas cresce rapidamente, de maneira contínua, e uma hora a pessoa acaba não conseguindo mais lidar com ela.”

Segundo ele, o trabalho responde às necessidades das pessoas cumprindo três funções: econômica, por produzir recursos; psicológica, por criar uma identidade para o indivíduo; e social, por viabilizar o sentimento de colaboração na sociedade, um sistema de trocas onde cada um cumpre seu determinado papel. “É importante que o trabalho esteja organizado de maneira a cumprir essas três funções”, explica. “O problema é que está cada vez mais difícil conciliá-las em um emprego.”

“O descanso é essencial. Se você tem um trabalho muito exigente e não tem nenhum tempo para descanso, é óbvio que vai ficar estressado.” – Sigmar Malvezzi

“O descanso é essencial. Se você tem um trabalho muito exigente e não tem nenhum tempo para descanso, é óbvio que vai ficar estressado.” – Sigmar Malvezzi

As inovações tecnológicas permitem ainda que as pessoas tenham o poder de resolver quase tudo sozinhas, de sua máquina. Isso distorce o valor da cooperação, da complementaridade no trabalho. “O indivíduo se isola e passa a ter uma visão de seu dever, não do todo. As pessoas, hoje, falam apenas da tarefa delas. Elas perderam os vínculos, as sinapses com as atividades de seus colegas”, comenta Malvezzi.

ReproduçãoE o relacionamento com os colegas é vital em qualquer emprego. A fragmentação das tarefas estimula o individualismo e cria um ambiente competitivo entre os trabalhadores, o que, aliado ao curto tempo para interagir, resulta em um comportamento antissocial. Isso é perigoso. Segundo o psicólogo, é na convivência com os outros que a pessoa constrói sua identidade. “Eu sei quem eu sou a partir de como me tratam, do discurso que empregam comigo. O outro serve como um espelho”, declara.

As consequências são sentidas no resto do dia. A curto prazo, sente-se dores de cabeça, insônia, falta de apetite. O estresse crônico, no entanto, causa aumento da pressão arterial, crises de angina que podem levar ao infarto, dores musculares, alterações na pele e outros problemas mais graves. O sistema imunológico fica vulnerável e uma série de doenças pode atingir a pessoa. A síndrome causa ainda complicações psicológicas: apatia, memória fraca, tiques nervosos, introspecção, desmotivação, entre outras. No Japão, único país que registrou níveis de estresse maiores que o Brasil no levantamento feito pela Isma-BR, quase 25% dos maiores de 20 anos já pensaram em se suicidar, segundo pesquisa publicada pelo governo do país em 2012.

ReproduçãoOs modos de lidar com a situação variam de pessoa para pessoa. Segundo Malvezzi, é muito importante constituir um núcleo afetivo com família e amigos que não tenha a ver com o emprego. “Temos que procurar ninhos na vida, onde possamos, por um momento, nos desligar do trabalho”, explica. “Nós somos seres afetivos, mas não produzimos afeto para nós mesmos, e sim para dar e receber dos outros.”

Ele comenta ainda a necessidade de se encontrar coisas, no dia a dia, que produzam prazer interior. Sobre isso, faz um depoimento: “Ontem eu cheguei de Belo Horizonte estressado. Passei 5 cinco horas durante a manhã em reunião, depois peguei avião. Cheguei em casa e sentei um pouco para tomar água. Liguei a televisão e estava passando um concerto da Criação de Haydn numa versão na Catedral de Saint Denis, em Paris. Maravilhoso aquilo. E fiquei com a alma tão cheia que por uma hora nem sabia se estava no céu ou na terra”.

As dez profissões mais estressantes em 2013

O site americano CareerCast divulgou uma lista das profissões que devem ser as mais estressantes em 2013.

1. Militares alistados
2. General militar
3. Bombeiro
4. Piloto de avião comercial
5. Executivo de Relações Públicas
6. Executivo corporativo sênior
7. Fotojornalista
8. Repórter de jornal
9. Motorista de táxi
10. Policial

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