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Sem distâncias para aprender

 

Francisco EmoloProfessor do IF ganha título internacional por suas contribuições em Física Nuclear

 

Segundo dados da revista Nature, o investimento anual em pesquisa no Brasil chega a R$ 59,4 bilhões, com a maior parte vinda da iniciativa pública. Tais incentivos ultrapassam 1% do PIB brasileiro, e são importantes para que a participação do País no cenário científico internacional cresça, por meio de artigos em publicações renomadas, intercâmbios, ou prêmios obtidos por brasileiros. Nesse contexto, o físico Mahir Saleh Hussein, professor do Instituto de Física da USP (IFUSP), foi recentemente nomeado fellow da APS (American Physical Society), organização que conta com mais de 50 mil associados, além de ser responsável por dezenas de revistas científicas (entre elas, a Physical Review, uma das mais antigas publicações na área). O título de fellow é concedido pela APS àqueles cuja pesquisa em Física tenha se destacado, e representa o reconhecimento da comunidade científica, já que, para se tornar fellow, é necessário que o candidato receba cartas de recomendação de seus pares. “Eu sei que as cartas que mandaram a meu favor foram muito fortes, e deu certo. Fico contente”, diz Hussein.

Professor recebendo diploma, em 2012, após proferir a palestra de abertura no Congresso Nacional Iraquiano de Física na Universidade de Babil-Iraq

Professor recebendo diploma, em 2012, após proferir a palestra de abertura no Congresso Nacional Iraquiano de Física na Universidade de Babil-Iraq

O professor conta que obter esse título é muito difícil para pesquisadores de fora dos Estados Unidos. Em 2014, além do próprio Hussein, a APS escolheu apenas mais um nome vindo de outro país. “Há muita competição porque, para os americanos, ganhar essa nomeação implica em abrir portas para conseguir verba do governo de forma mais fácil”, diz. “É gratificante ver que, mesmo aposentado, mesmo depois de chegar aos 70 anos, nós continuamos sendo reconhecidos como pesquisadores produtivos.”

Hussein nasceu em Bagdá, no Iraque, no ano de 1944, e lá passou a infância e parte de sua juventude. “Foi uma infância muito boa, muito tranquila. Tinha uma família razoavelmente grande, éramos seis pessoas: meu pai, minha mãe e quatro irmãos e irmã”, conta. Ele afirma se lembrar da Revolução de 1958, que alterou o sistema de governo no Iraque, indo da Monarquia à República. Enquanto o país passava por profundas mudanças, o mesmo ocorria na vida do professor, que nessa mesma época teve de lidar com o falecimento do irmão mais velho. “Isso me marcou bastante”, lembra ele.

 

Física: uma escolha inesperada

 

Hussein com a família em Bagdá, no ano de 1952. O físico (o primeiro da esquerda para a direita) deixaria o Iraque em 1966, para completar sua formação no MIT

Hussein com a família em Bagdá, no ano de 1952. O físico (o primeiro da esquerda para a direita) deixaria o Iraque em 1966, para completar sua formação no MIT

Depois da morte do irmão, Hussein passou a se concentrar ainda mais nos estudos. Ele afirma que no ginásio já se interessava por matérias do campo de exatas, como matemática e física, mas que também gostava bastante de inglês e literatura, já que seu pai havia feito especialização em Literatura Inglesa na Inglaterra, e, à época, lecionava a língua na Universidad de Bagdá.

O professor conta que, no Iraque, ao terminar os estudos, era necessário que o aluno prestasse um exame para ingressar na faculdade (algo como o vestibular brasileiro). Entretanto, Hussein não foi tão bem-sucedido nesse teste. “Minha família queria que eu fizesse Medicina ou Engenharia, mas com minhas notas não consegui entrar em nenhuma das duas. Fiquei muito sentido, queria até repetir o último ano de ginásio”, diz. Então, Hussein precisou escolher entre as disciplinas para as quais obteve nota, e acabou ingressando em Física na Universidade de Bagdá no ano de 1961. Embora não fosse o que ele queria a princípio, o tema foi lhe conquistando aos poucos. “Acabei gostando muito de Física gradualmente, durante a faculdade.” E Hussein se interessou tanto pela área que, ao se graduar, em 1965, foi escolhido Primeiro Graduado da Faculdade de Ciências da Universidade, recebendo o prêmio das mãos do próprio presidente do Iraque.

Depois de graduado, Hussein permaneceu mais um ano em Bagdá, trabalhando como assistente de laboratório e dando aulas práticas. Durante esse tempo, passou a enviar cartas solicitando vagas em universidades no exterior, até receber uma bolsa do renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. “Aí pronto, pra mim foi a solução de tudo”, brinca.

Hussein estudando nos jardins da Universidade de Bagdá, em 1962. O professor se graduaria em 1965, ganhando o título de Primeiro Graduado na área de Ciências

Hussein estudando nos jardins da Universidade de Bagdá, em 1962. O professor se graduaria em 1965, ganhando o título de Primeiro Graduado na área de Ciências

Assim, em 1966, Hussein viajou para os Estados Unidos e iniciou sua pós-graduação no Departamento de Física do MIT, onde também concluiu seu doutorado, no ano de 1971. Ele conta que, a princípio, estudou Física experimental, mas depois de um tempo decidiu focar suas pesquisas no campo teórico, já que sua intenção era retornar um dia ao Iraque, onde não havia laboratórios que suportassem grandes experiências. “Então, comecei a trabalhar na área de teoria de reações nucleares, e até hoje essa é minha especialidade”, diz.

Chegada à USP

 

Próximo de concluir seus estudos no MIT, Hussein foi convidado a vir para o IF pelo professor Antonio Piza, atualmente professor do instituto e que à época concluía seu pós-doutorado no MIT. “O prof. Piza me disse que estavam construindo um novo laboratório aqui no IF. Então pensei: por que não?”, lembra Hussein.

Dessa forma, Hussein começou a lecionar na USP em 1972. Ele conta que, ao chegar ao Brasil, teve um pouco de dificuldade com o idioma. “Cheguei aqui sem saber absolutamente nada de português”, diz. No início, ficou alguns anos dando aulas na pós-graduação apenas em inglês, até que assinou seu primeiro contrato com a Universidade em 1975, e, a partir daí, foi obrigado a lecionar em português. “Era difícil, eu não sabia muito o vocabulário, e os alunos ficavam lá dando risada, dormindo”, lembra. “Mas com o tempo eu aprendi. Não fiz nenhum curso de português, aprendi no dia-a-dia, assistindo à televisão.”

 

Décadas de uma trajetória premiada

 

Hussein (primeiro à direita) com colegas em seu primeiro ano da Graduação em Bagdá

Hussein (primeiro à direita) com colegas em seu primeiro ano da Graduação em Bagdá

Depois de 35 anos lecionando na USP, Hussein se aposentou em 2007. Ao longo desse tempo como professor, ele já ministrou mais de 60 cursos, seja na graduação ou na pós-graduação. Hoje, o físico atua como professor visitante no Instituto de Estudos Avançados (IEA). Embora não lecione mais no IF, Hussein ainda frequenta sua sala no Instituto quase todos os dias, trabalhando em uma série de projetos de pesquisa com seus colaboradores, tanto os daqui como os de outras universidades. O professor também organiza eventos no Brasil e no exterior: no ano passado, deu palestras na Turquia e na Austrália, e, recentemente, foi convidado a ministrar um curso de pós-graduação no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos, para onde viaja toda semana. “É uma vida boa: fazer pesquisa, viajar, organizar eventos, encontrar amigos e colegas, e produzir trabalhos de qualidade, reconhecidos”, diz.

Ao longo da extensa vivência científica, o professor coleciona prêmios e honrarias. Além da recente premiação como fellow da APS, Hussein também destaca sua nomeação como Martin Gutzwiller Fellow, programa do instituto alemão Max Planck que lhe permitiu uma estadia de um ano na Alemanha. “É uma bolsa de muito prestígio, que dá uma grande liberdade para pesquisar.” O professor também já lecionou como visitante em várias universidades do exterior, como na Universidade de Wisconsin, Universidade de Michigan, Universidade de Harvard e no próprio MIT.

Em novembro de 2014, Hussein completou 70 anos de vida, e um simpósio foi organizado em sua homenagem por membros do IF. “Eles contataram vários colegas e colaboradores para virem ao simpósio. Foi bacana”, lembra.

O Brasil no exterior

 

Hussein com colegas durante simpósio realizado em homenagem aos seus 70 anos

Hussein com colegas durante simpósio realizado em homenagem aos seus 70 anos

Diante de toda sua vivência internacional, Hussein elogia o apoio à pesquisa no Brasil. “Quem quer pesquisar tem todas as condições para conseguir a verba que precisa”, diz. O professor ressalta que, em países como os Estados Unidos, o financiamento vem junto com algumas restrições, o que não acontece por aqui. “Nos Estados Unidos, por exemplo, quem financia geralmente indica alguma preferência sobre o tipo de pesquisa que eles querem apoiar, e isso deixa os pesquisadores um pouco mais restringidos.”

Hussein destaca também a importância do intercâmbio de professores brasileiros no exterior, aumentando o reconhecimento das universidades e profissionais do País lá fora. “Através desse contato, os estrangeiros percebem que, primeiro, o apoio para ciência e pesquisa no Brasil é muito bom; e segundo, que há pesquisadores no Brasil que tem perfil tão qualificado quanto qualquer outro.”

A vida além da Física

 

Atualmente, além de trabalhar em projetos de pesquisa com seus colaboradores, Hussein também ministra palestras no Brasil e no exterior. Na imagem, o físico se apresenta durante congresso internacional em Antália-Turquia, realizado em setembro de 2014

Atualmente, além de trabalhar em projetos de pesquisa com seus colaboradores, Hussein também ministra palestras no Brasil e no exterior. Na imagem, o físico se apresenta durante congresso internacional em Antália-Turquia, realizado em setembro de 2014

Além de acumular suas funções na USP e no ITA, escrever com seus colaboradores e organizar eventos no exterior, Hussein afirma que, em seu tempo livre, gosta muito de ler e assistir a documentários na televisão. Mas não necessariamente relacionados à Física. “Eu gosto de coisas sobre História, como as Guerras Mundiais ou o fim da ditadura no Brasil nos anos 1980. Também gosto de ler autobiografias”, diz.

Casado com uma brasileira e professora de Psicologia, Hussein tem dois filhos: Omar e Leila. Omar estuda administração e atua no ramo de restaurantes. O rapaz nasceu nos Estados Unidos e trabalhou no país até 2011, mas hoje vive com o pai no Brasil. Já Leila é formada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU-USP), e atualmente trabalha como arquiteta em Munique, na Alemanha. Os filhos de Leila, netos de Hussein nascidos na Alemanha, falam frequentemente com o avô por Skype. “Às vezes eu fico falando com eles em alemão, aí sai com sotaque e eles riem de mim”, brinca.

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