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Mais atenção aos desastres naturais

 

Por Lucas Tomazelli

perfilJosé Goldemberg

José Goldemberg atuou como grande cientista e alcançou cargos importantes como reitor da USP e ministro da Educação

Uma trajetória de sucesso que culminou no estudo da área de energia renovável deu a José Goldemberg, ex-reitor da USP e ex-ministro da Educação, o Prêmio Zayed de Energia do Futuro na categoria Life achievement (que leva em conta toda a carreira do indivíduo). O prêmio, que em outros anos consagrou estudiosos da energia fotovoltaica e eólica, laureou a bioenergia no ano de 2013.

Segundo Goldemberg, receber o prêmio foi uma grande surpresa: “Eu realmente não esperava. Acredito que a importância desse prêmio seja o reconhecimento do sucesso que o Brasil teve em abrir uma nova frente na questão energética com a bioenergia”.

Osvaldo J. dos Santos

Em 1991, Goldemberg recebe título de Professor Emérito da USP

José Golbemberg é gaúcho, nascido na cidade de Santo Ângelo no ano de 1928. A educação foi muito valorizada desde a infância devido à sua origem: “Naturalmente, em uma família judia, a educação é muito importante e na cidade em que nasci não havia muitas oportunidades educacionais”. Mudou-se com a família para Porto Alegre, onde realizou o ensino fundamental e médio no Colégio Estadual Júlio de Castilhos: “A escola tinha sido instalada pelos militares e contava com influências positivistas muito boas. Logo de cara, uma professora achou que eu tinha uma vivacidade diferente e que podia ter sucesso em meus estudos”.

Pensando no ensino superior, Goldemberg mudou-se para São Paulo com a família de novo em busca de melhores oportunidades de ensino. Fez vestibular e foi aprovado para estudar Química na USP, onde percebeu que a área pela qual se interessava era outra: “Fiquei um ano na Química e percebi que queria estudar a estrutura da matéria, que é analisada na Física”. Transferiu-se para a Física e completou o curso. O ex-reitor aponta o diferencial da Universidade na época: “A USP possuía professores estrangeiros que estavam a par dos acontecimentos científicos modernos”.

Arquivo pessoal

A atuação na Rio-92 rendeu prêmios ao cientista

Já no terceiro ano do curso de Física, Goldemberg iniciou o que na época seria equivalente a uma bolsa de iniciação científica: “Comecei a trabalhar na área de física nuclear. Em São Paulo estavam sendo instalados dois aceleradores nucleares e eu então entrei no grupo de um deles e ajudei na instalação”. Após o término do curso, o gaúcho percebeu que teria que ir a outro lugar para buscar mais oportunidade de pesquisas: “Em 1950, quando me formei, o acelerador começou a funcionar e iniciamos as pesquisas. Mas achei que aqui as oportunidades eram limitadas e fui atrás de uma bolsa no exterior”.

O professor americano David Bohm conseguiu uma bolsa para Goldemberg no Canadá, onde o físico permaneceu por mais de um ano. “Essa estadia teve um grande sucesso porque nós conseguimos fazer muitas pesquisas com o professor canadense Leon Katz.” O resultado foi quase que imediato: “O laboratório em que eu trabalhava se tornou internacionalmente conhecido em apenas um ano. Resolvi seguir aprimorando ainda mais meus estudos indo para a Universidade de Illinois, nos EUA. As diferenças entre o exterior e o Brasil eram, principalmente, os professores e a infraestrutura disponível”.

Arquivo pessoal

Goldemberg destacou-se por anos em seu trabalho no IF

Goldemberg regressou ao Brasil em 1954 e seguiu carreira de professor da USP no Instituto de Física (IF). “Fiz doutorado e livre-docência e aí trabalhei durante oito anos fazendo pesquisa.” Novamente contrariado pela falta de estrutura, acabou saindo do País: “Como meus trabalhos anteriores me deram uma qualificação boa, fui convidado para a Universidade de Stanford (EUA) para realizar pesquisas com equipamentos de vanguarda”. O físico brasileiro permaneceu por dois anos e aprendeu muita coisa: “Um dos professores com os quais eu trabalhava tinha acabado de receber o Prêmio Nobel com um acelerador linear, que era o melhor dos instrumentos para se realizar pesquisa naquela época”.

Quando regressou ao Brasil, encontrou uma infraestrutura melhor e “o acelerador com o qual queria trabalhar”. Na sequência, o professor recebeu um convite irrecusável: “Fui convidado para ser docente da Universidade de Paris, onde havia um acelerador do mesmo tipo de Stanford, porém ainda maior”. Segundo ele, havia outro motivo para nem pensar em declinar do convite: “O contato de minha nomeação foi assinado pelo general De Gaulle (renomado general e primeiro presidente da Quinta República Francesa)”.

Voltou ao Brasil, depois de um ano, por problemas pessoais e encontrou o País em uma fase extremamente turbulenta devido ao golpe militar realizado em 1964. Tornou-se presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF) e aí sim foi influenciado pela conjuntura política: “O problema era defender a ciência e os cientistas. Fizemos isso em condições muito difíceis”. Na SBF, o professor tentou trabalhar ainda mais em prol do saber científico: “Nós não conseguimos evitar aposentadorias compulsórias e nem demissões de alguns professores, porém conseguimos reduzir o impacto de algumas dessas medidas”.

Porém, em 1970, os próprios militares realizaram uma reforma interessante para a área acadêmica. “A intenção daquela reforma era difícil de avaliar. Ela basicamente extinguia as cátedras e criava institutos nas universidades.” Goldemberg havia feito concurso dois anos antes e tornara-se catedrático da Escola Politécnica: “Isso representava minha decisão de ficar no Brasil e lutar para melhorar as condições de trabalho no País”.

Reprodução

O gaúcho presidiu a Cesp antes de se tornar reitor da Universidade

Com a extinção das cátedras, ocorreu um fato interessante na vida do físico. “O professor Miguel Reale era reitor na época e tido como um dos grandes representantes do regime militar dentro da Universidade. Ainda assim, ele me nomeou presidente do IF. Cargo no qual eu permaneci durante oito anos.” O instituto se tornou local de resistência às medidas autoritárias. “Houve ocasiões em que representantes do sistema de repressão vieram falar comigo para identificar pessoas e entregar fichas de alunos que eles julgavam perigosos. E eu me recusei a entregar os dados e obtive apoio do reitor.”

Continuando os trabalhos na SBF, contou com o apoio do então senador Franco Montoro. “Nós nunca tínhamos nos ligado a nenhum partido político. Porém, na ocasião havia grandes debates sobre energia nuclear. Assim, tivemos uma atuação muito visível junto ao Congresso e contra o governo militar.” Já em 1982, com a volta da democracia, Montoro foi eleito governador do Estado de São Paulo e nomeou Goldemberg para a presidência da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), maior empresa de eletricidade da época. Foi esse cargo que fez o gaúcho se voltar para a área que trabalharia nos próximos anos: “Na Cesp me tornei um especialista em energia. Havia passado um tempo na Universidade de Princeton alguns anos antes trabalhando em energia. Tudo isso me interessava muito”.

Período como reitor

Tendo se destacado em todas as áreas em que atuou, Goldemberg foi escolhido como reitor da USP em 1986. “A minha escolha como reitor teve uma característica de varrer a presença da ditadura dentro da Universidade.”

Jorge Maruta

Ao lado do governador Franco, Goldemberg toma posse como reitor

Goldemberg conta que viveu grandes ocasiões no cargo: “Foi um período muito dinâmico, porque logo percebi que nós precisaríamos mudar o Estatuto da Universidade. O objetivo era ampliar um pouco a representação docente e a representação discente e dar um pouco mais de voz aos funcionários”. Porém, o ex-reitor faz uma ressalva: “Sempre fui e sou até hoje radicalmente contrário a gestões paritárias. Acho que as universidades são locais em que a qualidade é o primeiro dos imperativos de modo que não é possível que ela seja gerida como se fosse um grêmio estudantil ou um sindicato de operários. Ela é um órgão em que os melhores cientistas e os melhores professores precisam estabelecer a maneira pela qual a universidade é gerida. No entanto, isso não implica que seja menos democrática”.

Além disso, Goldemberg trabalhou em prol da autonomia econômica da Universidade: “Até então, as universidades estaduais eram como são hoje as universidades federais. Quer dizer, havia um orçamento que era insuficiente e quando se precisava de mais verba era necessário pedir para o governador ou para o ministro da Educação. Nós então atuamos junto com o governador Quércia, na ocasião, e conseguimos que a USP recebesse uma fatia do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e, de fato, olhando para trás, acredito que seja a coisa mais importante que consegui fazer no meu período como reitor”.

Naturalmente, houve muita oposição também a algumas de suas medidas: “Quando eu comecei a cobrar desempenho dos professores houve uma grande oposição. Isso, na ocasião, provocou resistência, mas acabou permitindo que a Universidade se tornasse hoje uma das 50 melhores universidades do mundo. Você olha as tabelas de evolução das publicações da USP e percebe a melhora”.

Cargos importantes e prêmios

Arquivo pessoal

Em 2002, Goldemberg foi escolhido como secretário do Meio Ambiente

Terminada sua gestão como reitor em 1990, Goldemberg foi requisitado para cargos públicos de extrema importância. Atuou como ministro da Ciência e Tecnologia durante o Governo Collor, sendo depois transferido para o Ministério da Educação. O presidente Collor indicou o físico para atuar na grande conferência do meio ambiente da época, a Rio-92. “Ficou evidente que meu conhecimento na área de energia era extremamente importante e compatível com a área ambiental.”

Em 2002, foi convidado pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para ser secretário do Meio Ambiente. “Disse ao governador que não era ambientalista e ele me disse para trabalhar onde eu conhecia, que era na origem do problema da poluição ambiental.” Segundo o gaúcho, o trabalho rendeu bons frutos: “Colocamos ordem no programa do álcool, as usinas pararam de jogar resíduos nos rios e introduzimos uma colheita mecanizada. O programa deixou de ser predatório para a cidade”. Goldemberg permaneceu no cargo durante cinco anos.

Por toda essa trajetória de sucessos, o físico obteve prêmios como o Blue Planet em 2008, que destacou sua atuação na Rio-92 e a nomeação pela revista Time como um dos 13 maiores visionários na área ambiental. Além disso, a Universidade de Tel Aviv, em Israel, criou uma cátedra com seu nome devido aos seus estudos na área de energia.

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