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Fernando Landgraf

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USP se destaca em rankings internacionais

 


O valor de ser pesquisador

O engenheiro atuou 32 anos no IPT e hoje é presidente do instituto que é referência em tecnologia no Brasil

Ser presidente de um orgão com mais de cem anos de história e com muita tradição como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) exige muita experiência e dedicação de quem ocupa esse cargo. Fernando Landgraf, mineiro de 58 anos, casado e pai de dois filhos teve sua vida voltada para o estudo da Engenharia Metalúrgica. Escolhido para ocupar o posto mais alto do instituto no mês de agosto deste ano, atua ainda como professor na graduação e na pós-graduação da Escola Politécnica (Poli).

Depois de um intercâmbio no último ano do ensino médio no Estado de Indiana, nos Estados Unidos, em 1971, Landgraf voltou para o Brasil sem se preocupar muito com o que faria na faculdade. “Quando voltei do exterior, prestei vestibular para Engenharia na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) apenas por conveniência, não foi uma decisão consolidada. Acabei aprovado.”

No ano de 1973, um pouco decepcionado com o curso de Engenharia, prestou vestibular para História e foi aprovado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Além disso, segundo o atual presidente do IPT, outros dois fatos marcaram esse ano de sua vida: “Fui diretor do Diretório Acadêmico da FEI e fiz um curso de introdução à Engenharia Metalúrgica com um professor que também trabalhava no IPT”. Landgraf atribui grande importância a esse curso: “Foi lá que conheci a pesquisa, não sabia que existia pesquisa em engenharia. O professor falava que era um desafio nacional, que tínhamos que ajudar o Brasil a avançar. Isso mudou minha vida”.

Seminário na Divisão de Metalurgia do IPT

Animado com as perspectivas de sua graduação inicial, largou o curso de História no terceiro ano e no quinto ano da graduação em Engenharia conseguiu um estágio no IPT: “O trabalho era na área de metalurgia. Essa experiência me mostrou que ser engenheiro era o que eu queria para a minha vida”. O IPT, embora seja um órgão ligado à Secretaria de  Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, possui diversas parcerias com a Universidade de São Paulo.

Em 1982, Landgraf foi fazer pós-graduação na Poli. Realizou um estudo voltado para materiais magnéticos, tema recente na época. “Na pós-graduação não havia professores que conhecessem profundamente o assunto por ser muito novo.” Apesar disso, teve auxílio essencial do professor Ronald Plaut, do Departamento de Metalurgia: “A metodologia que ele me ensinou foi muito interessante. Mostrou-me que as figuras e gráficos da tese têm que explicar o problema e suas conclusões”.

Na construção da tese de doutorado, Landgraf ampliou a sua visão: “Percebi que tinha que procurar o conhecimento do magnetismo no Instituto de Física (IF). Aprofundei-me na área me baseando nos conhecimentos que vinham da física”. No IF, conheceu e trabalhou sua tese com o professor Frank Missell, que viria a se tornar um grande companheiro de trabalho na Universidade.

Música era o passatempo do jovem estudante de engenharia

Em meio à pós-graduação, continuou como funcionário do IPT, com o qual manteve sempre uma relação estreita. “Fui funcionário do IPT de 1976 a 2005. Sempre concentrei meu trabalho na área de tecnologia, fugi da parte administrativa por anos.” O engenheiro sempre achou que sua maior contribuição seria como pesquisador.

Juntamente com Frank Missell, Landgraf começou a trabalhar com os superímãs de terras-raras, o que rendeu à dupla projetos na linha de desenvolvimento desse material. Em 1992, vieram os primeiros frutos: “Fechamos um contrato de transferência de tecnologia com a empresa Eriez, maior fabricante de ímãs do Brasil”. Na época, a empresa estava entrando no ramo dos ímãs de terras-raras e contou com os estudos de Landgraf e Missell para se firmar no mercado mundial. O contrato, que durou até 1995, foi fechado entre o IPT, o Instituto de Física e a empresa.

Quando a China entrou forte no ramo dos ímãs e enfraqueceu as empresas no Brasil, o pesquisador decidiu voltar-se, de novo na companhia de Missell, para demandas internas: “Nós discutimos qual era o material magnético mais consumido no Brasil. Descobrimos, então, o mercado enorme que os aços elétricos possuíam”.  O estudo desse material está ligado à conservação de energia, ou seja, refere-se à melhoria no rendimento dos motores elétricos. “Por dez anos esse tema de pesquisa foi nosso foco. Até hoje a área obteve vários avanços, mas ainda não chegamos ao ideal.”

Registro de admissão de Landgraf como funcionário do instituto

Os estudos de Landgraf e Missell resultaram em mais contratos importantes com grandes empresas: “Espero que tenhamos ajudado as empresas brasileiras com nossas contribuições. Firmamos importantes acordos com a Companhia Siderúrgica Nacional e com a multinacional Aperam”. O professor dá muito valor às parcerias firmadas como, por exemplo, a concretizada com a multinacional: “Participamos desse diálogo que eu reputo muito importante para a indústria brasileira. Nós discutimos e eles trabalharam muito bem no desenvolvimento”.

Apesar de ter desenvolvido um trabalho muito focado no relacionamento com a indústria, Landgraf não estava satisfeito: “Na minha opinião, as parcerias foram em menor número do que o necessário”. A complexidade dos trabalhos atrapalhava as negociações: “Não conseguíamos vender projetos com orçamentos que pagassem a mão-de-obra do IPT”. Mesmo não tendo atingido sua expectativa, a direção do instituto o respaldava: “Diziam que meu trabalho era relevante e que eu era o pesquisador com a maior produção científica do IPT. Mas eu me sentia incomodado, achava que a linha de pesquisa que escolhi não estava rendendo os frutos que o instituto precisava”.

Para sanar esse incomodo, o professor decidiu mudar de ares. Foi para a Poli trabalhar com os mesmos materiais magnéticos e vivenciou novas experiências: “Me aprofundei mais no lado científico do trabalho e em dois anos fiz o concurso para livre-docência”. Segundo ele, a construção de sua tese para atingir o posto de docente foi muito importante na sua vida: “Consegui organizar o trabalho que eu vinha fazendo e definir quais eram os próximos desafios”. Desde 2007 até hoje, Landgraf segue nesse viés mais científico de seu trabalho.

Dando aulas na pós-graduação da Poli desde 1996 e na graduação desde 2006, o professor mostra o seu prazer em dar aulas: “Gosto do diálogo que constrói, gosto de acompanhar o raciocínio dos alunos que são pequenas descobertas”. Ele releva um dos momentos que mais gosta quando exerce sua função de docente: “Gosto quando o aluno pergunta algo que não sei e aí temos que construir juntos. Esses momentos são emocionantes”.

Landgraf e seu filho Martin em uma festa no IPT, em 2003

Após sair do IPT, Landgraf também retomou um aspecto um pouco esquecido em sua vida, que era sua ligação com a história: “Atuando na Poli, tive a liberdade de tocar em um assunto que não é diretamente ligado à indústria, pude voltar a pensar na história da metalurgia, que é uma área muito rica”. Os objetivos do professor são claros: “Faço um esforço para disseminar o conhecimento dessa área. Espero fazer com que as pessoas saibam que, há 200 anos, no governo de d. João VI, por exemplo,  já havia um projeto de siderurgia muito bem articulado”.

Em 2009, o caminho do professor voltou-se novamente ao IPT. “Fui chamado para ser o diretor de Inovação do IPT. Era uma nova diretoria que o professor João Fernando Gomes (presidente da época) havia criado.” Gomes estava reorganizando o IPT, modificando os parâmetros de desempenho do instituto que se focavam excessivamente na parte financeira. Assim, Landgraf foi chamado para tentar mudar o panorama: “Eu que saí do IPT porque não tinha o maior rendimento financeiro e acabei sendo procurado para mudar isso. O presidente procurou o pesquisador com maior produção científica e me encontrou, nós nem nos conhecíamos”, revela.

Landgraf e Gomes trabalharam juntos de 2009 a 2012. Chegada a época da sucessão, Gomes não teve dúvidas. “Ele me convidou para assumir esse desafio da presidência do IPT, para continuar esse esforço na mudança de parâmetros.” O engenheiro que sempre fugiu da área administrativa conta porque aceitou o cargo: “Aceitei porque é um trabalho longo, não são três anos de trabalho que modificarão tudo o que pretendemos”.

Sobre as metas de sua gestão, Landgraf afirma: “Buscar projetos que juntem o IPT, a Universidade e empresas é um dos objetivos”. Além disso, estreitar ainda mais a relação do instituto com o governo do Estado de São Paulo é importante na sua opinião: “Trabalhamos muito para as empresas do governo e nós queremos que isso aumente”. Devido a essa relação íntima com o órgão estadual, o professor revela outros objetivos: “Precisamos quantificar o impacto e a relevância do trabalho do IPT para a sociedade e para a indústria, isso é muito importante”.

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